Análise | Detroit Become Human é um jogo onde as decisões REALMENTE são importantes

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Detroit Become Human é o mais novo exclusivo do PS4

Há anos o mundo dos games tenta criar uma narrativa onde cada jogador tenha a sua própria história. Embora a Telltale tenha feito um ótimo trabalho nos últimos anos neste quesito, aos poucos a fórmula que a empresa apresentava foi ficando batida, passada e manjada. Percebemos então que, na verdade, nem sempre as decisões tomadas nos games da produtora, tinham realmente o peso que poderiam ter. Assim, o gênero de games de aventura voltados para a narrativa e escolhas, foi caindo em descrença.

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Entretanto, a Quantic Dream vem há 5 anos trabalhando em um título que pode mudar este cenário. Seria este o verdadeiro jogo onde as decisões realmente pesam?

O Histórico da Quantic Dream

David Cage é um diretor de videogames diferenciado. Ele criou a sua própria empresa para ser capaz de contar histórias, criando jogos voltados totalmente para a narrativa. E isso é algo que ele vem fazendo muito bem desde Omnikron, no final dos anos 90. Mas onde a empresa realmente apareceu foi com Indigo Prophecy: Fahrenheit, em 2005. Este é um jogo que me marcou muito por conta da história e narrativa. Não era tão pesado nas escolhas, mas funcionava muito bem. Depois foi a vez de Heavy Rain, um game bem intrigante e envolvente que saiu para PS3. Aqui David Cage já mostrava que tinha muitas ideias para um jogo de diversas escolhas e consequências.

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Então veio Beyond Two Souls, onde as escolhas também não eram o foco. Assim, a maneira que ele encontrou de contar uma boa história foi com uma narrativa assíncrona. Não vejo Beyond Two Souls como um bom jogo, longe disso. Fiquei bem desapontado com o resultado final e na minha visão foi um retrocesso. O game tinha uma história confusa, sem graça e somente a jogabilidade com Aiden se salvava. Então chegou a hora de Detroit Become Human. A promessa é que este seria um game com tudo que havia de bom em Heavy Rain e Beyond, mas de uma forma muito, muito diferente.

Foco total na história

Se há uma coisa que Detroit Become Human tem é uma boa história. Somos encarregados de definir o futuro de três personagens: Kara, Markus e Connor. Cada um possui sua própria origem, desafios e narrativa, até que o universo os coloca em rota de colisão. Tudo muda na “vida” deles após algum evento traumático, capaz de fazê-los acordar. Desta forma, eles deixam de ser Androides comuns, com tarefas pré-programadas, para se tornarem divergentes. Kara e Markus seguem este caminho, enquanto Connor é uma espécie de caça divergente, trabalhando ao lado da polícia em busca dos Androides que acordaram e agora colocam o poder dos humanos em dúvida.

Kara precisa proteger Alice, uma pequena garotinha. Markus vê sua “vida” mudar de repente, após um evento fatídico. Assim, o jogo vai alternando entre estes três personagens em pequenos trechos da história que podem ser divididos em capítulos. Conforme vamos tomando nossas decisões, a história se molda até o ponto onde você consegue um final feliz, triste ou até mesmo encontra a morte para cada um deles.  É incrível como em pouco tempo, estamos ao lado dos Androides e contra os humanos.

A Morte é Permanente

Cada escolha tem um preço. Detroit coloca o jogador contra a parede em cada nova escolha. Algumas possuem pouco peso, fazendo a narrativa ir por um caminho A, B ou C. Outras são muito importantes, ao ponto de afetar o final do jogo. A história é tão bem ligadinha e cheia de surpresas, que é certamente um dos pontos que tomaram mais tempo de desenvolvimento. Afinal, tudo que você vê no fim, tem que ter encaixe no que você decidiu no começo. Assim, cada passo tem de ser analisado, imaginando o que vem depois. Só assim você conseguirá, ao menos, tentar manter os três personagens vivos.

Desta forma, caso não tenha sucesso em alguma tarefa ou situação, a morte pode ser realmente permanente para cada um deles. Ou seja, existem pontos da história que são criados sem a presença de Markus, Connor ou Alice, caso algum deles não esteja vivo. No começo e na metade do jogo é difícil morrer. A partir da fase final, é bem complicado entender que tipo de decisão devemos escolher para ver o final que você fica imaginando na sua mente.

Medo das decisões

É difícil contar quantas vezes eu fiquei com receio das decisões que tomei. Eu defini no começo da jogatina que a minha história seria contada da seguinte forma: Os personagens ficariam fieis aos seus ideais. Assim, eu não escolheria, em nenhum momento, uma resposta ou tomaria uma decisão que fosse contra esse princípio. Entretanto, a prioridade era manter todos os três vivos. Mesmo que eu tivesse que quebrar a primeira regra.

Assim, cada jogador pode imaginar de que maneira vai querer jogar Detroit. O rumo que a história toma facilmente o fará decidir com mais clareza. Porém, é fato que a dúvida será a sua maior inimiga. Afinal, que tipo de consequência determinada decisão pode trazer para nossa vida? O mais engraçado é que tomamos decisões importantes todos os dias. Mas em um jogo como esse onde outras vidas estão em suas mãos, parece pesar mais ainda. E olha que eles nem são humanos. Entretanto são tão vivos e possuem sentimentos tão reais, que mexe com a cabeça do jogador.

Visual avassalador. Mas há um detalhe…

Detroit Become Human é facilmente um dos jogos mais bonitos que já produziram. O game faz um ótimo uso do poder do PS4. Eu joguei no PS4 normal e fiquei realmente impressionado com o que vi. Os modelos dos personagens estão excelentes. Os cenários são ótimos, com muitos efeitos de luz e blur que dão um ar pesado, mas ao mesmo tempo, sereno. É impossível ver um serrilhado sequer e a chuva nunca foi tão bela. Os pingos caem no rosto e nas roupas dos personagens com uma naturalidade sem igual. Os ambientes são belíssimos, detalhados e cheios de vida.

Entretanto, toda a beleza do game tem um preço: a falta de liberdade. O que mais acontece em Detroit é do jogo te barrar. Eu adoro explorar cada canto enquanto jogo. Embora Detroit não tenha muita coisa para explorar, por várias vezes vi uma parede invisível ou um verdadeiro bloqueio me dizer que eu não poderia fazer determinado caminho. Assim, uma coisa ficava bem nítida para mim: a beleza visual só foi possível por conta dos cenários pequenos e limitados. E isso, sem dúvida, é um ponto negativo. Afinal, estamos em 2018 e paredes invisíveis são muito démodé.

Diante disso, podemos imaginar que a próxima geração de consoles poderá nos entregar jogos tão bonitos quanto Detroit Become Human. Porém, com a liberdade de um GTA V.

O calcanhar de Aquiles de Detroit Become Human: A Jogabilidade

Embora possamos dizer que, em termos narrativos, a Quantic Dreams encontrou uma nova maneira de contar histórias nos games, o mesmo não pode ser dito da jogabilidade. Tudo ainda é muito travado, baseado em Quick Time Events sem graça e poucas variações na forma de jogar. Além de assistirmos há muito tempo de cenas, muitas vezes o jogador só precisa fazer uma ação mínima para que a história continue, como abrir uma porta, pegar algo numa mesa, se levantar. São ações tão simples e pequenas que nem deveriam ter a necessidade de “jogarmos”. No mais, quando precisamos lutar em cenas de grande perigo, os comandos que aparecem na tela trazem um desafio por conta da velocidade que se tem de apertar algo que o jogo pede. Não necessariamente por ser legal.

A sensação que fica é que este estilo de jogo precisa urgentemente de um refresh nas mecânicas de gameplay. Por várias vezes me peguei com preguiça de jogar Detroit por conta das mecânicas de gameplay. Mesmo que a história estivesse boa, eu estivesse curioso com o que viria a seguir, eu sempre pensava que iria sentar no sofá para assistir e não jogar realmente. Se a Quantic Dream tivesse colocado um pouco mais de coração na forma que o jogador controla o game, as coisas seriam muito melhores neste quesito. Espero fortemente que isso mude nos próximos games da produtora e também deste gênero.

Jogar novamente não é uma opção, é obrigatório

Outro fator de suma importância em Detroit é o replay. Diferente da maioria dos games do gênero de adventure, há um incentivo enorme em recomeçar a campanha e escolher novos rumos. Em cada pedaço da história, o game lhe mostra um diagrama de cena, onde é possível analisar o caminho que percorremos, o que falta percorrer para ver cenas extras e conseguir mais pontos de experiência. Estes pontos podem ser gastos na área de Extras, que traz diversos materiais relacionados ao desenvolvimento de Detroit.

Assim, quando você escolhe uma decisão muito importante, o jogo traça um diagrama completamente diferente do que poderia. Fatalmente o jogador ficará curioso por saber o que aconteceria se percorresse outro caminho. Entretanto, o próprio game lhe aconselha: jogue Detroit até o final, fazendo a sua própria história. Só então volte para o diagrama e comece a explorar novos caminhos.

É possível também, em cada diagrama de cena, ver as escolhas dos jogadores pelo mundo ou somente dos seus amigos. O interessante aqui é que as minhas escolhas costumavam a ser semelhantes à de todos até a metade do game. Depois disso, passei a trilhar caminhos onde a minoria havia ido. Será bem legal discutir as histórias dos Androides com os amigos.

Um belo jogo, no final das contas

Detroit Become Human é sim um belíssimo jogo. Ele peca gravemente em um ponto de suma importância para os games, que é a jogabilidade. Mas a sua história e mecânicas de narrativas são tão boas e inovadoras, que mesmo sendo meio chatinho de se jogar, prende o jogador. É impossível não ficar interessado pela história de Markus, Kara e Connor. Entender o que levou os Andoides a acordar, a procurarem por igualdade, guerra ou paz, dependendo das suas escolhas. Perceber que os humanos são cruéis, violentos e sem alma. Afinal, o que define uma alma? O que é estar vivo? O que é ser um humano? Estamos preparados para o advento de uma nova espécie semelhante a nós, mas perfeitos em sua concepção?

Os questionamentos que Detroit levanta são tão pertinentes que é como a própria Androide do início do jogo diz: isso não é só uma história, é o nosso futuro. Eu não duvido.


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