Análise | The Last Guardian tem falhas, mas também tem acertos que poucos jogos possuem

genDesign

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2016 foi o ano de desenrolar projetos complicados de sair do papel, como foi o caso de Final Fantasy XV e The Last Guardian. O primeiro ficou 10 anos em desenvolvimento e o segundo 9 anos. No caso de The Last Guardian a espera era gigantesca por se tratar de um novo jogo de Fumito Ueda, diretor renomado que ganhou sua fama através de dois jogos muito singulares, que traziam formas de se jogar videogame como nunca vimos antes: ICO e Shadow of the Colossus.

Em 1997 a Sony criou um novo estúdio, com pessoas que não faziam parte da indústria dos games, para que fosse possível criar jogos diversificados, digamos que sem os vícios e costumes que vemos em projetos que se copiam e não tentam inventar nada. Em 2001, um jogo chamado ICO nascia, onde controlávamos um pequeno garoto com chifres em busca de salvar uma garota, que não conseguia se defender das sombras maléficas que apareciam no cenário. O jogo tinha uma jogabilidade diferenciada numa espécie de cooperativo em que você dependia de Yorda (a garota) e ela de você. De certa forma, The Last Guardian se parece mais com ICO do que Shadow of The Colossus, o segundo jogo do Team ICO que alcançou um patamar de clássico muito rapidamente devido a sua qualidade geral, mas principalmente por seu tom poético em um mundo dominado por inimigos colossais.

Demorou, mas finalmente chegou

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Dois anos após o lançamento de Shadow of the Colossus, o Team ICO começou a desenvolver o seu terceiro jogo chamado inicialmente de Project Trico, numa menção de três + ICO. O primeiro trailer foi lançado na E3 de 2009 e mostrava correntes presa a um poço. Meses mais tarde na Tokyo Game Show um novo trailer foi lançado com o jogo em movimento, exatamente como foi lançado este ano, mostrando que o conceito se manteve ao longo dos anos. Então, The Last Guardian foi prometido para 2011 e nunca foi lançado. O Produtor do jogo, Yoshifusa Hayama, se desligou do estúdio e pouco depois foi a vez de Fumito Ueda também dar adeus ao Team ICO. Apesar disso, a Sony não cancelou o projeto e garantiu que o desenvolvimento continuaria, com Ueda trabalhando como freelance. As coisas não deram muito certo nessa estrutura e o jogo caiu no limbo.

Em 2014, a Sony criou um novo estúdio, chamado GenDESIGN, mas não deixou a informação vazar para o público. Em 2015 a conferência da Sony na E3 começou com o pé na porta, com um novo trailer de The Last Guardian e a promessa de que o game seria lançado em 2016 para PS4, eliminando a versão do PS3, console que o título seria lançado originalmente e acredite, muita gente comprou um PS3 só por conta desse jogo, quando foi prometido para o console. No dia 6 de dezembro de 2016, finalmente The Last Guardian viu a luz do dia e foi lançado exclusivamente para PS4.

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Laços inesperados

The Last Guardian começa no mesmo local do primeiro trailer, com um poço e correntes presas a ele. Na outra extremidade da corrente há uma criatura comedora de homens presa a ela, chamada Trico (lembra da referência de três + ICO certo?). Ao lado dela um garoto sem nome, que narra a história com uma voz grossa, deixando claro que se trata dele no futuro. Aos poucos o menino precisa ganhar confiança de Trico, pois está num local em que não conseguirá sair sem a ajuda da criatura, que se parece com um cachorro, com pernas e penas de galinha, rabo de rato, tamanho de um dragão e atitude de um gato (às vezes).

Como qualquer criatura violenta, nada melhor do que pegar a confiança através do estômago e é exatamente isso que o garoto faz. Através de alguns barris que brilham que servem de alimento pro bichão, Trico começa a pegar confiança no garoto e a ajudá-lo de forma cooperativa a fugir daquele local. Com o claro objetivo de voltar para a sua casa, o menino aceita a ajuda subindo em Trico como acontecia em Shadow of the Colossus quando subíamos nos Colossos, mas aqui você não vai matar ninguém, vai muitas vezes salvar a vida de Trico enquanto que ele fará o trabalho sujo para você.

Uma história para emocionar

Não vamos, obviamente, lhe dar mais detalhes da história de The Last Guardian, justamente porque ela é um dos pilares da qualidade do jogo. Assim como ICO e Shadow of the Colossus, você é levado a avançar por curiosidade, para entender o que se passa naquele mundo inóspito que seguramente não faz parte do dia a dia do menino. Sem muitas escolhas, ele vai guiando Trico, enquanto que muitas vezes é a própria criatura que nos guia, pelo simples fato de não conseguirmos mais avançar, mas ele sim consegue por pular mais alto e alcançar locais que o menino nunca sonhou em chegar, deixando claro que aquela região foi feita para as criaturas comedoras de homens.

O elo entre os dois é tão grande que se assemelha a ICO e Yorda ou Wander e Agro. É como se um não existisse sem o outro e automaticamente você se pega apaixonado pela amizade que Trico e o menino vão descobrindo durante a aventura. Há uma poesia estranha, meio macabra, misturada com uma sequência de cenas belíssimas e muito intimistas, que transbordam durante as diversas horas em que o jogo se desenrola. Conforme a relação dos dois personagens fica mais estreita e a confiança passa a fazer parte como elo principal, a jogabilidade também avança, criando novas possibilidades de uma maneira muito singular e específica, que só vejo funcionando neste jogo e em nenhum mais.

A Remasterização de um jogo nunca lançado

The Last Guardian não possui gráficos de cair o queixo ou tecnologia o suficiente para ser usado como exemplo. O jogo mantém a mesma estrutura de quando estava em desenvolvimento para o PS3, inclusive o visual é de um jogo da geração passada com um “tapa” aqui e ali para que possa no mínimo passar como um jogo de PS4. Há bons efeitos de luz, física nas roupas do menino e nas penas de Trico, mas no geral o gráfico segue exatamente a mesma linha de ICO e Shadow of the Colossus, quase que como uma marca registrada de Ueda. Se The Last Guardian tivesse saído para o PS3, poderíamos ver o jogo sendo lançado na mesma data que chegou para o PS4 como uma remasterização, facilmente. A vantagem, caso isso tivesse acontecido, é que o game não teria os problemas de slowdown ou glitches gráficos que tem hoje.

Outro fator que mostra a idade do jogo é a câmera. Como é difícil de se domar a bichinha. Ela vai pra lá, vai pra cá, desobedece, te faz ver imagens totalmente negras, atravessa Trico, paredes, estruturas, não está nem aí se vai atrapalhar ou não. Certamente a câmera é o que de pior existe em The Last Guardian, o que me deixou furioso em diversos momentos.

Trico, seu animal!

Outro fator que pode te deixar furioso assim como também me deixou é a desobediência, falta de atenção e A.I. fraca de Trico. Ele é um animal, obviamente, mas pensa e se comporta exatamente como um. O engraçado é que a relação de amor e ódio que criamos por ele ser tão fielmente retratado como uma criatura de menor nível intelectual é tamanha, que chega a colaborar para que a experiência seja muito única, já que não me recordo de nada parecido no mundo dos games e me espanta que nesses últimos 9 anos ninguém tentou fazer o que Ueda fez: criar uma criatura tão diferente com reações e ações tão naturais e realistas.

No entanto, estamos falando de um jogo de videogame e às vezes parece que o sistema de dar ordens para Trico não funciona. Ou ele fica parado sem fazer nada ou faz algo totalmente diferente do que você imaginava. Além disso, muitas vezes Trico voltava pelo mesmo caminho que havia vindo, deixando o garoto a mercê da sorte ou sozinho em algum lugar que precisaria estar com ele. Não chega a atrapalhar totalmente, mas é algo que tira a imersão e dá uma certa frustração. No entanto, quando você consegue dar a ordem correta para Trico ou ele faz as coisas antes de você pensar, tudo é tão surpreendente que você acaba esquecendo desse problema e curtindo o momento.

Um mar de beleza e de mistérios

The Last Guardian tem alguns problemas por se tratar de um jogo que passou por um processo de produção muito conturbado e deixou muita gente surpresa por sequer existir. Mas uma coisa é certa: a assinatura do Team ICO e de Fumito Ueda estão lá. A cada nova área The Last Guardian te lembra que é um jogo, com diversos quebra cabeças e situações que você só vai conseguir sair se pensar. O sentimento de solidão em um mundo vasto e cheio de vazio só é quebrado quando você se encontra com algum inimigo, que aqui aparecem poucas vezes e definitivamente não são importantes. Seu inimigo é o cenário e a exigência de se pensar para avançar. Há momentos épicos proporcionados pela história e inimigo surpresas, e tudo se encaixa em escolhas artísticas muito bem construídas, mostrando que nada foi criado à toa ou de graça em The Last Guardian.

Desde as cores, os objetos, os elevadores que nos lembram as jaulas de ICO, Trico e os animais de sua espécie que são enormes se comparados com o garoto, tudo lembra demais os projetos anteriores de Ueda e seu ex-estúdio. É extremamente recompensador poder estar novamente em um mundo misterioso e cheio de coisas novas, ao mesmo tempo que há aquele ar de nostalgia. The Last Guardian definitivamente não é a melhor obra de Fumito Ueda, Shadow of the Colossus ainda ocupa este posto, mas sem dúvida alguma conseguiu manter a qualidade e apenas sofre pela idade, já que se o lançamento do jogo tivesse ocorrido no PS3, muitos dos problemas encontrados aqui seriam passáveis. Mas não há como sabermos, o destino de Trico e o garoto poderia estar fadado a ocorrer no PS4, para vermos mais uma vez que não é necessário um visual avassalador e engines de última geração para criar um jogo poético, capaz de te fazer emocionar e pensar em muitas coisas, além de valorizar aquilo que é mais importante em um jogo: a experiência. No entanto, não podemos esquecer dos erros graves de desempenho, a frustração que é interagir com Trico em alguns momentos e a falta do que fazer ao concluir o jogo, o que certamente pode afastar muita gente. Talvez The Last Guardian estre naquela categoria de jogos “ame ou odeie”, depende muito de sua vida gamer e o que você esperava dele.

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4 respostas

  1. 70? Afff… Eu acredito que nota 83 por Metacritic ._. ICO, Shadow of the Colossus e The Last Guardian são meus jogos favoritos. Ponto final u.u

    1. Chegou a ler o texto?

      Eu adoro Shadow of the Colossus e gosto de Ico, mas não dá pra trazer o gosto sobre os jogos anteriores pra dentro de The Last Guardian. É questão de gosto tb.

  2. O problema de Last Guardian é que ele foi cancelado ainda na época do PS3 e voltou por causa dos fãs que pediram, então é meio óbvio que o jogo seja uma espécie de remasterização para o PS4. Ele não foi refeito, ele foi continuado. Comprei o jogo essa semana e não tenho o que reclamar, mais uma obra prima de Fumito Ueda.

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