Análise | Yakuza 0 – Muita porrada e história empolgante em um exclusivo de peso do PS4

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Depois do fracasso da SEGA com Shenmue no Dreamcast, que apesar de ser um bom game e ter virado um clássico, o estilo de jogo iniciado na série ficou guardado nas gavetas da empresa até que um dia alguém teve a genial ideia de criar um game baseado no mundo da maior máfia japonesa, a Yakuza. Custando metade do que custaria desenvolver um novo Shenmue, em 2005 o primeiro Yakuza foi lançado mostrando a história de Kazuma Kiryu, um integrante da máfia japonesa que vai preso por 10 anos acusado de matar o chefe da família Dojima. Quando sai da cadeia as coisas estão de cabeça pra baixo por conta de uma conspiração, as pessoas que ele ama correm grande perigo e ele então entra em uma batalha sangrenta e cheia de artes marciais contra os integrantes da máfia e da família da qual um dia, ele fez parte.

A franquia já está em seu sexto jogo, que foi lançado no Japão no ano passado  – fora alguns spinoffs – e está chegando também o remake do primeiro game totalmente refeito e com gráficos de ponta. Mas antes de tudo isso chegar ao ocidente, uma pérola estava guardada e demorou quase dois anos para dar as caras por aqui. Estamos falando de Yakuza 0, lançado no começo de 2015 no Japão e só agora chegou ao ocidente e posso adiantar: a espera valeu MUITO a pena.

Que tal começar antes do começo?

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Como o próprio nome sugere, Yakuza 0 se passa antes do primeiro game da franquia, mostrando fatos sobre a vida de Kazuma Kiryu que não sabíamos. Além dele, Goro Majima também retorna e é um dos personagens jogáveis do título, dividindo o protagonismo com Kiryu. Sim, podemos jogar com Kazuma ou com Goro, mas não é possível escolher com quem jogaremos logo de cara, a ordem sobre quem iremos controlar é definida pela história e narrativa do jogo.

Como tudo se trata de uma prequel, é possível reconhecer diversos personagens como o irmão de Kiryu, Nishiki e boa parte dos integrantes da Yakuza que vimos nos jogos anteriores. Talvez a SEGA tenha pensado em Yakuza 0 como uma forma de recolocar a franquia no mercado para quem não conhece nada da história, que já é longa, então este se torna o jogo mais recomendável para quem nunca jogou um game da série antes e deseja entrar nesse mundo de conspirações apaixonante.

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Kiryu e Goro estão bem mais novos e começam a sua empreitada de formas bem complicadas. Kiryu ainda faz parte da Yakuza, mas é acusado injustamente de um assassinato. Goro, fora da Yakuza por motivos maiores, pretende retornar para a família, mas para isso talvez tenha que pagar um preço muito alto por estar nas mãos de um importante membro da Yakuza. Em determinado momento, a história parece bem diferente entre os dois personagens, quase como se estivéssemos jogando dois games usando as mesmas mecânicas e suas histórias acabam tomando rumos inesperados e fantásticos, que aos poucos vai explicando o motivo de estarmos jogamos com os dois. A história de Yakuza 0 é, para muitos, a melhor da franquia até agora, só para se ter uma ideia.

Japão dos anos 80

Yakuza 0 se divide em episódios onde a cada dois capítulos alternamos automaticamente entre Kiryu e Goro Majima. Enquanto Kiryu está em uma cidade diferente de Goro, seus destinos vão ficando cada vez mais próximos e sabemos muito bem como ambos os personagens são importantes para a história da franquia. Como o jogo se passa em 1988, muitos anos antes do primeiro Yakuza, tudo é bem diferente na construção dos cenários com uma cara de algo fora de moda, como as roupas dos NPCs, carros, telefones públicos, fachadas e construções características do Japão, além das atitudes dos dois personagens, mais novos e sem muita malandragem. O game é uma mistura de RPG, aventura e Beat ‘n’ Up moderno com um estilo muito próprio e cativante que possui um mundo semi aberto, que de forma alguma pode ser comparado com GTA ou jogos do gênero, já que não existem títulos como Yakuza. É uma fórmula adotada somente pela SEGA para esta franquia, o que torna tudo tão único e nostálgico, principalmente para quem jogou Shenmue.

Diversas características da época são utilizadas no contexto do jogo em geral, como pagers no lugar de celulares. Muitos diálogos até tiram uma onda com a tecnologia “super avançada” apresentada no game, por exemplo, telefones de bolsa enormes que são capazes de realizar chamadas em qualquer lugar, ao custo de 8 horas de recarga de bateria. São diversos detalhes que juntos formam uma ambientação e imersão sem igual na franquia Yakuza.

Mapa pequeno com muitas coisas pra fazer

Se há uma certeza em Yakuza 0 é que você vai jogar por muitas horas e não vai chegar nem perto da metade do jogo. Como um bom RPG, existem diversas atividades diferentes para se realizar durante a história, marcadas pelo mapa com um símbolo rosa circular. Porém, ao correr pelo mapa diversas histórias vão surgindo em forma de missões paralelas, enriquecendo a vida do mundo de Yakuza 0 e mantendo o jogador ocupado por muito tempo. O mais legal de tudo é que todas as missões extras são de extrema valia e divertidas, passam longe de decepcionar ou de repetir situações a torto e a direito, entregando momentos muito divertidos aos jogadores e quando você se dá conta, passou 3 ou 4 horas jogando somente missões que não avançam a história, mas enriquecem o gameplay de uma forma sem igual.

Estas missões paralelas são bem aleatórias e podem ser realizadas quando o jogador bem entender, trazendo uma boa quantidade de dinheiro ou algum item valioso que pode ser vendido. Algumas delas só aparecem quando Kiryu ou Goro fazem amizade com os personagens e você precisa ficar visitando-os para que o relacionamento e a amizade vá acontecendo. Como a maioria deles ficam em localizações importantes para o desenrolar do jogo, estas visitas acabam acontecendo bem naturalmente, sem atrapalhar o avanço no game.

Desça a porrada e fique rico!

Yakuza 0 tem uma árvore de evolução muito curiosa onde você deve gastar o dinheiro do jogo para melhorar as suas habilidades. Cada personagem possui estilos de luta diferentes que podem ser evoluídos de forma individual. Cada ponto de evolução traz uma nova habilidade, aumenta a energia dos personagens ou fornece novos golpes, deixando o sistema de batalha mais dinâmico. Você consegue dinheiro para evoluir Kiryu e Goro em Yakuza 0 de diversas formas, mas a mais habitual é descer a lenha nos inimigos, que vão deixando dinheiro cair de seus bolsos aos montes. Sério, cada luta da em torno de 500 mil.

Você encontra os inimigos vagando pelo cenário e caso eles o vejam, avançam atrás de briga. Eles variam entre membros da Yakuza, motoqueiros, arruaceiros, homens de preto e muito mais. Cada tipo de inimigo tem uma quantidade diferente de dinheiro que pode ser conquistada. Há um momento em que ao gastar seus pontos de CP (Completion Points que você conquista executando diversas tarefas dentro da história e missões paralelas do game), você chama a atenção de uma gangue de ricos, que deixam 5 vezes mais dinheiro pra trás que os inimigos comuns. Eles não aparecem a todo momento, são mais raros no mapa e surgem vestidos de amarelo e quando isso ocorre, é uma maravilha, já que eles não são adversários difíceis e aparecem sozinhos. Ao invés de subir pontos de experiência, Yakuza 0 te dá dinheiro. Muito melhor do que apenas números.

No entanto, não pense que tudo é fácil e que você vai ficar rico do nada dentro do jogo. Isso até pode acontecer, mas caso você encontre um tipo de inimigo diferenciado dentro game, que são muito maiores do que o normal, há grandes riscos de você perder uma luta pra eles e eles levarem TODO o seu dinheiro. Eles ficam andando pelo cenário atrás de confusão e cada personagem tem um em seu encalço. O bacana é que eles acabam virando uma pequena poupança e um grande desafio, já que ao ganhar deles você acaba recuperando o valor perdido e muito mais.

Sistema de batalha frenético

A legal é que o jogo tem um sistema de batalha muito completo e variável que faz com que Kiryu e Goro pareçam personagens muito diferentes quando você altera a técnica de luta que vai usar. Para se ter uma ideia, Kiryu começa com seu estilo mais comum, com socos pesados, podendo levantar alguns componentes do cenário como bicicletas, pedaços de madeira e muito mais para dar na cara dos Yakuza. Conforme a história avança, somos apresentados para pessoas diferentes e misteriosas que entendem de técnicas de lutas desconhecidas para Kiryu, e ele aprende e treina estas técnicas para poder usá-las em combate. A segunda técnica que recebemos faz com que seus golpes sejam mais brandos, porém muito mais rápidos com direito a uma esquiva ligeira, ao melhor estilo boxeador. A terceira transforma Kiryu em um cara muito resistente, porém lento, capaz de levantar até mesmo motos para usar contra seus inimigos. E por fim, sua quarta habilidade permite usar espadas e armas que você equipa durante o jogo.

Goro possui um estilo semelhante quando começamos sua parte da história, com golpes pesados e possibilidade de levantar coisas leves pra usar como armas, mas depois ele passa a ter golpes de capoeira muito rápidos, ao melhor estilo Eddy Gordo (de Tekken) e seu estilo mais bacana, que ele pode usar um taco de beisebol que gera muito dano no inimigo. Sua quarta habilidade também permite usar objetos diversos que nós mesmos equipamos.

Ambos os lutadores possuem uma barra de energia, capaz de ser preenchida com alimentos que você compra nas lojas ou com remédios, comprados em farmácias. Abaixo da barra de energia existem as barras de Heat, que quando estão cheias permitem que Kiryu e Goro executem golpes especiais fulminantes ao apertar do botão triangulo. Acredite, estes momentos são extremamente empolgantes, com câmeras ao estilo filmes de kung-fu dos anos 80 e muito, muito sangue. Porém, nem mesmo estes golpes especiais podem te salvar de momentos críticos da história em que muitos inimigos lhe atacam ao mesmo tempo, sendo necessário criar uma bela estratégia para sair vencedor. Ficar de olho no cenário e ver o que pode ser usado contra seus inimigos é uma dica valiosa em Yakuza 0.

Senta que lá vem a história

A franquia Yakuza é conhecida por sua história e quantidade enorme de diálogos, o que não poderia ser diferente em Yakuza 0. Aqui, jogamos muito mais prestando atenção em conversas do que andando pela cidade e meu amigo, tem conversa pra caramba nesse jogo. O mais importante é que os diálogos são muito inteligentes, chamativos e imersivos, por mais boboca que a missão possa ser. Yakuza 0 é realmente um jogo muito bem escrito e todas as pequenas histórias que o jogo possui são feitas para emocionar, dar risada ou ensinar algum tipo de lição. O problema para nós brasileiros é que o jogo é localizado apenas em inglês, então você vai ouvir uma porrada de japoneses falando rápido na língua deles e as legendas aparecendo em inglês. Há ocasiões que tudo vai muito bem, mas em outras bate um cansaço enorme no jogador, já que nestes momentos de muitos diálogos o game não tem ação nenhuma.

Outro fator que pode se tornar um problema para alguns jogadores é a disparidade de formatos dos diálogos e forma que a SEGA escolhe para a franquia para contar as histórias. Temos as cenas em CG, bem capturadas e com ótimo visual, que agradam bastante e geralmente são usadas em cenas mais importantes e mais dramáticas. Temos também conversas que ocorrem na engine do jogo, com bons movimentos, que também são satisfatórios. Porém, o formato mais simples lembra bastante os RPGs japoneses das antigas, com personagens conversando sem nem mesmo mexer a boca e com o mínimo de movimentos. No começo isso pode gerar uma estranheza sem igual, mas quando você entra na história de cabeça, acaba não ligando mais para isso. Mesmo assim fica a sensação de que um jogo da nova geração poderia ser um pouco melhor nesse sentido, mas basta lembrarmos que Yakuza 0 nasceu no PS3 e a conversão do PS4 melhora os gráficos e resolução e não o jogo no geral.

Cara de PS3

Por falar nisso, Yakuza 0 também tem uma cara de PS3 no quesito gráfico, o que nem de longe chega a ser um problema, já que tudo é muito bem detalhados, desde os objetos e construções dos cenários até as incríveis feições dos personagens, que são um show a parte. A versão lançada no Ocidente é a do PS4, enquanto que no Japão eles receberam as dos dois consoles. Dá uma sensação de que é um jogo meio antigo às vezes, mas a qualidade geral é tão alta que não atrapalha em nada.

Porém, algumas coisas demonstram que a engine de Yakuza pode precisar de uma reformulada em breve, como paredes invisíveis ou objetos que acabam atrapalhando na hora que os personagens saem andando e esbarrando no nada. Há uma demora a lá Resident Evil das antigas ao abrir portas ou entrar em comércios, com uma pequena tela de loading. Outra coisa que poderia ser melhor é o sistema de save, que depende que o jogador vá até uma cabine telefônica e escolha salvar o jogo, e o processo todo demora bastante. Se você não tem um bom no-break e sua luz acabar de repente, se não salvou seu jogo há um risco enorme de perder o avanço.

Um Yakuza na balada

Assim como os demais títulos da série Yakuza, o novo capítulo traz diversos mini-games espalhados pelo cenário e muitos deles acompanham a série há anos, como o clube de baseball de Kamurocho. Temos diversos outros como o Karaokê, clube de dança, jogatina de Mahjong, 21, sinuca, carrinho de controle remoto com diversas opções de customizações e muito, muito mais. Praticamente todos estes mini-games possuem uma profundidade incrível, com competições e chefes que criam até uma pequena história ao redor da brincadeira. Assim como o trailer acima diz, não é porque você é um Yakuza que tem que passar as noites de sexta-feira em casa.

Este é mais um fator que pode fazer você ficar horas e horas sem dar atenção para a história principal e acabar focando em algum destes mini-games até sair como o maior dos vencedores. Isso sem contar as casas de Arcades da SEGA, presente nos dois cenários disponíveis do jogo que traz jogos como Super Hang-On, Outrun e muitos outros totalmente jogáveis dentro de Yakuza 0. Matar a saudade de games tão importantes na história da SEGA sempre é bem vindo, ainda mais pra dar uma descansada entre um capítulo e outro de Yakuza 0 sem nem mesmo precisar sair do jogo. Vale lembrar que isso também começou com Shenmue.

Um jogo sensualizador

Um tema recorrente em Yakuza desde que a franquia da SEGA começou no PS2 é o sexo. Não explicitamente, mas de formas indiretas e diretas, como as casas de acompanhantes que você pode visitar com Kiryu ou onde Goro é gerente. Há inclusive um local específico para ver vídeos sensuais de diversas modelos que você vai encontrando no jogo, live action mesmo, além de cartas espalhadas pelo cenário que também traz a ilustre presença de modelos. Uma das missões paralelas envolve entregar uma revista pornô para um garoto e a situação se desenrola de uma forma muito cômica, além de outra em que você deve ensinar uma moça a ser uma dominatrix.

Existe também um local em que é possível apostar em garotas enquanto elas se digladiam no melhor estilo Rumble Roses (antigo jogo de luta da Konami/Yuke). Apesar de parecer bastante machista e sem noção, é bem divertido pois as garotas fazem golpes incríveis e mostram que não são somente mais alguns rostos bonitos no mundo de Yakuza.

Um game extremamente completo e complexo

Yakuza 0 é um jogo surpreendente por diversas razões, mostrando que a franquia da SEGA está longe de ficar cansada mesmo com tantos jogos lançados ao longo dos anos. Extremamente complexo por possuir diversas mecânicas diferentes que se alternam a cada esquina em que Kiryu e Goro percorrem, é um jogo altamente satisfatório, que sem dúvida alguma merece sua atenção e preenche um dos meses de janeiro mais fortes que esta geração já viu. Yakuza 0 é o melhor jogo para você que nunca tentou jogar um Yakuza ou que se sentiu perdido em meio a tantos jogos da franquia lançados no Japão que nunca chegavam ao ocidente em tempo hábil e parece que a SEGA vem tentando mudar isso de alguma maneira.

Uma pena que o jogo não é em português, o que seria um sonho, mas só o fato de podermos jogar entendendo a história já é algo para se glorificar de pé. Portanto, com uma história empolgante, a melhor jogabilidade da série e pequenos problemas que não vão influenciar na sua diversão, Yakuza 0 é um jogo incrível, completo e complexo que recomendamos fortemente.

 

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