Combo Entrevista: Neil Huxley – Diretor de criação da Digital Domain

Neste final de semana (19 e 20 de outubro) aconteceu o The Union, o maior evento de computação gráfica, efeitos visuais e arte digital da América Latina. Com a participação dos maiores artistas digitais do cinema e do mundo dos games, como Neville Page (Avatar), Scott Spencer (O Hobbit), Cecil Kim (God of War), Ian Joyner (Homem de Ferro 2), Alex Nice (O Espetacular Homem-Aranha), Brandon Young (Thor) e Neil Huxley (Dead Space 3).

E é exatamente Neil Huxley que aceitou conversar com o Combo Infinito durante o The Union. Mas antes de você ir para as perguntas, vamos dar uma passada pela história de Huxley.

Um ano após assumir o cargo de Diretor de Criação da mega produtora de VFX, Digital Domain, Neil Huxley tornou-se Diretor de sua subsidiária, Mothership, em Janeiro de 2012. Com mais de dez anos de carreira como graphic designer e director de arte, Neil Huxley tem créditos em produções legendárias como “Avatar” – projeto no qual assina como Graphic Supervisor, pela produtora de VFX Prime Focus – e “Watchmen”, no qual foi Main Title Designer & Art Director na icônica e emocionante sequência de créditos iniciais, na qual cria imagens que dão uma nova e ousada interpretação à canção “Times They Are A Changing”, de Bob Dylan. Já na Digital Domain e na Mothership, a sensibilidade criativa de Neil Huxley ajudou a produzir inúmeros trailers, spots e cinematics, que tornaram-se referências no mundo dos games.

Neil dirigiu o sombrio trailer de “Transformers: Fall of Cybertron” (Activision), para a premiere de lançamento no VGA Awards de 2011, no qual faz brilhante e inovador uso de trilha-sonora e cria uma atmosfera com look cinematográfico, elevando game spots a um novo nível artístico. Em seguida, Huxley fez a platéia da E3 2011 delirar com o estilístico e visualmente impactante trailer de “Ghost Recon Future Soldier” (Ubisoft). Para a 2K Games, dirigiu o intenso trailer de “The Darkness II” e o TV Spot do game “NBA2K13”, narrado por Michael Jordan e com Produção Executiva de Jay Z, retratando os maiores jogadores da NBA de todos os tempos em enterradas e jogadas que entraram para a história do esporte, numa estilizada quadra de basquete.

Neil Huxley foi chamado pela Zuffa, LLC ( proprietária do UFC ), para criar o magnífico spot de abertura para a premiere do UFC na FOX, celebrando a evolução do MMA como esporte, mostrando desde seu humilde começo até os dias de hoje como um dos esportes mais populares do mundo, a estética junta imagens de arquivo de algumas das maiores lutas do UFC em sets e backgrounds virtuais, ao som da trilha de Hans Zimmer.

Mais recentemente, Neil dirigiu o pós-apocalíptico trailer do game Mad Max ( Warner Bros. Interactive Entertainment ), lançado na E3 2013, e o teaser spot de “Dead Space 3: Take Down the Terror” ( EA, que você pode ver no final da matéria), no qual combina live action, high-end CG e imagens do próprio game – com a regravação de “In the Air Tonight” – que recebeu mais de 1.3 milhões de visualizações no You Tube.

Deu pra perceber que os games estão no sangue de Huxley, e para reforçar ainda mais o quanto ele gosta desta indústria, ele demonstrou em sua palestra no The Union que estamos num ponto de virada onde a sofisticação do visual e storytelling no conteúdo de marketing para vídeo-games está alcançando o de TV e filmes. Com o famoso vídeo de Dead Space, Huxley levou o público presente no The Union através do processo de produção de um vídeo-game cinematics e comerciais de TV, desde o storyboard até a composição final, demonstrando como o corpo em computação gráfica de Isaac Clarke e todo o ambiente do jogo, combinados à interpretação live action, resulta em um maravilhoso comercial de Dead Space 3.

Dados todos os detalhes, temos o orgulho de apresentar nossa entrevista exclusiva com o Neil Huxley, e logo abaixo você pode conferir o spot de TV de Dead Space 3 que ele dirigiu e produziu, e o resultado é sensacional.

Obs: Esta entrevista foi realizada por nosso colaborador Kleber Pessoa (@kleberpessoa)

Combo Infinito: Baseando-se na sua experiência com filmes e jogos e em sua opinião pessoal, qual dessas mídias é mais complicada de trabalhar? ou não existe diferença?

Neil: Bem… Ambas possuem  seus desafios, sabe…  por exemplo, é um desafio trabalhar com materiais de jogos, porque geralmente, assim como nas apresentações de cinema, um monte de coisas que recebemos dos desenvolvedores são, geralmente, otimizadas para rodar numa  engine, então temos que melhorar essas coisas, para fazer com que elas funcionem num ambiente de comercial… Então, sabe, às vezes o desafio é que eles querem que o trailer pareça muito com o jogo e nós lutamos pra empurrar em uma direção diferente para fazer com que a cena pareça mais fotográfica.  Às vezes os desenvolvedores de jogos querem vender o jogo, todos querem mostrar o jogo, mas isso pode ser feito com um trailer de gameplay. O trailer cinemático de um jogo na verdade deve ser algo bem maior, ele deve vender a essência de um jogo, não a aposta de um jogo, se é que isso faz algum sentido… Você está vendendo a promessa de um grande jogo, não é o trailer do jogo real, não é o jogo real, mas é a promessa de que aquele é um grande jogo. Isso é um desafio do marketing do jogo.

Já no que diz respeito aos filmes, eu acho que uma das coisas mais difíceis a respeito de muitos dos filmes que nós trabalhamos é fazer todo a quantidade de trabalho que tem que ser feita dentro do prazo que é estipulado. Isso é algo que é sempre difícil, que sempre temos que lutar. Eu não lembro de nenhum filme em que eu tenha trabalhado até agora no qual possamos falar “olha, recebemos uma grande quantidade de dinheiro pra fazer isso, vamos relaxar e ir fazendo tranquilamente sem pressa”. Isso nunca aconteceu, é sempre uma corrida, sempre uma luta pra conseguir terminar…

Mas é isso, acho que as duas mídias tem suas dificuldades particulares.

Combo Infinito: Filmes são considerados a sétima arte. Você acha que os videogames também são uma forma de arte?

Neil: Absolutamente! Recentemente eu joguei The Last of Us e eu acho que esse jogo traz um momento decisivo ao mundo dos games. O jogo é lindíssimo, tem uma aparência maravilhosa, tem uma história maravilhosa, os sons e a trilha sonora são espetaculares… Tudo nesse jogo é incrivelmente foda e você acaba ficando ligado emocionalmente ao jogo… E a boa arte faz isso, a boa arte te afeta no nível emocional. E esse jogo me afetou no nível emocional. Então sim, considero os jogos como obras de arte.

Combo Infinito: Muito legal. Agora uma última pergunta. Que conselhos você daria a um entusiasta que aspira trabalhar no ramo de cinema ou games e não sabe por onde começar?

Neil: Bem, eu começaria indicando cursos como os da Saga, Axis ou Gnomon. Quando eu era um estudante escolas como essas não existiam, então foi muito difícil para mim conseguir entrar na indústria. Nessas escolas você tem acesso aos melhores professores, tem acesso ao melhor conhecimento, tem acesso ao melhor equipamento. A única coisa que você precisa ter em mente é que será necessário muito esforço e dedicação. E todo o resto está diante de você. Então a real é que não sobram muitas desculpas se você quiser entrar nessa indústria. Se você se dedica de verdade e entra em alguma dessas escolas você consegue chegar lá. Claro que você precisa investir em si mesmo nisso tudo, ou como Alex Alvarez disse no começo das conferências “seja apaixonado, se esforce, seja dedicado”…  Esse seria meu conselho para as pessoas.

Fonte e referências para os textos sobre Huxley: www.theunion.com.br