Crítica | Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar – Velhos piratas reunidos

Piratas do Caribe retorna após 6 anos de hiato para uma franquia que enchia os cofres da Disney e que foi responsável por criar um dos mais memoráveis personagens que Hollywood já viu. Capitão Jack Sparrow, interpretado pelo talentoso e às vezes questionado Johnny Depp, é inquestionavelmente diferente de tantos outros papéis que até mesmo Depp, cheio de facetas estranhas e diferenciadas, já fez em sua carreira. É fácil perceber que o ator gosta de estar sob aquele traje e que nós também gostamos demais de Jack Sparrow e mesmo que muitos tenham cansado da franquia e da fórmula, ele vinha fazendo falta no cinema.

Na verdade todo o universo de Piratas do Caribe é diferenciado, misturando magia com os velhos contos de piratas, um tema pouco utilizado hoje no cinema. Talvez por isso a Disney tenha visto uma oportunidade de trazer a franquia de volta aos holofotes, uma vez que em meio a tantos filmes de super heróis, românticos e animações, somente ela navegue em mares tão isolados com navios tão criativos. Mas, não adianta fazer somente mais um filme, seria preciso procurar se reinventar, levar Piratas do Caribe para novas águas, mas como fazer isso mantendo as raízes que tornaram a franquia a marca tão forte que é, mesmo hoje em que não está em alta?

Um novo vilão e novos mocinhos

Um ponto crucial para que um novo Piratas do Caribe pudesse ser chamativo, seria um vilão tão bom quanto os antigos. Barbossa e Davy Jones por exemplo são exemplos práticos para demonstrar que Piratas do Caribe possui em sua história vilões sensacionais, tanto em interpretação, quanto em história e efeitos especiais. Em Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar temos justamente Salazar, um pirata que sofre de uma maldição e que como todos os outros possui um histórico com Sparrow, que de alguma maneira quer alcançar sua vingança. Os motivos para ele ter ficado como ficou são bem encaixados, fazendo ligação com elementos já conhecidos da saga e trazendo uma boa revelação do passado de Jack Sparrow. Javier Barden está bem no papel de Salazar e foi uma ótima adição ao elenco da franquia.

No entanto, apesar de renovar o lado do mal, o novo Piratas tenta renovar também o plantel dos mocinhos e acaba se prendendo ao passado para isso, apesar que boa parte do público em geral vai gostar da existência de Henry (Brenton Thwaites), por ele ter ligação com um antigo e amado personagem e sua existência é de suma importância para o futuro que a Disney quer criar com a franquia. É uma pena, porém, que o ator não tenha se encaixado tão bem quanto os demais em cena. Carina Smyth é provavelmente a revelação de A Vingança de Salazar, se mostrando uma personagem feminina forte, algo que a franquia Piratas do Caribe sempre teve, como era com Keira Knightley como Elizabeth Swann e a atriz Kaya Scodelario chegou “chegando”, mostrando que abraçou o papel com todas as forças. Assim, o novo plantel de atores chega para adicionar e fortalecer o histórico de bons personagens que Piratas do Caribe sempre teve e neste quinto filme o saldo é bem positivo.

Jogando na Segurança e buscando um novo começo

Confesso que fui ao cinema sem tantas esperanças que A Vingança de Salazar pudesse me agradar tanto quanto agradou. De começo, parecia que tudo era muito forçado, mas minha mente teimava em me lembrar que estava assistindo a mais uma aventura de Jack Sparrow e isso deveria ter algum valor. Aos poucos a história foi me cativando, fui reconhecendo personagens antigos e queridos, o vilão conseguia passar sua malevolência e a demonstrar que todos realmente corriam perigo e quando menos percebi, já tinha entrado na imersão do filme. Embora seja fácil perceber mesmo assim piadinhas mais sem graça e diálogos meio desconexos, as cenas são muito bem construídas (espere para ver a cena da guilhotina) e muito bem orquestradas, tudo que um fã da saga Piratas do Caribe espera ver em um filme da série.

No entanto, sinto que Piratas do Caribe poderia ter avançado de alguma maneira, ao invés de se prender tanto ao passado. Você entenderá melhor o que digo principalmente ao ver a cena escondida nos créditos finais (sim, não se levante ao final do filme, espere mais um pouco). Praticamente não temos tantas coisas novas mais para ver com Jack Sparrow, mas ele é o motivo dos filmes existirem, então seria uma boa ideia criar algum novo arco que girasse ao redor dele independentemente de quem já tenha passado pela história. A Disney resolveu jogar na nostalgia e apesar de ter funcionado para A Vingança de Salazar, pode não empolgar quem de repente se ver assistindo um filme mais do mesmo. Mas é inegável porém, que estejam ao mesmo tempo buscando um novo começo pra franquia, até mesmo reiniciando alguns acontecimentos de uma forma até inteligente.

Mesmo assim, saldo positivo

Ainda que em alguns pontos o filme desagrade ou crie uma aversão, é fato que A Vingança de Salazar consegue respeitar o legado da franquia e se torna um bom filme, nada de espetacular, mas que vai entreter os fãs de Jack Sparrow e todo aquele universo. Imagino que quem não tenha gostado tanto assim do quarto filme da série, vai se sentir um pouco melhor ao ver A Vingança de Salazar, enquanto que quem é muito fã do personagem de Johnny Depp não irá, de forma alguma, se decepcionar com praticamente nada no filme. A história é boa, os efeitos especiais continuam muito bons e os personagens seguram a bronca, criando momentos engraçados e com aquele espírito aventureiro que estávamos acostumados a ver. Fico mais feliz por ver a franquia retornando, mesmo que não esteja na sua melhor forma, do que saber que a Disney e Depp tenham desistido de Sparrow. Portanto, o saldo após Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar é mais do que positivo.

https://www.youtube.com/watch?v=DioY6QlVBCs