Por que as pessoas batem tantas palmas em eventos de speedrun?

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Há alguns meses passei a acompanhar com maior frequência eventos de speedrun (que, basicamente, trata-se do terminar jogos o mais rápido possível, seja através do uso de bugs e glitches ou por meio de habilidade própria), o que não foi difícil, dada a pequena quantidade daqueles que, de fato, vêm ao conhecimento do público. Por acontecerem em pequeno número, as características dos eventos são uma constante compartilhada entre si mesmos, com organizações maiores, como a Games Done Quick, ditando indiretamente como eles devem ocorrer.

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Embora a priori pareça óbvio os seus motivos, um desses aspectos me chamou a atenção: o bater palmas. De fato, é natural que elas aconteçam, visto que esses eventos são um grande palco de demonstrações de movimentos precisos e difíceis de se executar. Porém, bater palmas não só é frequente em grandes eventos, como a Awesome Games Done Quick, considerado o maior de todo o mundo, mas em minúsculos. Se houver uma pessoa jogando e outra assistindo a essa, com certeza esse espectador vai bater palmas. Por conta disso, passei a indagar a mim mesmo: “por que as pessoas batem tantas palmas nesses eventos?”.

Deixando os motivos óbvios de lado, acreditava que havia algo realmente especial por trás disso. Não é difícil de se imaginar que algo histórico para os eventos como um todo tenha acontecido e a prática tenha se tornado uma tradição desde então. Assim, para entender o que pode ser muito claro, conversei com algumas pessoas que entendem mais profundamente acerca de eventos de speedrun.

Segundo Rafael “Baldo” Ramos, que faz speedruns há uma década, bater palmas em eventos do gênero funcionam da mesma maneira que em qualquer outro tipo de exibição. “É uma celebração, uma forma de apoio e também uma forma de agradecimento. O sucesso na execução de um glitch muito difícil ou uma luta com um chefe realizada de maneira inusitada são alguns exemplos. E para eventos que arrecadam fundos uma doação de valor considerado alto também é motivo de comemoração.”

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Baldo continua dizendo que “existem muitas outas situações que podem levar às palmas, mas ao mesmo tempo não é uma obrigação”. “Sempre tem os que puxam as palmas, os que batem palmas porque realmente gostaram do que viram ou os que acompanham as palmas sem nem mesmo saber o que houve”, explica o runner.

Já a explicação de Fábio “Furlim” Forlin, que faz bastante transmissões de Super Mario World, acerca dos motivos de tantas palmas segue a mesma lógica de Baldo. Segundo ele, o ato serve, também, para mostrar ao público o quão difícil são alguns movimentos executados pelos runners. Ainda de acordo com Furlim, muitas vezes os próprios comentaristas incentivam a ação a fim de demonstrar à platéia que algo complexo foi feito.

“É bom pro runner, que se sente recompensado pelo esforço, ou mais relaxado depois de errar algo, e também pro público, que entende melhor a dificuldade do que está acontecendo”, me explicou ele por email.

Assim como diversos outras características de eventos de speedrun, a popularização do bater palmas se deu pela Games Done Quick, conforme explica Luigi Oliveiri, um dos organizadores da Brazilians Against Time, maratona beneficente que neste arrecadou mais de 10 mil reais para a ONG internacional Médicos Sem Fronteiras. “Mesmo na primeira GDQ em 2010, feita basicamente numa sala de estar com pouquíssimas pessoas, já se ouvia palmas então é algo bem enraizado nesses eventos”, conta Luigi.

Furlim explica ainda que “acredito que desde os primórdios da Games Done Quick, quando o evento ainda era mais ‘caseiro’. O pessoal já batia palmas em momentos cruciais das runs, ou quando alguma doação grande aparecia, ou em alguma meta batida. Como ela foi a ‘mãe’ das maratonas de speedrun, o costume de lá se espalhou pras outras.”

Quando perguntado se a ação já se tornou uma espécie de ritual a ser seguido — ou um meme da comunidade –, o runner de Super Mario World contou que “não vejo como meme, mas pode ter se tornado uma tradição”. Segundo ele, tentaram cortar um pouco das palmas de uma edição dos eventos da Games Done Quick, porém a reação se mostrou negativa.

“Pessoas se esforçam tanto pra correr os jogos quanto pra fazer o evento, e ver essa reação é muito positiva pra que eles tenham ânimo de seguir em frente”, diz Furlim. “As palmas são um jeito contido de comemoração, e não são nada escandalosas como gritos e tudo mais, então se encaixam bem em eventos assim.”

Fazendo analogia ao futebol no Brasil, ele explica que é natural, e meio óbvio, querermos comemorar quando o time para o qual torcemos consegue marcar um gol. “E, além de tudo, é normal pessoas baterem palmas em eventos de qualquer tipo nos EUA e na Europa. Se ver jogos de futebol na Inglaterra, o público aplaude no fim de jogadas boas, mesmo não saindo o gol, como forma de incentivar os jogadores a continuar tentando. No final de cada ponto do tênis, há as palmas.”

Por fim, Furlim toca num ponto que muitos que não acompanham com frequência eventos do gênero já possam ter pensado sobre: “Então, elas podem até parecer forçadas algumas vezes nos eventos de speedrun, mas eu acredito que elas ainda são espontâneas na maioria das vezes”.

Eventos de speedrun são peculiares para a maioria das pessoas que, de alguma maneira, aprecia videogames. Piadas de cunho específico, pessoas narrando movimentos extremamente complexos, jogos sendo desmembrados etc. O bater palmas, por sua vez, parece já estar enraizado na cultura dos eventos.

“Acho que as palmas são bem importantes para o evento como um todo”, contou Luigi quando questionei se as palmas já haviam se tornado uma tradição. “Elas não só são uma forma dos presentes mostrarem para o runner que estão gostando do show, como também ajudam até o mais alheio dos espectadores a perceber que aquela jogada foi importante.”

Já para Furlim, as palmas são sobretudo uma maneira de reconhecimento das jogadas feitas pelos runners. Segundo ele, “não precisam ser as palmas em si, se fosse qualquer outro tipo de reação positiva de quem está lá acompanhando já seria legal no meu ponto de vista”.

Para ser honesto, eu costumo bater palmas quando estou assistindo a alguma speedrun. Temendo ser o único a praticar o ato mesmo fora de um evento propriamente dito, e a fim de saber se a ação poderia estar tão vinculada aos eventos que poderia transcendê-los, indaguei-os se também fazem o mesmo. De acordo com Baldo, ele não o faz. “Não costumo bater palmas quando não estou. Se tenho acesso a algum chat envio algumas palavras ou emotes”, diz.

Segundo Luigi, ele não é da galera que bate palmas fora dos eventos, optando pela verbalização. “Quando acompanho uma maratona de casa, ou então quando assisto a stream de um runner, eu costumo vibrar com os truques mais difíceis e que parecem mais desafiadores, mas as palmas eu guardo para quando estiver in loco. Claro que tem quem aplauda, assim como tem quem bata palmas após um filme no cinema ou um voo bem sucedido, mas não sou dessa turma.”

Furlim me contou que se empolga bastante com algumas runs, não apenas batendo palmas, mas vociferando com transmissões — o que me deixou bem mais tranquilo. “Por ter contato com algumas pessoas das comunidades de Mario (franquia que amo e pego pra fazer speedruns), sempre que alguém está lá correndo num evento, torço e fico empolgado quando acertam os “tricks”, pois sei o quão difícil alguns são”, explica.

“É algo que vem naturalmente pra mim, como torcer pra meu time de futebol, como falei antes. Só que em casa eu não me contenho e às vezes saem uns berros. Em eventos assim, com mais gente em volta, todo mundo se contém mais, então as palmas são bem adequadas à situação.”

No final, o bater palmas não tem uma origem especial, tampouco um nascimento histórico para eventos de speedrun. Porém, trata-se de uma das maneiras de demonstrar apoio àquele que se encontra jogando a fim de terminar o jogo o mais rápido possível. De qualquer maneira, a prática é, de fato, um dos principais aspectos de eventos de speedrun, especialmente para aqueles que não possuem grande conhecimento acerca do assunto.

Sendo assim, eu continuarei batendo palmas em casa e certamente muitos o farão em maratonas presenciais.

 

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