Desde que ganhou o Oscar de melhor filme com Argo, Ben Affleck vem acertando em diversos aspectos de sua carreira, o que lhe deu a chance de se aventurar em novos projetos, muitos deles bem perigosos, como interpretar o novo Batman após a trilogia de Nolan. A Warner se tornou sua casa e lá ele participou de 4 filmes em 2016, se contarmos sua pequena aparição em Esquadrão Suicida. O Contador e Batman VS Super-Man foram dois dos outros três projetos do ator junto com a Warner, mas faltava mais um para fechar o ano.
A Lei da Noite, adaptação dos livros de Dennis Lehane, foi lançado no final de dezembro nos Estados Unidos trazendo Ben Affleck como diretor, roteirista e protagonista do filme em uma história que copia muitos aspectos de clássicos que usam a Máfia Italiana e a luta por território do crime organizado como pano de fundo. Muito bem ambientado na década de 1920, o filme traz diversas reviravoltas e uma história de amor, confiança, mortes, tiroteios e muito diálogo político.
Não há nada novo


O filme não traz necessariamente nada que você já não tenha visto em outras obras do gênero. Joe Coughlin (Ben Affleck) é um assaltante filho de um policial que, mesmo estando muito próximo de famílias perigosas do mundo da Máfia, tenta ficar o máximo possível distante de se tornar um gangster, para não precisar ficar ao lado de nenhuma das famílias fortes da região, como os Pescatores e os Whites, que batalham entre si pelo posto de maiores vendedores de bebidas alcoólicas em uma época em que os Estados Unidos colocou em vigor a Lei Seca, proibindo a fabricação, comércio, transporte e exportação de bebidas alcoólicas diante da regressão pós primeira guerra que o país estava sofrendo, antes de começar a se tornar a potência que conhecemos hoje em dia.
Joe Coughlin parece muito com outros personagens que Ben Affleck fez no passado, e apesar de uma boa atuação do ator, ele acaba não fugindo dos muitos clichês que o gênero criou ao longo dos anos e simplesmente não marca. Primeiro ele não quer se envolver com a máfia, depois vê que esta é a sua última alterativa após sofrer uma tremenda traição e entra neste mundo em busca de vingança. Então o filme entra num mar de acontecimentos que são bem dirigidos e construídos, apesar de alguns eventos se prolongarem demais e tornarem o filme sem ritmo em alguns momentos por conta da quantidade de diálogo. Mas não se engane, A Lei da Noite não deixa a peteca cair, apenas falha em pequenos momentos que não chegam a ser cruciais e dizer se você vai gostar ou não desses momentos mais lentos vai depender muito do quanto você se envolver com o filme desde as cenas iniciais, onde aos poucos a história vai mostrando onde quer chegar.
Personagens muito bons


Por se tratar de uma adaptação de um livro, A Lei da Noite conta com diversos personagens interpretados por grandes atores e todos eles aparecem tempo o suficiente para cada um marcar a obra de alguma maneira. Desde o fiel Dion Bartollo (Chris Messina) até a confusa Emma Gould (Sienna Miller), que parece não ter importância nenhuma e do nada se torna responsável por uma grande reviravolta na história e no comportamento de muitos personagens do filme.
A forma com a qual Joe Coughlin influencia no futuro e a vida de todos ao seu redor é surpreendente e empolgante. O personagem é bem construído, possui suas próprias crenças, apesar de em alguns momentos se mostrar fraco para o mundo que vive. Fica evidente que diante daquele cenário de intrigas, chantagens, ameaças e negócios, poucos podem sobreviver ou manter a sanidade.
Faltou um ar mais mafioso


A história de a Lei da Noite parte por caminhos inesperados por diversos momentos, ligando cada acontecimento de uma forma interessante, mas que não chega a ser notável. Violento quando precisa ser violento, o longa parece preguiçoso e presunçoso em outros, com cenas em que pessoas importantes andam de carros conversíveis mesmo com risco de alguma bala voar de repente nas suas orelhas.
Falta aquele ar de perigo inesperado, de maldade e de melancolia que filmes sobre Máfia possuem, que há anos não são como eram antigamente, como em O Poderoso Chefão, por exemplo. A comparação pode ser irreal, mas se você for ao cinema buscando este tipo de filme, pode acabar ficando decepcionado. Pense que A Lei da Noite é uma versão mais light deste tipo de filme.
Vale a sua ida ao cinema


Não espere sair do cinema pensativo, procurando momentos marcantes ou teorias sobre o que verá em A Lei da Noite. Ben Affleck fez um solido trabalho junto com sua equipe de produção, mas as ambições eram muito maiores para o que o filme acabou se propondo a ser realmente, tanto que os $65 milhões investidos no longa dificilmente retornarão aos cofres da Warner. Talvez A Lei da Noite tenha sofrido mais com sua data de lançamento lá fora, na última semana de dezembro, do que realmente com a qualidade final do longa. Com a baixa arrecadação, foi fácil pra mídia em geral jogar pedras e dizer que Ben Affleck está trabalhando em muitos filmes ao mesmo tempo e realizando realmente muito pouco.
Mas não é assim que você deve ver A Lei da Noite. É um filme competente, que possui seus erros, alguns até graves, mas que consegue entreter e te entregar duas horas de boa diversão. Boas reviravoltas, personagens bacanas, alguns até marcantes, no geral temos um filme que consegue ser 70% do que se propõe, mas fica longe de ser um marco ou se tornar algo memorável.