“Starfield” é o mais recente lançamento da renomada empresa de jogos Bethesda, desenvolvedora conhecida por criar títulos marcantes como Fallout e Elder Scrolls: Skyrim. Uma simples menção do nome do estúdio já carrega um certo peso e expectativa, indicando algo grandioso no horizonte. No entanto, o que realmente define a magnitude de “Starfield” só pode ser compreendido plenamente ao vivenciá-lo. Esta review abordará os diversos aspectos desse jogo, explorando tanto os pontos positivos quanto os desafios que ele apresenta.
Starfield e sua concepção


O novo game da Bethesda é um RPG absurdamente enorme com um escopo, literalmente, sideral. Ou seja, isso significa que o jogador poderá visitar centenas, até milhares (caso tenha muitas vidas) de planetas ao redor de inúmeros sistemas solares. Só por esse escopo você já consegue imaginar que algo imenso estava no forno.
Dentro do jogo, uma narrativa serve como guia para determinados locais, mas as possibilidades de jogabilidade são tão vastas que o jogador precisa de um foco preciso mais do que nunca, a fim de não se perder em infinitas explorações. Nele, os cenários variam entre planetas meticulosamente trabalhados, onde cada detalhe foi cuidadosamente inserido à mão (handcrafted), e planetas totalmente gerados de forma processual. Nesse último caso, o jogo cria automaticamente, de maneira planejada, os elementos que compõem o ambiente.
Starfield possui uma narrativa densa que mistura ficção científica com filosofia e uma pitada de fantasia. Enfim, há muito o que falar desse projeto, portanto, embarque nessa nave textual e ative o motor da leitura gravitacional (brega, eu sei).
Aspectos técnicos de Starfield


Eu joguei o game no PC e, vale ressaltar, que tenho uma placa de vídeo NVIDIA RTX 4070, ou seja, é uma das placas mais parrudas do mercado e que conseguiu tankar 4K a praticamente 60 FPS, embora tenha ocorrido algumas quedas de quadros em determinados pontos. Realizei também o teste em um monitor de resolução 1080p, onde as quedas de desempenho ocorreram nos mesmos locais.
Os gráficos são muito bonitos e com modelos de personagens, pelo menos os principais, razoavelmente bem feitos, se tratando de um escopo desse. Os NPCs deixam a desejar, pois estão com pouquíssimos detalhes, mas apesar disso, tem uma variação de modelos interessante. As texturas variam muito de acordo com o bioma, com a ideia do local em si. Por exemplo, tem locais que o chão, plantas e árvores não estão satisfatoriamente bons, contudo, em outros lugares você já consegue encontrar um pouco mais de esmero. Mas no geral, o visual tem saldo positivo.
A trilha sonora merece um destaque excepcional, sendo verdadeiramente magnífica. Ela consegue criar uma atmosfera leve e envolvente que evoca lembranças de filmes como “2001: Uma Odisseia no Espaço” e “Interestelar“. A trilha sonora também consegue empolgar nos momentos seguros e acentuar a atenção nos momentos de maior tensão. Simplesmente uma trilha, na minha visão, memorável.
Por sua vez, o Voice Acting está satisfatoriamente bom. Lembrando que o jogo não tem dublagem, apenas legendas em PT-BR.
A narrativa de um jogo no espaço


Um elemento complexo a se tratar. Narrativas em videogames costumam fazer parte dos meus grandes interesses. Uma história boa e bem contada é sempre um deleite. Mas sabemos que no videogame, às vezes elas ficam em segundo plano. Em Starfield, você pode definir se a narrativa vai ditar sua jogatina, ou se a sua vibe é conquistar/explorar o espaço. Ambos te trarão experiências muito interessantes e algumas frustrações.
Na cultura pop, dois dos grandes representantes de produtos que tem o espaço como pano de fundo são “Star Wars” e “Jornada nas Estrelas“. Um segue uma linha mais fantasia, ação e aventura, já o outro busca mais o lado Sci-Fi e exploratório. Pois bem, devo dizer que Starfield, apesar de pender mais pro lado Jornada nas estrelas, tem o seu lado Star Wars, dependendo da maneira que você jogar. O que vocês podem perceber até agora é que a liberdade de fazer as coisas pode definir, inclusive, a dinâmica de sua história dentro do game. Aparentemente são lados opostos da moeda, mas nesse jogo, você consegue viver os dois.
A narrativa segue dois caminhos chave. Um deles parecia pouco interessante, ou que não despertava tanta curiosidade. Mas ao longo da jornada foi mudando, tornando-se cativante até culminar em uma coisa que eu, particularmente, gostei muito. Ele propõe, sem querer querendo, uma discussão filosófica que é super atual, mesmo o jogo se passando centenas de anos depois. Já o segundo, parecia ser uma ideia diferente no começo, mas mesmo não sendo ruim, poderia ser muito melhor – não vou dar spoilers o/.
O gameplay é a parada mais complexa que eu já joguei na vida


Essa parte vai demorar um pouco, então senta e pega a pipoca pra ler. O game design de Starfield é difícil de decifrar, mas serei honesto com a minha experiência precisa que tive do game. Tudo começa com a produção do seu personagem, que já de início você define alguns status e alguns direcionamentos. Assim, você já tem uma inclinação ao seu estilo de jogo, mas isso pode ser alterado a qualquer momento.
O jogo tem um pace muito lento; é difícil sacar isso logo de cara. Difícil de se acostumar também, pois somos acostumados a ter tiro e porradaria desde o primeiro minuto de qualquer jogo, mas esse é diferente. No começo parece um porre, confuso, enfadonho, mas depois que você começa a entender o funcionamento das coisas, um campo de possibilidades se abre.
Conflitos e confusões


Starfield não te pega pela mão e te ensina a fazer as coisas, infelizmente. Por mais que, ao longo da jornada você aprenda, ter no mínimo uma instrução básica no início era necessário, pois o nível de complexidade que ele te apresenta é absurdo.
Eu senti como se eu estivesse na primeira série do ensino fundamental e o jogo me jogasse na 5ª série. Perdido, sem entender muita coisa. Itens pra todo lado, escaneamentos, trocentos tipos de munição, detalhes de crafting, de exploração, de economia, upgrades de personagem, de nave, de item, de tudo. É uma verdadeira salada e, no princípio, isso assustou e deixou uma sensação de falha no game design.
Não entendam errado, descobrir as coisas em Starfield é o grande barato, entender como funciona a engrenagem é brilhante, mas algumas dessas mecânicas podiam ser um pouco mais amigáveis e intuitivas. Então, preparem-se, pois a grande maioria das coisas você vai precisar entender na raça! Mais uma vez, é muito gostoso descobrir tudo assim, mas há momentos que uma indicação era necessária.
Um Crafting e Upgrading pra lá de complexo


Se tem uma coisa que Starfield não economizou é nas invenções de upgrade e crafting. Ambas estão interligadas em vários pontos, o que deixa tudo mais labiríntico. Exemplo: O jogo propõe algumas bancadas que servem pra você craftar itens. Mas esses itens precisam ser liberados por uma bancada de pesquisa. Porém, essa pesquisa só pode ser feita com determinado material. Há casos em que a pesquisa também só pode ser feita se uma habilidade for adquirida na sua árvore de skills. Após isso, você deverá coletar ou craftar outros itens pra poder fazer um upgrade em uma arma, ou no seu traje espacial.
Enfim, até você upar seu fuzil, você já fez um doutorado em elementos químicos. Vale destacar que, apesar de ser complexo e, no início, muito confuso, depois que você acostuma vira uma grande exploração.
Já os upgrades do personagem são bem extensos e uns bem específicos. Você tem 5 cadeias de árvores, são elas: Físico, Social, Combate, Ciência e Técnico. Cada um tem entre 16 e 17 habilidades para serem upadas. Porém, cada habilidade tem 4 níveis. Por exemplo: A habilidade Bem-Estar concede o máximo de 10% a mais de vida, no nível 1, 20% no 2, 30% e 40% no último nível, o quarto. Mas não é simplesmente colocar o ponto de habilidade, não senhor. Quando você avança no nível 1, uma tarefa precisa ser cumprida antes do nível 2 ficar disponível. E para cada nível você gasta uma habilidade.
Combate


Acho que esse é um dos pontos que a galera mais está aguardando saber. Pois bem, mais uma vez, é difícil explicar tudo nos conformes, mas vamos lá. Starfield pode ser jogado em 3 câmeras diferentes – FPS, Tird Person e uma terceira pessoa com câmera Over the Shoulder. Assim fica a gosto do freguês como ele quer seguir sua jornada. Eu, particularmente, joguei mais no modo 3ª pessoa pra explorar e no 1ª pessoa para combater.
Ao longo do game você encontra uma gama enorme de tipos de armas, seja de fogo ou arma branca. Cada arma de fogo possui um tipo de munição e cada munição tem um calibre. Isso na hora de montar seu arsenal também é algo muito confuso, pois você acha que tal arma tem tal calibre, mas quando foi ver, não era a mesma munição que buscava.
Porém, o combate corpo a corpo achei ruim. Não tem impacto, a animação é ruim e o hitbox era esquisito. Já o combate com armas de fogo é muito melhor, mas ainda assim precisa de ajustes. Eu peguei um lança mísseis e, dependendo da parte do corpo do inimigo que eu atirar (costumou ser nas pernas), o tiro passava direto. Mas assim como na vida real, havia armas muito boas e poderosas, principalmente depois dos upgrades, mas também havia armas inúteis, fracas, e cheias de frescura, ou seja, imprestáveis.
O que mais deveria ser complexo em Starfield, não é


A IA de Starfield, talvez, seja a coisa menos complexa do jogo, pois o comportamento dos inimigos e dos amigos é muito ruim. Você está atirando em oponente, porém, vem um companion e entra na frente. Você está resolvendo um puzzle e, quando menos percebe, seu companion está atrapalhando sua visão, enfim, isso é algo que deve ser corrigido.
Já os inimigos se dividem em estrategistas e bobinhos. Enquanto unsparecem baratas tontas correndo pelo cenário, outros até se escondem direitinho e se posicionam pra te flanquear, mas a maioria é presa fácil. Também o level desses inimigos é estranho. Você no level 12 enfrenta um de level 30 e o que muda é basicamente o HP, ou seja, se você pegar a manha do tiroteio, não há inimigo pra você.
Por fim, o gameplay da NAVE


A nave é um caso à parte. Ela tem muitos pontos a se enaltecer e outros a se criticar. Explorar a nave pelo espaço é uma coisa interessante de se fazer. Explodir rochas para coletar materiais, conhecer planetas cada vez mais distantes, é uma das grandes ideias de Starfield. E isso precisa ser sempre feito com muita estratégia, ou seja, você pode escanear os recursos de um planeta pra saber se ele te serve antes de entrar nele. A nave também possui um compartimento para você guardar suas coisas, e além disso, você pode abrigar tripulantes que, inclusive, podem te ajudar nas explorações e tiroteios.
Contudo, os principais elementos das naves de Starfield não foram muito felizes: o Upgrade e as batalhas. Vale destacar que as batalhas começam a ficar mais legais depois que você adquire algumas habilidades para a nave, mas como eu não achei interessante essa mecânica desde o início, eu preferi seguir outra linha de upgrades. Mas digo que isso varia muito de pessoa para pessoa.
Agora os upgrades, esse daí não me desceu. É confuso, não é nada intuitivo e dá um baile na pessoa se ela não se ligar no que tem que fazer. Foi uma das coisas menos interessantes pra mim, e uma das que eu mais estava empolgado pra fazer, infelizmente.
Concluindo


Para mim, Starfield foi uma experiência muito nova e diferente de muitas das coisas que eu vi nos videogames. As pessoas podem querer comparar com outros produtos da Bethesda e sim, há semelhanças em alguns aspectos, mas isso vai até a página 5. Starfield segue um caminho único e difícil até de se comparar com qualquer coisa. Tem um escopo absurdo, interminável. Para título de curiosidade, eu terminei o jogo com 47 horas e fiz variadas side-quests, mas eu sinto que nem arranhei a estrutura.
A mudança da frustração e da complexidade do início pras descobertas no meio da jornada me fizeram entender a proposta. Talvez não seja um jogo pra todos, mas com certeza, quem se propuser a explorar a galáxia com ele não vai se arrepender. Não é um jogo perfeito, acho que ficou claro no review. No geral, há falhas no combate, bugs habituais de jogos de mundo aberto, uma falta de carinho em algumas mecânicas, mas há de se convir que esse jogo tem MUITO trabalho e esforço pra entregar algo único.
NOTA: 8.5
Starfiled estreará em 6 de setembro para Xbox Series e PC.