Se The Alters pudesse ser resumido em uma única palavra, essa palavra seria: complexo. Jogos são capazes de oferecer diversas experiências, sejam elas totalmente voltadas para a narrativa — onde o jogador precisa simplesmente andar pelo cenário e fazer escolhas — ou experiências que exigem concentração e altas doses de adrenalina. The Alters é mais um jogo que chega para proporcionar uma experiência totalmente incomum, diferente da qual você esteja acostumado.
Desenvolvido pela 11 bit Studios, conhecida pela franquia de RTS Frostpunk e pelo aclamado This War of Mine (2014), The Alters combina esses dois conceitos. O jogo exige do jogador senso de imediatismo e gerenciamento.
Com lançamento previsto para 13 de junho de 2025 nas plataformas PS5, Xbox Series e PC — e também disponível para todos os assinantes do Game Pass — o Combo Infinito teve a oportunidade de jogar antecipadamente graças a uma cópia enviada pela 11 bit Studios.
Depois do recente sucesso de Frostpunk 2, será que The Alters foi uma aposta ousada que deu certo? Se acomode e descubra em mais uma análise do Combo Infinito.
Uma ficção científica repleta de dilemas morais


Em The Alters, você assume o controle de Jan Dolski, o único sobrevivente de uma tripulação que partiu em uma missão em busca da substância Rapidium — capaz de clonar seres vivos, como humanos. Como único sobrevivente em um planeta inóspito, Dolski precisa sair dali, mas não conseguirá fazer isso sozinho. Ele vai depender de mais pessoas — ou melhor, de mais versões de si mesmo.
Como o nome do jogo sugere, essa abordagem narrativa Sci-Fi explora temas delicados como clonagem e dilemas internos relacionados às escolhas do passado que moldaram quem somos. O monólogo de Jan no início do jogo já dá o tom: somos produto do destino ou de realidades alternativas baseadas em nossas decisões?
Essa reflexão é íntima. Quem nunca pensou: “Se eu tivesse tomado outra decisão, minha vida seria diferente?” The Alters se apropria dessa ideia para explorar a clonagem tanto nas mecânicas quanto na narrativa. Acima de tudo, o jogo nos faz refletir — e abordar esse tipo de sentimento em momentos-chave da vida promove uma catarse de autodescoberta e aceitação.
Em certo momento, Jan cria seu primeiro Alter. Diferente do original, esse Jan é um técnico, não um construtor. Ele fez escolhas diferentes. Essas realidades contrastantes ampliam a narrativa e a tornam cada vez mais profunda à medida que novas versões do protagonista surgem.
The Alters apresenta um enredo rico e bem desenvolvido. Ele coloca o jogador diante de situações extremamente pessoais. Um Sci-Fi intrigante e libertador. Parte desse impacto vem da dublagem, que dá vida a cada clone com personalidades e nuances próprias. Sobreviver nunca foi tão pessoal.
Mais de mim é melhor?


A mecânica de criar clones de si mesmo fica disponível logo no início. Inicialmente, pensei que seria algo pontual, usado em momentos-chave da história. No entanto, a clonagem se aplica a partes relevantes da linha do tempo do protagonista. Nessas partes, escolhas passadas o tornaram, por exemplo, cientista, minerador etc. Criar versões suas pode ser feito a qualquer momento, de acordo com a necessidade e o nível da sua base. Trata-se de uma decisão estratégica — não apenas replicar-se por replicar.
Assim como em This War of Mine, The Alters exige do jogador imediatismo e gerenciamento de tempo. A diferença? Aqui, o jogador cuida de si mesmo — com dilemas e princípios distintos. Dentro da base móvel (uma roda-gigante), você expande estruturas, cuida dos clones (atribuindo funções, garantindo alimentação e descanso) e também faz incursões para coletar recursos e manter toda essa logística ativa.
A exploração oferece uma perspectiva em terceira pessoa — diferente da abordagem 2D na base. Essa mudança representa uma evolução comparada a This War of Mine. O contraste de perspectivas traz frescor às mecânicas de gerenciamento que a 11 bit Studios decidiu manter.
Mesmo que os clones sejam essenciais para a sobrevivência — e são —, conviver com versões de si mesmo me fez perceber que lidar consigo é ainda mais complexo do que lidar com outras pessoas. Cada Alter precisa estar em sintonia com o protagonista. Esse equilíbrio depende do bom gerenciamento da base e das interações. Lidar com cópias de si representa uma tarefa desafiadora. Convencê-los de sua importância e não tratá-los como meras ferramentas expressa a grande lição que The Alters propõe.
Ressalvas


Por outro lado, a cada nova parada no planeta, o jogador coleta recursos, resolve conflitos com os Alters e tenta evoluir a base. Com o tempo, essa rotina se repete, e o jogo apresenta pouca variedade de objetivos e exploração enquanto a base está parada.
Outro ponto é o desbalanceamento entre objetivos e recursos disponíveis. Para evoluir a base ou cumprir missões, você precisa de materiais específicos. O problema? The Alters oferece muitas missões, mas nem todas podem ser concluídas a tempo, devido à escassez de recursos. Como resultado, o desafio acaba se tornando mais frustrante do que justo.
Visuais que engrandecem a experiência Sci-Fi


The Alters utiliza a Unreal Engine 5 para dar vida ao seu universo Sci-Fi. A 11 bit Studios aproveitou bem o motor gráfico para criar múltiplos modelos de um mesmo personagem e um planeta visualmente belo e crível. Cada parada da base apresenta um cenário distinto, com seus próprios perigos e detalhes. Apesar de não serem áreas abertas, elas proporcionam uma tímida sensação de exploração. Ainda assim, recompensam o jogador com itens para os Alters ou para decorar a base.
Minha experiência foi na versão de PC, com uma Nvidia RTX 4070 Super rodando em 4K/60fps. Durante a jogatina, não presenciei quedas de frames ou crashes.
Se você é fã de Sci-Fi, The Alters é um prato cheio. A 11 bit Studios entregou uma experiência de altíssimo nível, com visual convincente e narrativa imersiva, digna de filmes como Interestelar e Perdido em Marte. No entanto, senti falta de eventos naturais no planeta — há apenas o aumento da radioatividade após as 20h (horário do jogo).
Mas afinal, The Alters é tudo isso mesmo?
The Alters é uma experiência espacial complexa, intimista e memorável. A 11 bit Studios acertou ao investir em uma temática bem diferente de Frostpunk e This War of Mine. Mesmo sendo herdeiro de ideias desses jogos, The Alters é autêntico em sua narrativa profunda e ambientação convincente.
Mesmo com sua complexidade, dê uma chance a The Alters. O jogo vai te envolver e provocar reflexões filosóficas marcantes.
VEREDITO: The Alters é uma experiência sci-fi autentica e intrigante. Sua narrativa e visual o posicionam com uma do melhores games de viagem espacial da última década. Contudo, apenas coletar recursos e gerenciar uma base pode se tornar uma ideia cansativa ao longo da jornada. – João Antônio