Nioh é um daqueles jogos que te conquistam de repente e trazem uma experiência sem igual no mundo dos games por contar com uma imersão soberba, desafio na medida e jogabilidade praticamente perfeita. Com produção iniciada em 2004, o jogo passou por diversas modificações por 8 anos, até que caiu nas mãos competentes e experientes da Team Ninja, o mesmo estúdio que trabalhou em Ninja Gaiden. Mas aí você pensa: “este jogo parece Ninja Gaiden, aquele jogo difícil, mas totalmente genial?“.
Não senhor, NioH está mais para um Dark Souls, porém chega a ser infame de minha parte criar essa comparação de forma gratuita, já que NioH possui características próprias o suficiente para ser considerado algo muito além de um clone, talvez até um impulsionador do gênero que a From Software acabou criando com Demon Souls, Dark Souls e Bloodborne. NioH é como uma receita de um bolo de cenoura, que já é excelente, aí alguém vai lá e tem a genial ideia de botar chocolate como cobertura e tudo fica ainda mais gostoso.
Muitas betas depois…
NioH passou por diversas fases de teste no ano passado e não tenha dúvidas que a comunidade ajudou, e muito, na evolução que o game apresentou em sua versão final. Extremamente mais polido, mais bonito e com jogabilidade mais sólida, se compararmos a versão Alpha com a final veremos muitas semelhanças, o que comprova que a ideia original se manteve, mas é nítido que a Koei Tecmo e a Team Ninja pegaram tudo que os fãs disseram sobre o jogo, o moldaram e modificaram sem perder a característica principal e o feeling de que o que eles pensavam para o projeto foi alcançado.
Aos poucos observamos também uma queda na dificuldade do game, que em sua primeira versão de testes era bem difícil, passando muito perto do que é um jogo da série Souls. A ideia dos ressurgidos, que vamos explorar mais a frente neste texto, dava a sensação que poderíamos nos aventurar a enfrentar pessoas mais fortes que nós em qualquer momento da campanha, mas mesmo um inimigo de level baixo era perigoso demais. O tutorial que surgiu em uma das últimas betas ajudava, e muito, a entender as mecânicas que o jogo teria. Fato é que as fases de testes gratuitas foram de extrema importância pra Koei Tecmo criar um jogo mais próximo do que a galera queria, pra mostrar seu projeto para todo mundo e criar aquele vínculo esperto com uma comunidade que não conhecia NioH.
O diferencial está na história
Quando NioH foi apresentado como um exclusivo do PS4, a comparação com Onimusha se deu por tratar de um game que se passa no Japão feudal e trazer um estilo de jogo semelhante, mesmo que na época ainda não traçássemos um comparativo com a série Souls. Com o jogo final em mãos e após jogar semanas a fio, posso dizer com clareza que NioH possui sim inspirações em Dark Souls por conta de sua jogabilidade, mas faz bem melhor no que diz respeito a história por trazer realmente algo legal de se acompanhar, bem contada e com nomes conhecidos da história japonesa, como o caso de Hattori Hanzo, Oda Nobunaga, Miyamoto Musashi e o próprio William Adams, que é o personagem principal do game, claramente baseado no primeiro inglês a pisar nas terras nipônicas.
Como era habilidoso com a espada, ele foi ganhando espaço em uma das épocas mais intensas da história do Japão, o Sengoku, onde o país vivia uma espécie de Guerra Civil que resultou na divisão de poderes entre dois clãs: o Tokugawa e o Toyotomi, onde o primeiro deles tomou conta do lado leste do Japão e o segundo do lado Oeste.
Os Yokais
Porém, Nioh vai além e traz uma espécie de mitologia pra dentro de sua história que faz jus a tudo que o game nos apresenta, com a presença dos Yokais, criaturas maléficas de outro mundo que surgem do nada em sua frente através de uma fumaça densa, ou os mais fracos que já aparecem no mapa. Além da Guerra entre os humanos, William também precisa destruir as criaturas horrendas que aparecem em vilarejos, cavernas e onde mais for preciso, para trazer paz ao lugar novamente.
Assim, a história de NioH lembra demais Onimusha, por seu tema e por contar com todos os nomes importantes da história do Japão numa mistura também com Assassin`s Creed, por retratá-los como personagens importantes da narrativa e levá-los para novos rumos dentro do game. O jogo ainda consegue criar sua própria mitologia trazendo os Yokais como inimigos primários. Mas ainda existem outros elementos mágicos que fazem a presença de William ali ser tão importante. O personagem perde um espírito guardião que o acompanhava logo no começo do jogo e ele então parte em uma busca incessante, se envolve com tudo que falamos acima sem que o jogo lhe dê muitas explicações, criando um mistério enorme em torno de William. Pode parecer confuso, mas ao ver só o começo do jogo você já passa a entender o quanto NioH faz um ótimo trabalho no quesito história, contada de uma maneira que fisga o jogador em uma viagem sem volta.
O Espírito Guardião que lhe protege até na morte
Novamente, a comparação com os jogos da saga Souls é inevitável e além da dificuldade, NioH faz uso do sistema de morte que permite ao jogador recuperar seus itens de evolução, que aqui de NioH é uma energia chamada Amritas. Existem diversas formas de se adquirir esta energia. A primeira delas e a mais comum é matando os inimigos, que após morrerem, deixam uma parcela de Amrita que são sugadas para o corpo de William. É possível também encontrar alguns cristais que quando utilizados, fornecem uma quantidade limitada de Amritas.
Os locais que o jogo salva o seu progresso, chamados de Santuários, podem ser encontrados durante suas caminhadas no cenário e toda vez que você acha um diferente também recebe uma quantidade de Amritas. Nestes Santuários que fazemos uso das Amritas para evoluir as habilidades de William, como corpo, vida, força, espírito e muito mais. Cada jogador vai acabar evoluindo o personagem de uma forma diferente, já que cada estilo de luta ou de ação tem um elemento ligado totalmente à ele. Como exemplo, eu jogo muito usando um machado e para evoluir o uso desta arma, é necessário investir as Amritas em força.
NioH tem uma quantidade insana de equipamentos, armas e amuletos que você consegue nas batalhas e tudo acumula muito fácil. Você pode levar estes equipamentos para o ferreiro, no entanto eu vejo um melhor uso para o que não vou usar mais se usado como oferenda nos santuários. Ao fazer uma oferenda, uma quantidade de Amrita é revertida em troca do equipamento, quase como se você estivesse vendendo seus equipamentos em troca de Amritas. É uma forma mais ágil de evoluir o personagem ao mesmo tempo que você recicla uma quantidade insana de itens que não vão ser vir pra muita coisa.
Mas de nada vai adiantar ter muitas Amritas se você morrer demais. Quando você morre, um túmulo é formado e seu Espírito Guardião passa a guardar o local. Então você deve chegar até a posição que seu túmulo está sem morrer, para ter uma chance de se recuperar. Se perder a vida durante o caminho do checkpoint até o local de seu túmulo, o Espírito Guardião retorna para você e todas as suas Amritas que ele estava guardando vão pro espaço.
Esse espírito Guardião ainda pode lhe ajudar nas batalhas e essa é uma das grandes diferenças de NioH para os jogos da linha Souls. Como numa espécie de especial, ao apertar Círculo e Triângulo, o espírito Guardião começa a envolver William e sua espada dando poderes sem iguais durante um curto período de tempo. A grande sacada aqui é deixar pra usar deste elemento em momentos chave, como contra inimigos que se escondem nas fumaças negras ou chefes próximos da morte.
É possível alterar o espírito Guardião e cada um deles possui status próprios, como força, tempo de uso, elementos e muito mais. Saber quais deles são os melhores para cada momento de NioH é uma ótima forma de se manter vivo.
Evolução dos Equipamentos
NioH é um jogo bastante complexo, mas ao mesmo tempo é extremamente bem construído e convidativo. Acredito que mesmo que você não tenha muitas experiências com gerenciamento de recursos, criação de armas, armaduras, ainda assim vai se sentir tentado a cada nova missão, dar uma passada no ferreiro, que aqui é uma bela mulher. É possível criar novas armas, reforjar as que você tem, desmontá-las a fim de conseguir matérias primas e muito mais.
Uma das opções mais legais é unir as forças de duas armas diferentes, já que muitas vezes sua arma de nível mais baixo, possui força maior que uma de nível mais alto. Assim, você pode fundir as duas aumentando o nível da arma mais forte, resultando numa melhora muito boa de sua arma preferida. Cada arma possui também um nível de afinidade, que aos poucos vai adicionando melhorias na espada ou armas de longo alcance.
Sim, NioH não vive apenas de espadas e machados e também é possível usar Arcos, Armas de fogo e canhões. Como acontece de inimigos estarem longe ou muito juntos, além de muitos deles ficarem no topo de casas, é necessário evitar ser surpreendido e acertar os desavisados de longe. Usar desta artimanha para separar os inimigos também é muito válido. Estas armas de longo alcance também podem ser melhoradas de diversas formas.
Direto do mundo dos mortos
NioH é simplesmente viciante. A gente tem os objetivos normais dos estágios que são referentes às missões da história, mas sempre dá vontade de conhecer cada canto do mapa, pegar todos os baús, conhecer os inimigos e ir além. Como se não bastassem os inimigos comuns, você ainda pode desafiar o Espírito dos demais jogadores pelo mundo, que morreram próximos de onde você está jogando. Com um túmulo no chão envolto de uma energia vermelha, com uma espada fincada no meio, estes locais explicam até mesmo como o jogador perdeu ali, lhe dando vantagem inclusive para saber que tipo de perigos há ao redor de William. Se surgir que foi morto esmagado por um Ciclope, tenha certeza que um destes inimigos estará por perto.
Ao invocar um ressurgido, que são estes espíritos dos demais jogadores de NioH, você precisa derrotá-los para ir conquistando mais moral no mundo do jogo e assim poder melhorar as habilidades de William. Apesar de ser uma função extra do game, os ressurgidos passam a ser fundamentais para sua evolução e uma ótima forma de treinamento, portanto é necessário enfrentar estes inimigos sempre que possível.
Após cada estágio você precisa ficar ligado em novos pontos do mapa para missões extras e crepusculares, que trazem ou algum nível de dificuldade mais alto ou novos acontecimentos dentro de cenários que você já passou. Como geralmente estas missões fazem uso de locais menos abrangentes, tornam a jogatina mais curta, mas totalmente desafiante. Aqui também é uma ótima forma de ir melhorando seu personagem através de equipamentos e itens que só aparecem nas missões extras, além de explorar mais da história de NioH.
Além disso, você ainda pode jogar cooperativamente com algum amigo, solicitar ajuda para algum estágio que você não está conseguindo passar e muito mais. É como se NioH soubesse que é difícil, mas não quer deixar você desistir de terminá-lo. A única limitação aqui é que você só pode cooperar com alguém em estágios que você já terminou, muito provavelmente para manter partes da história que você não viu seguindo uma ordem cronológica perfeita.
Um exclusivo de peso e obrigatório
A Koei Tecmo fez um excelente trabalho junto com a Team Ninja e nos trouxe um jogo memorável, que consegue fazer uso da própria experiência da empresa com Ninja Gaiden e pega emprestado inspirações de outros jogos para criar uma aventura fantástica, um jogo de samurais que há muito tempo estávamos aguardando. NioH é praticamente perfeito, não cansa, vicia, eleva este estilo de jogo a um novo patamar e ainda nos brinda com uma jogabilidade difícil de largar. Tudo é muito bem polido e torna este um dos jogos mais importantes de 2017, um ano que começou arrebentando para o console da Sony.
Então não pense duas vezes, NioH pode ser o jogo que você esperava por anos e não sabia. Ele não é somente recomendado, é obrigatório!