Análise | The Caligula Effect é um RPG que tenta ser profundo, mas peca pela repetitividade

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Todos nós temos anseios, desejos, decepções, traumas e sonhos. Apesar de serem coisas totalmente distintas, esses sentimentos e acontecimentos vivem entrelaçados na linha tênue da vida, que em qualquer deslize ou decisão mal pensada pode acabar se rompendo, mexendo com sua mente e com aqueles que estão ao seu redor e muitas vezes, não tem volta. O mundo que vivemos passa a não ser mais o bastante e como o ser humano é capaz de se adaptar a diversas condições, é natural que em sua própria cabeça ele comece a criar um mundo utópico onde tudo conspirará para a sua alegria.

The Caligula Effect toca exatamente neste tipo de assunto, cheio de questões sem respostas que fazem parte do mistério que é viver e passar por cima de qualquer obstáculo. O problema é ainda maior quando se está na cabeça de adolescentes que não possuem limites e imaginam que em cada esquina alguma coisa vai acontecer para acabar com seus planos mais intensos e suas reações são sempre inexplicáveis e inesperadas. Dentro deste conceito, um grupo de pessoas cria um programa de realidade virtual chamado Mobius, que permite que qualquer pessoa possa entrar em um mundo diferente em que ficarão para sempre na vida de adolescentes colegiais. A grande maioria das pessoas que buscam esse programa estão passando por momentos de muita dor, decepção ou quase desistindo de viver e encontram em Mobius uma saída. Embora nem todos que ali estão, concordem com isso.

O Fanatismo

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Temos aqui então um JRPG desenvolvido pela Aquria e distribuído pela FuRyu em parceria com a Atlus que usa muito bem o conceito das Idos asiáticas, que são uma espécie de outra categoria de artistas que vendem uma imagem de inocência e a jovialidade. Dentre todas as idols existentes naquele mundo, a de maior destaque é “μ”, que com sua música consegue manter as pessoas confortáveis naquele mundo, já que seu amor pela artista acaba criando uma forma de vida para eles. Se pararmos para pensar que quem está em Mobius está fugindo da vida real, viver em um mundo de fanatismo acabe virando uma alternativa plausível para suas realidades. Mobius vai aos poucos se tornando a única vida dessas pessoas, que não querem de forma alguma voltar ao que tinham antes na vida real, decidindo que a realidade virtual é a melhor e permanente saída para elas.

Assim, a grande maioria das pessoas que estão em Mobius acabam esquecendo de suas vidas reais. A vida de colegial com as Idols e suas belas músicas se tornam seu maior prazer, além de suas conexões e amizades novas que ali foram surgindo. Porém, o personagem que jogamos (que você decide que nome terá), acaba percebendo que aquele mundo não é real e descobre que um grupo de pessoas formou um movimento chamado Go Home Club que pretende encontrar uma maneira de sair da Mobius. No entanto, “μ” possui muitos seguidores e a tarefa começa a se mostrar muito mais difícil do que o esperado.

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Sentimentos a flor da pele


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Em busca de uma saída, encontramos uma nova Idol, porém ela não tem total formação dentro do sistema Mobius, parecendo mais como uma pequena fada envolvida por uma grande luz. Através dela, enquanto nosso personagem estava envolvido pela emoção do momento em que descobriu a verdade e que Mobius não é sua realidade, a pequena Idol canaliza os sentimentos de raiva e decepção, aliados à vontade de viver na realidade de nosso personagem, fazendo com que ele passe por uma transformação que lhe garante poderes. Aqui, conseguimos ver como The Caligula Effect se inspira em Persona, que além de também se passar enquanto os personagens são colegiais, usa da mesma forma os sentimentos mais profundos das pessoas para garantir à elas algum tipo de poder ou transformação, como uma representação física de seus sentimentos.

Embora os integrantes do Go Home Club também acabem passando por transformações benéficas, como nosso personagem, o que acaba garantindo à você a chance de ter um grupo de amigos lutando pela liberdade daquele mundo medonho, nem todos que vivem em Mobius possuem a mesma sorte e seu fanatismo acaba gerando transformações grotescas que garantem pedaços de armaduras e armas escuras e com forma de demônios. Quanto mais dor a pessoa possui em seu coração, pior é sua transformação, exigindo que os integrantes do Go Home Club entrem em combate com estes colegiais, chamados de almas perdidas, se tornam seus inimigos mais comuns, já que encontramos com eles em qualquer corredor.

Sistema de combate cheio de Combos

Para você ter uma ideia, tudo isso que citei acima se passa em poucos minutos de jogo, quase que uma explicação realmente do que se trata The Caligula Effect e poucos minutos depois já estamos entrando em nosso primeiro combate. Sem dúvida nenhuma o sistema de combates deste jogo é a principal razão dele existir. O estúdio FuRyu criou um formato de batalhas que mistura jogos de RPG por turno com estratégia, com uma linha do tempo que permite que você ajuste quando e como os ataques serão feitos, com uma prévia do que poderá ocorrer. Quando você escolhe o ataque que fará, aparece qual a porcentagem de chance do ataque ser um sucesso, junto com um pequeno vídeo em tempo real do resultado dele, se o inimigo vai conseguir atacar antes ou se você prevalecerá. Assim, é possível criar diversas combinações com muitos efeitos bem legais.

Um inimigo de pé possui a chance de lhe atacar e acabar com sua sequência, então usar habilidades que derrubem ou levante o adversário é um dos primeiros critérios para o sucesso. Cada personagem pode desferir três ataques sequenciais, mas como você pode decidir na linha do tempo quando cada ataque será desferido, você pode então usar uma habilidade que jogue o inimigo pro alto e começar uma sequência de combos capaz de matá-lo já no primeiro turno. O próprio jogo lhe incentiva a fazer isso, dando mais pontos de experiência nas lutas que acabam rápido e com a maior quantidade possível de hits. Acredite, não demorará muito para que você faça combos de mais de 100 hits. O sistema de batalha de The Caligula Effect é o melhor que o jogo tem a oferecer e pode ser a grande razão de a grande maioria dos jogadores continuarem a jogar, já que no geral, o game possui muito problemas.

Faltou aquela polida mágica


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Apesar de The Caligula Effect ser um jogo exclusivo do PS Vita, o estúdio Aquria não conseguiu tirar o máximo do aparelho. Apesar de contar com bons gráficos e efeitos especiais, o jogo sofre com muitos slowdowns e troca abrupta de câmeras durante os combates, confundindo demais o jogador e dando muito trabalho para que possamos ver a ação ocorrendo sem interrupções ou problemas. É possível apertar triângulo, pausando a ação e escolhendo um novo ângulo de visão, mas seria muito melhor se o jogo mesmo fizesse isso para você, mesmo que tivesse que usar diversos tipos de tomadas de câmera. Além disso, diversas vezes você verá paredes e partes do cenário sumindo na sua frente, deixando estruturas negras e mal acabadas na tela, uma vergonha.

Os cenários sempre começam muito bonitos, detalhados, mas conforme você anda por eles em busca de seus objetivos vai acabar percebendo que são muito iguais, tratando-se de corredores com estruturas idênticas, fáceis de se confundir e que muitas vezes não explicam direito ao jogador o que ele deve fazer, levando-o para outros lugares idênticos onde finalmente dentro de alguma sala que você tem certeza que já viu igual, haverá algum monstro mais forte para tentar te parar. É chato, repetitivo, mas como entre um corredor e outro temos muitas lutas para compensar, é fácil jogar The Caligula Effect por muitas horas, mesmo que o jogo passe por altos e baixos constantemente.

Música legal que acaba dando nos calos

Um fator determinante para a narrativa do jogo é a música. Como as Idols são cantoras, elas precisam de músicas para manter os seus seguidores felizes e de repente estas músicas passam a ter efeito motivador para que as pessoas comuns se tornem seus inimigos, por quererem defender “μ” a todo custo. Na primeira hora de jogo você vai achar muito legal as músicas que tocam, mas depois de 5 ou 6 horas andando nos mesmos corredores, ouvir a mesma música, mesmo que com vocal e tudo mais, acaba se tornando massante.

As melodias só mudam quando você sai do cenário em questão para partir em busca de uma nova aventura em outro cenário, mas até lá será como se você tivesse ligado o Spotify numa canção gostosinha, cheia de ritmo, mas que se você ouve por 6 horas seguidas começa a dar nos calos. Ao menos os personagens tem ótimas vozes (japonesas) e garantem que nos momentos de diálogo (legendados em inglês) você terá boas histórias para acompanhar.

Um jogo que tenta dizer muita coisa

The Caligula Effect é um jogo com uma ótima intensão, mas que precisava de mais um ano de trabalho antes de ser lançado para transformar o game em algo mais chamativo, mais bem trabalhado. A história e as motivações dos personagens são muito legais, você percebe que todos os preconceitos que eles vivem ou possuem na vida real são carregados com eles para Mobius, então pessoas gordas ou diferentes serão sempre questionadas em um universo que deveria ser perfeito (para eles, ser gordo é uma imperfeição). Assim, os diálogos e a história vão garantir momentos de reflexão ao jogador, a medida que ele vai avançando na história.

Porém, as falhas do jogo são muito fortes e a repetitividade acaba andando lado a lado com a alta qualidade dos combates, criando uma nova luta dentro da cabeça do jogador: ou ele joga por conta do sistema de batalha divertido e cheio de nuances ou ele larga o jogo por não aguentar mais ver as mesmas coisas tantas vezes. Aí vai da afinidade que cada um vai criar com os personagens, que são muito bons, ou da real vontade de ver a verdade por trás dos mistérios da história. Sinceramente eu esperaria por uma promoção para comprar The Caligula Effect com um preço mais camarada e não se arrepender caso venha a não gostar do game.

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