Entre as Estrelas (Among the Stars) é mais uma das pérolas do cenário de jogos do Brasil. Este jogo 2D apresenta batalhas por turnos, ação, puzzles e muitas cenas narrativas feitas em uma animação desenhada à mão. Desenvolvido pelo Split Studio, estúdio brasileiro de animação que já trabalhou em Rick and Morty, Turma da Mônica e no longa O Menino e o Mundo – indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2016 –, entre outros, o jogo tem gerado grande expectativa.
Inspirado por títulos como Child of Light, Ori and the Blind Forest, Sea of Stars e Octopath Traveler II, Among the Stars se destaca ao se ambientar no Brasil e trazer uma protagonista feminina indígena. O projeto explora os desafios enfrentados no Pantanal Brasileiro, abordando questões importantes como desmatamento, mineração ilegal e invasão de territórios indígenas. Tudo isso é apresentado com um pano de fundo lúdico e de fantasia.
Para saber mais sobre esse projeto ambicioso, durante a Gamescom Latam 2024, o Combo Infinito teve a oportunidade de entrevistar Juliana Almeida, produtora de “Entre as Estrelas”, e as roteiristas Anne e Ingrid, que compartilharam mais detalhes sobre o projeto.
Histórias e personagens inspirados em comunidades indígenas


Conforme explica Anne, a principal inspiração para “Entre as Estrelas” veio das comunidades Guarani, Gaiová e Cadivel no Pantanal, que enfrentam desafios como a ação de grileiros, invasões, expulsões e inúmeras violências. O objetivo do jogo é retratar essas comunidades e conscientizar as pessoas sobre suas lutas, utilizando uma narrativa que mistura realismo mágico e fantasia.
“Queremos construir um universo mágico a partir da cosmovisão desses povos, para atrair o público e, ao mesmo tempo, conscientizar sobre as lutas políticas que eles enfrentam.”
O estúdio contou com consultores indígenas durante o desenvolvimento do jogo. Graciela Guarani, uma mulher Guarani, atua como co-diretora do projeto, e Anne, uma das roteiristas, também é indígena. A equipe também realizou pesquisas de campo nos territórios Cadivel e Guarani Gaiová, ouvindo diversas gerações.
“Estamos sempre preocupados em fazer junto com a comunidade, tanto para respeitá-los quanto para que se sintam representados. […] Vivemos em um país muito grande e diverso, e os Guarani Gaiová e os Cadivel têm uma cultura riquíssima, com música e arte. Queremos mostrar um pouco disso, trazendo consciência para os telespectadores sobre a riqueza cultural e mágica que temos no nosso país.”
“Também temos a preocupação e o cuidado de encontrar formas de incluir as comunidades no jogo, não só ouvindo-as, mas também incorporando elementos como desenhos das crianças. Mais para frente, passaremos por um processo de recrutar crianças indígenas para dublarem o jogo, incluindo atrizes mirins.”
Desafios e expectativas


Produzir jogos no Brasil sempre foi um desafio, especialmente em termos de financiamento. O estúdio responsável pelo jogo “Entre as Estrelas” enfrentou esses desafios desde o início, acreditando no grande potencial do projeto. Segundo explica Juliana, desde os primeiros rascunhos da história, ficou claro que essa era uma história que valia a pena ser contada, e que todo o esforço seria dedicado para captar os recursos necessários.
“Acredito que um bom projeto começa com a história que queremos transmitir para outras pessoas, a experiência que queremos criar, e depois pensamos em como realizá-la. Com ‘Among the Stars’ foi assim: começamos com os primeiros materiais, investindo com os recursos da própria empresa, e logo em seguida buscamos captar recursos por meio de editais.
Isso nos deu a tranquilidade para desenvolver uma demo, uma versão jogável muito positiva. Isso nos deu uma base sólida. Além disso, realizamos uma campanha de financiamento coletivo, que foi o pontapé inicial não só para captar recursos para o projeto, mas também para criar uma comunidade. Durante a campanha, fizemos uma websérie que viralizou no TikTok e nos ajudou a conquistar uma comunidade que hoje conta com cerca de 30 mil pessoas.”
Para o futuro, o estúdio planeja levar o jogo a publishers e parceiros potenciais, com a intenção de internacionalizar o projeto e alcançar um público maior. Dessa forma, a expectativa é que, com o apoio de um publisher, o lançamento do jogo possa ocorrer com mais tranquilidade.
Expansão do universo e futuros projetos da Split Studio
Após o lançamento de “Entre as Estrelas”, a Split Studio está focada não apenas em desenvolver conteúdos para o jogo, mas em expandir todo o universo criativo que o cerca. De acordo com Ingrid, “Among the Stars” não é apenas um jogo, mas uma propriedade intelectual que pode se estender para diversas mídias.
“A Split está planejando expandir o universo de “Entre as Estrelas” de várias maneiras. Isso inclui a busca por financiamento para um longa-metragem e o lançamento de uma websérie já em exibição. Então, pode esperar muitos conteúdos nos próximos anos.”
Por fim, vale lembrar que “Entre as Estrelas” conquistou um apoio significativo durante uma campanha de financiamento coletivo no Brasil em 2023, superando a meta em 179% e arrecadando aproximadamente R$ 269.875. Assim, se você deseja saber mais sobre o projeto e como contribuir para o financiamento coletivo, todas as informações estão disponíveis na página oficial do jogo no Catarse.