Em uma indústria saturada, encontrar produções que desafiam as convenções é uma experiência bela. Em 2017, a Ninja Theory optou por explorar a psicose nos videogames, trazendo uma jornada marcante e uma protagonista impressionante à vida. Levar os videogames para além do entretenimento puro é uma virtude que merece reconhecimento. E agora, chegando ao mercado de PC em 2 de maio de 2024, “Indika” é uma dessas obras que não teme fazer críticas enquanto entretém.
Desenvolvido pela Odd Matter e publicado pela 11 bit Studios, o jogo oferece uma jornada de descoberta não apenas para sua protagonista, mas também para os jogadores, explorando temas sensíveis. Com uma abordagem narrativa envolvente, a Odd Matter, com sede no Cazaquistão, prova ser um estúdio talentoso, e “Indika” é um exemplo bem-sucedido desse experimento.
“Indika” é conflituoso, impactante e capaz de arrancar risadas mesmo em meio à desgraça.
O que é certo ou errado?
Indika, uma jovem freira que reside em um monastério junto com suas colegas, se destaca por ser atormentada por uma voz interior, que o jogo retrata como o Diabo, instigando-a a refletir constantemente sobre o que é certo e errado.
Devido às suas atitudes incomuns, Indika é vista com desconfiança pelas outras freiras e é designada a embarcar em uma jornada para entregar uma carta a um certo Padre. Durante sua peregrinação, ela encontra um sobrevivente de guerra com quem compartilha objetivos semelhantes, levando-os a uma jornada conjunta.
Nesta incursão, temas profundos são explorados e os personagens são desenvolvidos de forma rica, enquanto o cenário ao redor reflete uma realidade complexa. Ambientado em uma versão alternativa da Rússia do século 19, o jogo aborda conflitos em meio a uma atmosfera religiosa severa.
Indika revela de forma implacável esta realidade áspera e cruel, destacando como a religião, muitas vezes, pode servir como uma forma de aprisionamento. No entanto, seu humor leve traz um contraponto à seriedade da narrativa, oferecendo um alívio bem-vindo ao peso das questões abordadas. Os questionamentos de Indika ecoam os nossos próprios dilemas sobre o que é certo e errado, ressaltando como a religião, em vez de libertar, pode aprisionar.
Em resumo, Indika proporciona uma experiência envolvente, acompanhando uma jovem atormentada por desejos e traumas, sob a influência de uma voz interna intrigante. A dinâmica entre Indika e a voz que a assombra cria uma química cativante, narrando sua jornada de forma perspicaz e provocando conflitos emocionais intrigantes.
Ore ou dê lugar ao seu EU para prosseguir
Em relação à exploração, Indika se destaca pela resolução de quebra-cabeças, adotando uma direção de arte por vezes exagerada, com elementos como câmeras com peixes gigantes e latas de atum enormes. No entanto, seus puzzles são bem elaborados, desafiando o jogador a raciocinar. Além disso, o jogo aproveita o tema do bem e do mal, exigindo que o jogador resolva puzzles por meio de uma dinâmica entre oração e a voz que atormenta a protagonista.
Nesta abordagem, os cenários se transformam, e o jogador deve utilizar tanto a oração quanto a voz da consciência para avançar nos quebra-cabeças.
Enquanto isso, os ambientes de Indika oferecem uma representação crua e impactante da guerra, com uma fotografia marcante que destaca o horror e a tensão. Surpreendentemente, o jogo se mostra mais visualmente atraente em seus ambientes internos do que nas paisagens externas, talvez devido à abundante presença de neve.
Além disso, Indika incorpora vários conceitos, como elementos de RPG (ainda que de forma mais satírica), onde o jogador ganha pontos ao explorar e interagir com itens. Ao alcançar determinada pontuação, o jogador pode desbloquear vantagens.
Desenvolvido na Unreal Engine 4, o jogo apresenta expressões faciais convincentes e texturas impressionantes, embora a movimentação e a física deixem a desejar em termos de realismo.
Muito a falar, mas pouco a mostrar
A jornada de Indika também reserva momentos para explorar o passado da personagem, nos levando a um universo de pixel art e mecânicas de plataforma que dão vida a essas memórias. Nestes momentos, aprendemos mais sobre a trajetória de Indika e os eventos que a levaram ao convento, ao mesmo tempo em que experimentamos uma nova abordagem de gameplay, o que é incrível.
No entanto, tudo que Indika oferece de positivo e marcante acaba sendo breve devido à sua curta duração. Minha experiência com o jogo durou cerca de 8 horas, e a frustração com o fim repentino foi inevitável. Indika levanta muitas questões e deixa várias pontas soltas, e embora eu entenda que isso pode ser intencional para permitir ao jogador a interpretação, os arcos de Indika e do soldado ficaram em aberto. Estou convencido de que gostaria de ter mais deste jogo, mais horas e mais reflexões.
Apesar disso, considerando sua proposta breve, entendo que Indika foi um experimento bem-sucedido que deixará sua marca pela narrativa desafiadora e o gameplay criativo. Porém, poderia ter sido prolongado.
Mas afinal, Indika é tudo isso mesmo?
Indika, apesar de sua curta duração, é uma escolha excelente para os aficionados por boas narrativas. Abordando temas tabus em nossa sociedade, a Odd Matter conseguiu criar uma experiência envolvente, marcante e criativa.
Todo o conjunto da obra exala qualidade, tanto em sua narrativa quanto em seu gameplay, que mescla elementos e mecânicas criativas.
VEREDITO: Indika, apesar de sua curta duração, é uma escolha excelente para os aficionados por boas narrativas. Abordando temas tabus em nossa sociedade, a Odd Matter conseguiu criar uma experiência envolvente, marcante e criativa. Todo o conjunto da obra exala qualidade, tanto em sua narrativa quanto em seu gameplay, que mescla elementos e mecânicas criativas. – Jão