Depois de 17 anos, a franquia Mana está finalmente recebendo um novo jogo da linha principal. Embora spin-offs como Legend of Mana (1999), que recebeu uma versão remaster em 2021, e remakes dos títulos clássicos tenham mantido a série viva, finalmente veremos um novo jogo. Visions of Mana marca a retomada da série ao 3D desde seu último título para PS2, Dawn of Mana.
Anunciado no The Game Awards 2023, o anúncio pegou todos de surpresa, dado o tempo que a Square Enix passou sem lançar um novo título da franquia. Nosso último contato com a série foi com a versão remasterizada de Legend of Mana, em 2021.
Dito isso, Visions of Mana chega ao mercado em 29 de agosto de 2024 para PS5, Xbox Series e PC, após um longo hiato. A grande questão é: será que este retorno correspondeu às expectativas após tanto tempo?
Visions of Mana me trouxe uma dualidade de sentimentos, surpreendendo com algumas ideias, mas frustrando com evoluções que não foram tão benéficas.
A História
Assim como todas as histórias anteriores da franquia, Visions of Mana tem como foco a “Árvore Mana”, mas desta vez em uma jornada inédita, sem conexão com os jogos anteriores. Mesmo com personagens e contextos novos, o jogo faz questão de referenciar elementos dos títulos anteriores, que certamente agradará os fãs de longa data.
Nesta nova trama, a “Árvore Mana” é a fonte vital do mundo. Agora, o jogador explora um universo dividido em aldeias e cidades, cada uma representada por elementos espirituais conhecidos na franquia. A cada quatro anos, um ritual é realizado, no qual uma fada visita essas localidades para eleger um “Almi”, que se sacrificará à “Árvore Mana” em nome de um elemento espiritual.
O jogador assume o papel de Val, o guardião da aldeia do fogo, que parte em uma peregrinação com a jovem Hinna, recém-escolhida como representante da aldeia do fogo. Durante a jornada, eles visitarão outras localidades e encontrarão novos “Almis” (ou objeto de sacrifício), que também devem seguir rumo à “Árvore Mana”. O sacrifício dessas almas é crucial para a sobrevivência do mundo.
Toda esta peregrinação reservará momentos dramáticos e uma aventura única na vida dos membros do grupo. A narrativa é envolvente, cheia de momentos dramáticos e emocionantes. No entanto, a falta de localização para o português do Brasil pode ser um obstáculo para muitos jogadores, dificultando o entendimento para quem não domina os idiomas disponíveis no jogo. Como o jogo faz uso de linguagens específicas do universo Mana, a ausência de uma localização complicará a experiência.
Mana do jeito que conhecemos
Visions of Mana chega 17 anos após o último jogo inédito da franquia, Dawn of Mana (lançado em 2006 para PS2), e quatro anos após o remake de Trials of Mana (2020). Por isso, minha análise se destina a dois públicos: aqueles que já conhecem a franquia e aqueles que estão entrando agora. Para os fãs, o combate segue o modelo do remake de Trials of Mana, o que decepciona, pois o jogo poderia ter trazido novidades.
O combate começa quando você ataca um inimigo, criando um círculo que delimita a área de batalha. Sair dessa área faz você desistir do confronto. Além disso, a possibilidade de controlar os membros do grupo, além do protagonista Val, foi reciclada do remake de Trials of Mana. Essa reutilização de mecânicas de um remake de quatro anos atrás, após mais de uma década de espera, foi uma decepção.
Mesmo sem muita criatividade em criar novas mecânicas, o gameplay de Visions of Mana é repleto de ação, com movimentos bem coreografados e intuitivos, lembrando jogos como Tales of Arise e Granblue Fantasy: Relink. A energia dos combos, especiais, efeitos e animações é realmente impressionante.
Esse aspecto é ainda mais valorizado com as novas classes criadas pelos elementos espirituais, além da classe padrão dos membros do grupo. Chamadas de “Relíquias Elementais”, são oito no total e podem ser desbloqueadas com atributos, especiais e armamentos. A partir disso, o jogador pode customizar a build do grupo com todas essas relíquias conquistadas ao longo da aventura.
Embora as relíquias tragam certa complexidade na jogabilidade dos personagens, a variedade de classes é limitada. Elas diferem basicamente pelos nomes e skins dos personagens, que mudam conforme utilizam as relíquias. Ou você é um guerreiro com escudo e espadas grandes, um espadachim que também pode usar adagas, ou um mago, por exemplo. O interessante é que cada elemento tem um papel específico no combate, influenciando fortemente as batalhas.
Em resumo, embora os elementos sejam relevantes no combate, este poderia ter recebido mais novidades. Mesmo com momentos empolgantes, fica a sensação de que faltou algo inédito, considerando o longo hiato da franquia.
O Muito que se Torna Menos
Enquanto o combate não trouxe grandes inovações, Visions of Mana é o jogo de maior escala da franquia, com cenários vastos, embora não sejam de mundo aberto. Separado por regiões, cada nova área tem uma temática baseada em um elemento característico, com ramificações e caminhos alternativos que incentivam a exploração. No entanto, esses cenários não são bem preenchidos.
A ambição da Square Enix em trazer cenários vastos, como uma demonstração de que estamos jogando um Mana da nona geração de consoles, acabou sendo um ponto fraco. No início, explorar os grandes cenários da Aldeia do Vento, descobrindo novas rotas com baús secretos, desafios em arenas e derrotando inimigos, é incrível. Mas, com o passar do tempo, essa progressão se torna obsoleta. Os mapas ficam ainda maiores, mas sem oferecer muito o que explorar além do que já existe. Em resumo, a exploração se resume a coletar baús e usar magias elementais que não oferecem recompensas significativas.
Para piorar, o jogo apresenta missões secundárias repetitivas e sem criatividade, como ir a um local específico para pegar um item ou encontrar uma paisagem no mapa. Essa abordagem, que prioriza a grande escala, resultou em cenários vazios e sem conteúdo, embora sua construção seja admirável e baseada no elemento de cada região. Cada um desses locais, além de sua estética, oferece inimigos relacionados àquele ambiente, como na Aldeia do Elemento Pedra, onde o mapa desértico apresenta escorpiões como inimigos.
Por outro lado, Visions of Mana aproveita bem suas cores, oferecendo paisagens memoráveis. Há uma evolução clara na qualidade da construção dos cenários, das paisagens e dos efeitos visuais durante os combates, tornando a experiência visual marcante e especial.
Mas afinal, Visions of Mana é tudo isso mesmo?
Após 17 anos sem um jogo inédito, Visions of Mana não traz grandes inovações. Mesmo com boas ideias no combate, algumas outras nunca deveriam ter existido.
Depois de tanto tempo, o retorno da franquia tem um gosto de que ela ainda está presa em conceitos do passado. Não foi desta vez que presenciei uma nova era para a série Mana. Além disso, a ausência de localização em português do Brasil dificultará o interesse dos jogadores brasileiros, especialmente em um final de mês disputado por Black Myth: Wukong (lançado em 20 de agosto) e Star Wars Outlaws (lançado em 30 de agosto), ambos com localização em português.
Em suma, Visions of Mana soará familiar para os fãs da franquia, mas com a sensação de que poderia ter sido mais. Ainda assim, é uma excelente porta de entrada para quem ainda não conhece a série — desde que você entenda inglês ou espanhol.
VEREDITO: Depois de tanto tempo, o retorno da franquia tem um gosto de que ela ainda está presa em conceitos do passado. Não foi desta vez que presenciei uma nova era para a série Mana. Além disso, a ausência de localização em português do Brasil dificultará o interesse dos jogadores brasileiros, especialmente em um final de mês disputado por Black Myth: Wukong (lançado em 20 de agosto) e Star Wars Outlaws (lançado em 30 de agosto), ambos com localização em português. – Jão