Análise | Crossing Souls – Vida e morte em um jogo surpreendentemente inesquecível

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Costumo dizer que a experiência que um jogo nos proporciona, é o seu maior legado. Por várias vezes, pegamos jogos que possuem grande qualidade, mas são deveras parecidos com outras produções. Mas existem casos onde a alma e a personalidade marcam em diversos aspectos. Estes casos acabam entrando para um seleto grupo de games que se tornam inesquecíveis.

Crossing Souls é um destes casos. Mas para entender melhor o motivo deste game ter me cativado tanto, precisamos falar do time de produção e das mentes por trás deste belíssimo game, que vai te fazer rir, chorar e principalmente a lembrar de como era lindo ser criança, imaginar aventuras e vivê-las em sua mente.

O último tiro

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Crossing Souls é distribuído pela já especialista em jogos indies, a Devolver Digital. A empresa é muito engajada com produtores independentes. Tanto que mesmo sendo uma distribuidora, o que vai de encontro com o significado de ser um produtor indie, a Devolver consegue manter a liberdade criativa dos estúdios que apoia totalmente intacta. Mas o jogo aqui em questão veio das mentes dos produtores do estúdio Fourattic, de Sevilla, Espanha. Formado por 4 pessoas, que consequentemente conquistaram o apoio e colaboração de mais profissionais, o nome do estúdio vem de sua tradução quase literal. Quatro pessoas em um sótão. Quatro amigos tentando ganhar a vida.

Eles começaram então desenvolvendo games para mobiles. Depois de alguns projetos eles não conseguiram o sucesso que imaginavam. Então, eles perceberam que deveriam tentar algo mais complexo. Porém, este novo projeto seria a última tentativa do estúdio, uma vez que tomaria mais tempo e recursos, algo que eles quase não tinham mais. Assim nasceu Crossing Souls. É muito bacana ver um vídeo que a Devolver Digital lançou em seu canal onde o time de desenvolvimento fala de suas experiências com o projeto. É nítido o amor que foi empregado em Crossing Souls e o resultado é realmente marcante.

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Anos 80, games, músicas, filmes e crianças

Em 1986, um forte raio cai numa cidade Californiana, gerando efeitos estranhos. Chris é chamado por seu irmão Kevin, que diz ter encontrado algo espetacular. Chris fica responsável por juntar seus amigos Math, Charlie e Big Joe e encontrar Kevin. As crianças descobrem uma pedra rosada (tudo isso no começo do jogo) e não tinham noção no que estavam se metendo.

A união de crianças como protagonistas logo nos remete à Stranger Things. Mas saiba que as referências de Crossing Souls vão muito mais além. Desde Goonies, Gremlins, De Volta Para o Futuro e muito mais. O jogo também tem fortes influências da música dos anos 80, o que garante uma trilha sonora fantástica durante a aventura. Podemos encontrar espalhados pelo cenário diversas fitas K7, com nome de bandas fictícias, que são paródias das que conhecemos na vida real. O mesmo ocorre com cartuchos de videogames, mais precisamente de NES, que trazem clássicos do console da Nintendo, que era uma grande máquina na época.

Assim, a ambientação de Crossing Souls é muito empolgante, com cenários bem trabalhados e todos eles construídos ao melhor estilo Pixel Arte. Alguns podem não gostar desta temática, virar o nariz logo que ligar o game. Mas mesmo os mais céticos devem acabar se acostumando ao estilo visual do game. Além disso, os movimentos dos personagens são excelentes e todos são muito bem animados.

RPG, Beat ‘n’ Up e Adventure colocados num liquidificador

Um dos elementos que mais chama atenção em Crossing Souls é a jogabilidade. É uma mistura muito bem construída entre RPG e Beat ‘n’ Up, na maior parte do tempo. Você precisa andar, explorar, enfrentar inimigos em tempo real podendo se movimentar livremente para qualquer lado. Cada criança tem uma habilidade diferente e podemos alternar entre elas durante a ação apenas apertando L1. Chris é o mais atlético e gosta de usar um taco de baseball, além de ser o único que escala paredes. Math é o mais inteligente da turma, o “nerdão“, filho de cientistas. Ele usa uma arma que ele mesmo criou, que ataca com energia elétrica e habilita controles operacionais.

Charlie, a garota da turma, está longe de ser frágil e usa um belo chicote para atacar os inimigos. Ela também é a mais rápida na esquiva, o que garante bons momentos nos combates. Big Joe, como o nome entrega, é o maior e mais forte deles. Somente ele pode empurrar ou puxar caixas, além de seu ataque ser o mais forte de todos.

Kevin é o mais fraco, mas há um motivo muito especial para isso. Apesar de não servir em nada para os combates, ele tem total ligação com a jogabilidade após um tempo. Mas Crossing Souls também tem uma pitada enorme de adventures, com puzzles e muita conversa. Os diálogos são ótimos, muito bem escritos. O melhor de tudo é que o game é totalmente legendado em português, o que garante que qualquer pessoa possa jogar e entender a ótima história.

Uma História de arrepiar

Chris e seus amigos são colocados em situações muito complicadas. Aí você pensa: “poxa, o que de mal poderia acontecer com essas crianças?“. É neste aspecto que Crossing Souls mais impressiona. Não demora muito para você estar totalmente imerso na aventura dos cinco amigos e passar a se preocupar realmente com eles. O jogo trata de vida e morte, sobre o que ocorre depois que morremos, se é possível entrar em contato com o outro lado. Ao mesmo tempo, seres divinos, brucutus sem piedade e cientistas malucos completam o pacote.

A história, por diversas vezes, me fez ficar de boca aberta. Existem várias reviravoltas e todas são ótimas, mantendo o nível do enredo sempre no alto. Existem sim diversos clichês, até pelo jogo se basear em obras muito conhecidas. Porém é inegável que Crossing Souls tenha sua própria personalidade. Para um jogo que trata de assuntos tão complicados, é mais do que uma realização conseguir fazer isso com propriedade em uma história que empolga o jogador verdadeiramente.

O que poderia ser melhor?

Assim como grandes jogos das antigas, Crossing Souls segue um padrão. O game libera o jogador num mapa, que mesmo que tenha ligação com a cidade onde as crianças moram, geralmente limita o seu avanço. Não é possível, por muitas vezes, retornar em diversos pontos. Se você não percebeu determinado colecionável, talvez só consiga acesso a ele iniciando o game novamente. Isso obviamente não lhe impede de prosseguir no game, mas deixa aquele troféu que você estava de olho, para trás.

O sistema de combate é simples, mas também os inimigos não exigem tanto das crianças. Existem chefes mais difíceis, mas em sua maioria todos são fáceis. Existem momentos que o jogo muda completamente, com jogabilidade bem distinta. São momentos bem legais e que poderiam ter mais tempo durante a história do jogo, ou talvez que fossem melhor trabalhados.

Em sua natureza, Crossing Souls é bem linear. Isso diminui bastante o fator replay. Caso a produção tivesse abraçado mais firmemente a temática do RPG, poderia ser um pouco diferente. Ou ao menos, se fosse possível escolher as localidades ou capítulos para revisitarmos.

Uma Experiência Marcante

Não há como negar que o trabalho da Fourattic foi fantástico. Crossing Souls é um jogo cheio de personalidade, que bebe da fonte de diversos clássicos com muito respeito. O visual e a trilha sonora são, juntos, um ótimo conjunto de nostalgia e diversão. A jogabilidade poderia ser um pouco melhor, mas não fica devendo. Mas onde o jogo brilha realmente é na sua história, lotada de reviravoltas e momentos marcantes. Será difícil esquecer de Chris, Math, Charlie, Kevin e Big Joe, especialmente após ver o final do game. É algo realmente especial, que ficará na minha memória por muito tempo.

Fica a lição de que a vida é curta e precisa ser vivida com quem a gente ama. E para um jogo cheio de pixels com crianças inexperientes conseguir passar isso para um adulto, só pode querer dizer que a missão foi cumprida.

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