Análise | NBA 2K18: Jogo retorna mostrando a importância de ser amigo da vizinhança

Estamos vivendo um chamado “advento dos esportes americanos”. Falo isso pois se há 4 anos atrás esportes como NFL e NBA estavam começando a ganhar território aqui no Brasil, hoje eles estão estabilizados e cada vez mais ganhando fãs e a mídia brasileira. Não podemos dizer que os jogos são o principal causador desse “boom” dos esportes americanos, mas se eles exercem alguma influência nisso, games como NBA 2K18 deixam o terreno ainda mais fértil para o esporte no país.

É extremamente difícil manter uma franquia anual com um alto nível como a 2K vem fazendo com o NBA 2K. Desde o NBA 2K16 – meu primeiro contato com o jogo – já me senti maravilhado com o trabalho da empresa a ponto de começar a coloca-la como principal candidata para fazer outros jogos no ramo dos esportes. Posso dizer que ainda tenho fé que isso aconteça um dia. Esse ano a principal novidade do game é o novo Modo Carreira. Agora o jogo te coloca em contato direto com as ruas para que você possa realizar as atividades extra quadra algo que com certeza irá aumentar – e muito – a sua conta de luz.

Sentindo-se dentro do jogo

A minha última experiência com o NBA 2K foi no 2K16 e já naquela época o jogo demonstrava uma mecânica muito boa com movimentos fiéis ao que vemos nas quadras hoje em dia. Ali eu achava que a 2K tinha chegado ao seu ápice precisando lapidar só algumas pontas, mas ao jogar o NBA 2K18 eu vi o quão pobre era minha constatação. O 2K18 demonstra visuais extremamente fiéis ao que vemos em uma verdadeira transmissão de TV. Não seria exagero algum dizer que em alguns momentos eu esperava pelo ícone da ESPN – principal emissora de transmissão do esporte no Brasil – entre um lance ou outro.

Quando chamamos os “timeouts” vemos como o espetáculo das quadras está presente no jogo com shows de enterradas, tiros de camisas para a torcida e paraquedas com câmeras para pegar ângulos diferenciados da quadra. Pena que algumas dessas coisas não funcionam bem em conjunto com a torcida atravessando-as. Mas não tira o brilho desse momento.

As disputas por rebotes ficaram bem parecidas com o que vemos na vida real com os jogadores dando tapinhas na bola para que ela possa voltar para o controle do seu time e até mesmo brigando por ela de uma forma mais real. Os jogadores demonstram estarem mais “pesados” para deixar a coisa mais próxima da realidade, isso pode lhe incomodar no início, mas você irá se acostumar aos poucos ao ponto de isso se tornar até um ponto positivo.

Falando em se acostumar, a 2K acerta em cheio em antes de colocarmos os pés na quadra, treinarmos um pouco e vermos como estão os controles. No começo agi como todo o bom gamer que fala “pra que um tutorial? Eu sei jogar isso”, mas que logo em seguida se viu perdido em meio a tantos botões, mas a 2K vai explicando ao longo da partida teste o que você precisa fazer, desde o básico até o avançado e é bom que aqui você pode ousar fazer algumas coisas para não fazer feio na quadra como treinar algumas jogadas ensaiadas acessando o menu interativo apertando a seta para a esquerda ou L1 e escolhendo o jogador que gostaria de fazer uma jogada em especial. Eu não me aprofundei muito nos comandos do L1, mas uma jogada da seta para a esquerda rendeu-me boas cestas de 3 com o Curry.

A questão do arremesso ainda está sendo uma dificuldade para mim, mas assim como no 2K16, demorou algum tempo para deixar a coisa mais automática possível, mas o que eu acho estranho é a questão do “Release Time” que aparece no topo da tela não ser muito confiável, digo isso pois muitas vezes ele apontava um “Good” no Release Time, mas nunca chegava a acertar o arremesso, a não ser que acertasse o “Excelent”, e as vezes com o “Slightly Late” ou “Earlier” eu conseguia acertar, portanto prepare-se para uma certa inconstância quando estiver dentro das quadras.

O som da arena é ensurdecedor dependendo somente de você fazer a torcida se inflar a cada cesta de 3, ou ir embora quando vê que o quarto período está perdido. Isso não é novidade, mas a 2K pega o que já estava bom e continua colocando em seu jogo para deixá-lo cada vez mais próximo da realidade. Há exatamente dois sentimentos que a 2K consegue nos proporcionar conforme as partidas avançam em 2K18: Estou vendo uma transmissão ao vivo, ou estou dentro da quadra. Digo isso pois ou você se surpreende com o barulho ensurdecedor da torcida e com os gritos empolgantes ao longo das jogadas – “Threeeeeee” -, ou você sente estar vendo uma transmissão de alta qualidade com os HUD – heads up display, responsáveis por mostrar as informações do jogo – bem condizentes com o que vemos em transmissões por aí a fora.

Mantendo a qualidade gráfica

É difícil falar do 2K18 sem parecer repetitivo, mas se formos parar para analisar todos os anos a 2K entrega gráficos de cair o queixo quando trata-se de sua franquia NBA, e esse ano não podia ser diferente. Não precisa esforçar-se muito para ver o quão semelhante estão jogadores como Kevin Durant, Curry, Irving, Harden, Westbrook, Kawhi Leonard e Lebron James – esse último me deixou com algumas dúvidas no início, mas logo coloquei uma foto ao lado de sua versão digital e minhas desconfianças foram por água abaixo. Essa mesma preocupação nós vemos com nomes como Lonzo Ball e De Aaron Fox, os calouros dessa temporada da NBA que têm seus rostos bem próximos do que vemos na vida real.

As celebridades que ficam responsáveis pelos comentários e pelas entrevistas na beira da quadra também receberam sua devida atenção, destaque para o Shaq, Kenny e Ernie, responsáveis pelo Pre Game Show que dá introdução a partida que será disputada. Além dos diálogos entre eles serem bem atuais – nas vezes em que joguei eles comentaram que o jogo a ser disputado será o primeiro da temporada regular e fazem previsões sobre o que pode acontecer dali para frente – eles demonstram feições bem interessantes enquanto dialogam. Infelizmente esses diálogos são em inglês e não contam com legenda, portanto você só aproveitará essa parte se tiver um certo conhecimento na língua inglesa. A torcida não é das melhores graficamente, mas quando comparamos com outros produtos que estão no mercado vemos que o 2K18 está bem situado com relação à gráfico de torcedores.

Fique ciente que algumas coisas como partes do corpo se atravessando podem ocorrer, isso que nos faz lembrar que ainda estamos em um videogame. Um ponto que eu senti falta foi a de adição de mais expressões faciais. Por mais que os rostos dos jogadores estejam bem parecidos com o que vemos na realidade, eles não demonstram muitas expressões faciais ao, por exemplo, fazerem uma enterrada. Isso podia ser visto com mais carinho pela 2K para que ela pudesse aumentar a imersão do jogo, pois eu não ficaria com cara neutra após dar uma enterrada daquelas em cima do meu marcador.

Corra pela vizinhança

Hora de falar do modo que mais sofreu mudanças que é o Modo Carreira. Nesse modo você monta o seu jogador e segue um roteiro em que você vai desde um calouro até uma estrela da NBA. Primeiro de tudo você tem que fazer o seu jogador e já aqui encontrei alguns problemas. O primeiro deles é o recurso de escanear o rosto que não funciona direito falhando comigo diversas vezes antes de pegar meu rosto, e quando o pegou ele apareceu completamente diferente do esperado. Eu fiquei praticamente 30 minutos tentando colocar um rosto no meu jogador, até que desisti e escolhi um rosto já criado e para minha decepção as opções de edição são bem limitadas deixando o rosto um pouco longe do que você imaginaria para sua versão digital.

Assim que você cria seu jogador e entra no MyCareer você tem um breve preview de como as coisas irão se desenrolar com a sua nova proposta. Você está na pele de “DJ”, um rapaz que tentou a carreira como DJ e após um Training Camp conseguiu uma chance na NBA. Agora você pode fazer atividades como comprar roupas, cortar o cabelo, fazer uma tatuagem, personalizar uma camisa para que ela possa ser vendida na loja e jogar online nas quadras, tudo isso andando pelas ruas da cidade e indo até os determinados lugares.

Isso torna as interações mais presentes dentro do jogo não sendo um somente “evolua e vai para quadra”, mas você agora tem que fazer o extra quadra do seu jogador indo até o centro de treinamento, ver como estão as coisas com seu agente e também voltar para casa e treinar um pouco sozinho, ou com seus amigos sendo um verdadeiro amigo da vizinhança.

Há uma variedade de coisas dentro desse modo carreira: minigames em que sua pontuação é comparada com a de outros jogadores, há treinos de academia em uma instalação da Gatorade em que conforme você conclui os treinos você ganha stamina extra para o jogo e até mesmo sentar em seu sofá, colocar um 2K18 e realizar uma partida da NBA no modo “PlayNow”. A 2K construiu um verdadeiro mundo dentro de um só modo de jogo e isso é simplesmente fantástico.

https://www.youtube.com/watch?v=3eFKX96JDUs

O interessante é que enquanto você está andando pelas ruas, você não está ali sozinho, há outros jogadores que também estão jogando o MyCareer e isso não prejudica em nada a experiência do jogo com lag ou algo do tipo, é como se eles estivessem ali, mas ao mesmo tempo não estivessem. Após escolher sua posição e seus atributos, você começa em uma quadra de rua e vai trilhando seu caminho.

Eu achei estranho a forma como o jogador vai de um desconhecido a um calouro da NBA, foi muito rápido. Na minha última experiência com o modo carreira, você escolhia um número limitado de times que te queriam, era draftado e partir daí você começava a trilhar seu caminho até chegar ao time de seus sonho, mas dessa vez não, você escolhe um dos times da NBA e já começa nele, depois de um tempo eu parei para pensar que o roteiro deveria ser diferente do que eu esperava – que era o jogador ser draftado normalmente -, senão cairíamos naquela de o mesmo jogo com algumas atualizações, e isso me fez relevar esse ponto.

Há uma nova forma de evoluir seu jogador com você agora tendo uma melhor visualização de como está seu progresso para conseguir os chamados “Badges” que ajudam seu jogador a desenvolver ainda mais suas habilidades. Esses Badges são escolhidos de acordo com a habilidade primária e secundária que você escolheu no início da criação do seu jogador, e a partir daí você vai evoluindo-os por meio de treinos dedicados ou durante o jogo. Não espere uma tarefa fácil, com certeza você passará um bom tempo para conseguir esses Badges. Além disso você pode evoluir as habilidades do seu jogador individualmente, algo que não teve muitas mudanças.

Mas o jogo não se resume apenas ao “MyCarrer”

O 2K18 tem uma grande variedade de modos para manter-lhe o maior tempo possível em frente a TV arremessando com todos os jogadores das 30 franquias da NBA. Temos o “Play Now” que é o tradicional modo de exibição. O “NBA Today” que infelizmente não está disponível ainda, mas nesse modo parece que você jogará as partidas que estiverem acontecendo na temporada regular da NBA com todas as mudanças e contusões dos times. Há o 2KU onde, para caso você não tenha ido muito tem em uma partida poder treinar suas habilidades com um tutorial – na verdade esse é o modo que fica disponível assim que o jogo completa o necessário do download para ser jogado. 

No BlackTop nós levamos a diversão para uma quadra de rua com torcida, mas sem toda aquilo que vemos em uma quadra da NBA com placas de patrocinadores e afins. Aqui é o bom e velho basquete de rua em que você pode escolher se joga 1 x 1 até o tradicional 5 x 5, além da pontuação ser diferente: a cada cesta você ganha um ponto e a cada cesta de 3 você ganha 2 pontos e você define com quantos pontos a partida se encerra, e o mais legal de tudo isso é que você pode montar seu próprio time!

Há o retorno também dos modos MyGM em que você controla uma das franquias da NBA, mas dessa vez um pouco inspirado no modo MyCareer com um roteiro e um maior contato com os jogadores, além de algumas mudanças visuais e nos menus, no MyLeague você pode criar uma liga offline e online, dentro do menu MyGM/MyLeague ainda há o “Start Today” em que você assume uma franquia da NBA a partir da data atual e usa todos os dados da temporada atual – o modo estará disponível a partir do dia 17 de Outubro.

Também temos o modo “Season” em que você assume uma franquia por uma temporada, “Playoffs” em que você pode pode experimentar a experiência completa da atmosfera dos Playoffs e o modo MyTeam em que você monta um time com cartas que você ganha abrindo pacotes aleatórios. Todos esses modos são muito interessantes e repleto de possibilidades, mas o fato do jogo não contar com um suporte ao PT/BR pode atrapalhar e muito a experiência de algumas pessoas.

Há também os modos onlines, e aqui foi onde tive uma grande decepção com a jogabilidade do 2K18. O primeiro modo online que testei foi o “Play Now Online”, onde você tem um número de partidas que precisa vencer para subir de nível e um outro número caso queira o troféu daquele nível, algo bem parecido com o “Temporadas” do Fifa, o que me deixou bem animado em tentar a sorte de chegar ao nível máximo, mas toda minha empolgação caiu por terra quando entrei em uma partida. Há um lag absurdo ao tentar um arremesso, o visor que ajuda a definir um chute perfeito demora alguns segundos para aparecer e esses preciosos segundos são cruciais para você errar seus arremessos.

Isso aconteceu em uma partida em que a conexão com meu adversário não estava das melhores, mas em outra partida a conexão estava ótima e novamente o lag estava ali para impedir-me de acertar os mais variados tipos de arremessos, o resultado? As chances de você acertar um arremesso são quase nulas cabendo a você apostar somente nas infiltrações, algo que até ajuda, mas não é o único jeito que você gostaria de jogar deixando uma grande frustração no ar. Isso também acontece no modo “All-Star Team-Up” em que 5 jogadores se juntam para cada lado escolhem sua posição e um jogador da posição que lhe agrade. Aqui não só o lag atrapalha, mas também a bagunça que se instaura dentro de quadra. Se você não é familiarizado com os uniformes dos times você se sentirá perdido no meio da partida já que as equipes não contam com uniformes dedicados.

2509 palavras depois…

NBA 2K18 traz o que já estamos acostumados que é um jogo de alto nível tanto em gráficos como em jogabilidade. Ver os principais jogadores da NBA sendo tão bem representados em suas versões digitais e ainda a preocupação da produtora em deixar nomes como o do calouro Lonzo Ball mais próximos de sua versão real só escancaram o nível em a 2K quer colocar seu jogo a cada ano. Claro que se você que está vindo do NBA 2K17 pode não sentir tantas diferenças e de certa forma isso não é de todo ruim, já que o nível em que a 2K colocou sua franquia atualmente torna difícil para ela mesmo ultrapassar esse padrão.

A repaginada que o Modo Carreira recebeu contribui para sua imersão dentro do jogo com um mundo repleto de possibilidades e mini games, além claro de o desafio de elevar o nível de seu jogador cada vez mais. A variedade de modos é outra coisa que chama atenção já que a produtora pega uma única modalidade esportiva e consegue explorá-la ao máximo ficando difícil até para você escolher a que modo se dedicar de tantos modos interessantes em um único jogo.

Claro que o jogo não é perfeito havendo erros, a questão online e o recurso de reconhecimento facial precisam de uma atenção maior da desenvolvedora, já que foram os que mais me deram dor de cabeça e podem deixar os fãs do jogo decepcionados. Outro ponto é que com a crescente do basquete no nosso país, a empresa poderia preocupar-se em colocar legendas PT-BR, já que os modos do game exigem bastante interação e essa pode acabar sendo prejudicada se não houve um conhecimento da língua inglesa, já as questões gráficas como jogadores se atravessando são até releváveis, então vá para o vestiário, coloque seu Air Jordan, ensaie sua combinação de toques com a galera e embarque nesse jogo que é quase que uma obrigação para todo fã de basquete.