Os RPGs de mesa, assim como os videogames, oferecem excelentes experiências, seja na aventura na qual se propõe contar ou no vínculo social entre os jogadores. Da mesma forma que o gênero Souls-like, que outrora era um subgênero bastante exclusivo e agora se consolidou como um gênero por si só, alcançando uma audiência global, os RPGs de mesa estão sofrendo um processo semelhante no mundo dos jogos. Com Baldur’s Gate 3, essa vertente dos RPGs conquistou maior destaque, despertando a curiosidade dos jogadores ao oferecer uma experiência complexa no início, mas gratificante ao longo de sua progressão.
Tendo estreado em 3 de agosto nos PCs e após inúmeras horas mergulhando no mundo imersivo, rico em detalhes e repleto de surpresas criadas pelo estúdio Larian, estou pronto para compartilhar minha opinião sobre Baldur’s Gate 3. Então, role o seu dado de 20 faces e embarque comigo nesta jornada medieval.
A complexidade do começo que fará toda diferença depois
“Baldur’s Gate 3” inicia com a criação de personagem, oferecendo duas categorias: “Personagem de Origem” (personagens pré-definidos com atributos, classes, raças e aparência) e “Personalizados”.
Se você optar por criar seu personagem do zero (o que é recomendado), investirá tempo específico decidindo a raça, classe, subclasse, magias e atributos. Embora seja um processo complexo – eu confesso – o tempo investido no início do jogo faz toda a diferença ao longo da aventura.
Por exemplo, meu personagem era um bruxo, o que conferia naturalmente um alto atributo de carisma. Investir pontos em carisma elevou meu status de manipulação durante os diálogos, evitando muitos confrontos durante minha jornada.
Independentemente de sua escolha, ela terá um impacto substancial em sua trajetória pelo mundo criado pela Larian Studios. Posso afirmar isso, pois testemunhei como minhas decisões na tela de criação de personagem repercutiram em diálogos e combates ao longo do jogo.
Um mundo em constante metamorfose
Após criar seu personagem, é hora de explorar o mundo de “Baldur’s Gate 3” e lidar com tudo o que ele contém. Como um peregrino em terras desconhecidas, cada passo deve ser dado com cautela. Além dos nativos, há também a influência de inimigos como os goblins, que assolam aldeias, bem como conflitos não resolvidos entre os Druidas e os Tieflings.
O mundo de “Baldur’s Gate 3” está em constante metamorfose, com eventos relevantes enquanto você explora, por exemplo, uma caverna. O que quero dizer é que o mundo criado por Larian está cheio de oportunidades e novos eventos.
Se você é um entusiasta da exploração, como eu, será destinado a embarcar em novas missões, diálogos e eventos de todas as naturezas. É notável como a Larian conseguiu construir um universo repleto de personagens cativantes e atuações impecáveis, seja na missão mais simples até a mais complexa.
A sensação de que tive ao encontrar um novo diálogo, que me correspondeu a uma nova missão e me fez imergir nela, foi semelhante ao que vivenciei em “The Witcher 3: Wild Hunt” (2015). É evidente que o estúdio belga da Larian Studios depositou em cada linha de diálogo e no design de missões.
Fato é: dentro de “Baldur’s Gate 3”, você terá uma fonte inesgotável de entretenimento. Não há limites para missões e eventos dentro do jogo. A cada nova exploração e incursão no mundo, você será surpreendido por novas missões que mantêm o mesmo nível de qualidade em todos os momentos.
Baldur’s Gate 3 é complexo, mas apresenta sua complexidade de uma forma acessível
Com a recente globalização do gênero Souls-like, impulsionada por Elden Ring, muitos se perguntam se Baldur’s Gate 3 alcançou o mesmo sucesso da FromSoftware em 2022.
A resposta é não. No entanto, a Larian Studios tornou a experiência de um RPG de mesa mais acessível para aqueles que ainda não estão familiarizados com esse universo. Baldur’s Gate 3 marcou o início de uma jornada de visibilidade e introdução para aqueles que ainda não conhecem esse estilo, criando um interesse e curiosidade pelo gênero.
Embora o uso de dados seja um conceito novo para novos jogadores, a sensação de recompensa ao acertar um golpe crítico após rolar um dado de 20 lados e obter um resultado 20, ou superar as probabilidades em um diálogo, é gratificante, semelhante à derrota de um chefe nos jogos Souls-like da FromSoftware.
São abordagens distintas, porém com um sentimento notavelmente semelhante. Embora não seja em 2023 que Baldur’s Gate 3 conquiste completamente o público, muitos passaram a se interessar por esse estilo de gameplay e, principalmente, pelo RPG de mesa, um elemento que a Larian incorpora em todos os seus jogos.
O impacto do lançamento de Baldur’s Gate 3 foi significativo, revelando o quão acessível tornou essa experiência que anteriormente era bastante seletiva dentro da comunidade gamer. Além disso, com o lançamento previsto para PS5 em 6 de setembro e para o Xbox ainda este ano, é certo que a popularidade de Baldur’s Gate 3 continuará a crescer e o estilo de jogo desenvolvido por Larian ganhará ainda mais seguidores.
Uma odisseia medieval moldada por suas escolhas
Tudo começa quando você é afetado pelo ‘Devorador de Mentes’, uma espécie de criatura alien que implanta uma larva em sua mente. Após os eventos subsequentes à criação de seu personagem, a nave em que você está cai em uma terra completamente desconhecida, e a busca pela cura se torna seu objetivo principal.
Após essa introdução, uma folha em branco constantemente se preenche com base nas suas escolhas ao longo do jogo. Enquanto seu objetivo principal permanece no centro da jornada, muitas outras histórias se desenrolam, inclusive as de seus companheiros de viagem que você encontra pelo caminho.
Cada um dos membros do seu grupo tem uma história única por trás de si. Embora possa parecer trivial no início da jornada, à medida que você avança, descobre algo mais profundo e dramático em cada um deles.
Outro aspecto notável é a liberdade que a Larian Studios proporcionou aos jogadores para traçar seu próprio caminho e alterar o rumo dos acontecimentos até o mesmo no último instante. O mundo está em constante mudança e oferece infinitas abordagens, todas moldadas pelas suas escolhas. Essa dinâmica está sempre presente e pode ocorrer a qualquer momento. Não há nada pré-estabelecido. Você é o grande autor desta odisseia de fantasia medieval.
Ressalvas…
Baldur’s Gate 3 traz consigo alguns problemas técnicos, como bugs, quedas de FPS e até mesmo perda de saves durante o seu lançamento. No entanto, desde então, o jogo já recebeu o seu primeiro patch contendo mais de 1000 correções.
Acredito firmemente que não existe um jogo perfeito. Essa é uma realidade associada ao desenvolvimento de qualquer jogo. Contudo, diante dos problemas que Baldur’s Gate 3 apresenta, nenhum deles conseguiu tornar o jogo completamente inacessível. Estamos diante de um RPG de proporções grandiosas que entrega tudo o que prometeu, e é natural que problemas ocorram dada a magnitude do projeto.
Mas afinal, Baldur’s Gate 3 é tudo isso mesmo?
Baldur’s Gate 3 é uma verdadeira homenagem aos RPGs de mesa e estabelece um novo padrão para o gênero RPG. As ambições da Larian Studios, que foram desafiadoras para muitos outros estúdios, resultaram em uma experiência incrível tanto em termos de jogabilidade quanto de narrativa.
A Larian Studios nos deu uma lição sobre como criar um RPG genuíno, com personagens profundos e um sistema de combate que é completamente moldado por suas escolhas de magias e por seus atributos.
De maneira geral, minha experiência com o jogo foi única e diferente de tudo que já vivi em um RPG. Baldur’s Gate 3 é profundo, imersivo e incansável em sua habilidade de manter o jogador envolvido com histórias e personagens cativantes. Há um enorme amor presente nessa obra, que certamente será lembrada na indústria de jogos por sua ambição e audácia, especialmente considerando que foi desenvolvido por um estúdio AA e independente.
