Shin Megami Tensei V: Vengeance – Review

Após vender mais de 1 milhão de cópias no Nintendo Switch, a Atlus decidiu dar a Shin Megami Tensei V uma oportunidade de alcançar novos públicos com uma nova versão, assim como aconteceu com Persona 5 Royal.

Assim, nasceu Shin Megami Tensei V: Vengeance, que chegou ao mercado em 14 de junho de 2024 para PS5/ PS4, Xbox Series/ Xbox One, PC e novamente ao Switch. A versão Vengeance traz ao novo público de jogadores mais de 75 horas de conteúdo adicional, com uma nova campanha, um combate reformulado, trilha sonora refeita e uma nova protagonista.

Diante de tantas novidades, Shin Megami Tensei V: Vengeance é um conteúdo essencial para os amantes da franquia, pois adiciona ao jogo base diversas melhorias. No entanto, não é um RPG para todo mundo e carece do carisma que a franquia Persona possui.

Um luta entre céu e inferno

A franquia Shin Megami Tensei, ou “Megaten”, se tornou conhecida por retratar um Japão pós-apocalíptico onde demônios invadem a Terra. Portanto, muitos temas sobre religião são abordados, como céu e inferno, Deus e o Diabo, o bem e o mal.

Em Shin Megami Tensei V: Vengeance, há duas vertentes: a história do jogo original e a da nova versão. No “Cânone da Criação”, há um eterno conflito entre anjos e demônios, onde nosso protagonista luta pelo destino do mundo.

Enquanto no “Cânone da Vingança”, o jogador enfrenta uma dramática história de vingança dos caídos. Esta rota traz novos personagens e uma coorte de demônios enigmáticos, as Qadištu, que têm planos obscuros à parte da guerra entre aqueles que lutam para manter ou desafiar a ordem.

Na rota Vengeance, o desenvolvimento da história gradualmente começa a se desviar da rota original e se desenrola de forma completamente diferente a partir do meio da história. Nesta rota, temos a adição da personagem Yoko como membro real do grupo que você pode controlar em combate.

Narrativa e personagens

Apesar das duas narrativas, Shin Megami Tensei V: Vengeance não se destaca pelo carisma de seus personagens. O elenco é pouco memorável, e o protagonista exemplifica bem essa falta de carisma, assim como os personagens secundários.

Embora Persona também tenha suas falhas, a estética dos personagens, seus diálogos e as subtramas abordadas são formas de conquistar o jogador ao longo da jornada.

O que há de mais carismático e marcante em SMT V é seu elenco de demônios, que possuem uma estética incrível. Na nova versão, há mais de 270 demônios para recrutar e comandar, cada um com suas particularidades e designs únicos.

Grinding e estratégia

“Megaten” sempre se baseou em induzir o jogador a “grindar” e ser estratégico durante o combate. Em Vengeance, este pilar se manteve intacto, com a adição de cenários em larga escala. Com jogos para PS1, PS2 e 3DS, o quinto capítulo da franquia chegou ao Switch em 2021 com uma substancial evolução em relação aos jogos anteriores, trazendo cenários expansivos e missões secundárias.

O combate de SMT V: Vengeance é baseado no sistema de Shin Megami Tensei 3: Nocturne, onde a quantidade de turnos representa o número de membros do grupo e, ao descobrir a fraqueza do inimigo, você ganha um turno adicional. Vale destacar que este estilo de combate serviu de alicerce para o estilo de combate de Persona e do novo RPG da Atlus, Metaphor: ReFantazio, que estreia em outubro deste ano.

Para quem já jogou os jogos anteriores da franquia e Persona, não há grandes segredos. Tudo funciona de forma semelhante, mas, diferente de Persona, não há uma estilização nos menus e na interface de usuário do combate. Tudo é simplório e genérico, o que é aceitável, pois estamos diante de uma equipe diferente da P-Studio, responsável por Persona.

Um mundo mal aproveitado

Fora da dinâmica de combate, a presença de cenários de grande escala trouxe margem para diversos encontros com demônios espalhados pelo cenário. O jogador pode optar por evitar confrontos por turnos que, após horas de jogo, se tornam repetitivos. No entanto, é necessário subir de nível, tornando esses encontros essenciais.

O mapa foi mal aproveitado, com um senso de exploração pouco cativante. O que há de misterioso para explorar são itens e algumas criaturas que entregam um item específico (Glória), que pode ser trocado por vantagens.

Fora isso, há um lobby onde o jogador pode conversar com seus demônios capturados ao longo da jornada. Este lugar traz elementos adicionais à narrativa, interessantes para visitar sempre que possível. Em momentos de calamidade, é possível também fundir demônios e adquirir novas habilidades para você e seus membros.

Uma progressão lenta e entediante

Em suma, meu grande desconforto esteve no quão lenta se torna a progressão de um RPG de combate por turnos dentro de um cenário vasto. Um cenário vasto não necessariamente obriga a ter encontros, pois você pode evitar certos combates. No entanto, quando há necessidade, a repetição de uma dinâmica lenta e do sistema de combate por turnos torna toda a progressão enjoativa.

Essa falha em Shin Megami Tensei V: Vengeance está sendo resolvida em Metaphor: ReFantazio, onde a Atlus conseguiu reunir a presença de cenários vastos com o combate por turnos, utilizando o sistema de combate “Fas & Squad”. Basicamente, o combate rápido com ação em tempo real possibilita ao jogador derrotar inimigos de nível inferior. Para inimigos de nível superior, o combate por turnos entra em ação. Esta abordagem torna a progressão em cenários abertos mais dinâmica e menos repetitiva por conta do combate por turnos.

Mas afinal, Shin Megami Tensei V: Vengeance é tudo isso mesmo?

Com uma nova versão repleta de adições, *Shin Megami Tensei V: Vengeance* traz uma evolução substancial aos jogos anteriores com seus cenários vastos. No entanto, a combinação com o sistemático combate por turnos oferece uma experiência cansativa e repetitiva após algumas horas de jogo. Diferente de *Persona*, não há um “social link”, por exemplo, que quebre o compasso do combate por turnos.

Portanto, embora a relação entre *Shin Megami Tensei* e *Persona* mostre que a criatura superou seu criador, já que *Persona* é um spin-off da franquia, a chegada de *Shin Megami Tensei V: Vengeance* em outras plataformas e novamente no Switch pode ser o momento de popularização global da franquia, assim como foi com *Persona 5*. Coincidência ou não, o mais recente título da franquia *Shin Megami Tensei* também tem um “5” no final.

E é claro não podia deixar de mencionar a presença da localização em português do Brasil nas legendas e na interface. Foi a primeira vez que um jogo da franquia recebeu suporte ao nosso idioma nativo, o que certamente vai chamar a atenção dos jogadores brasileiros. Um baita ponto positivo para Atlus.