O subgênero Metroidvania conquistou seu espaço dentro dos gêneros populares da indústria por trazer características em seu level design semelhantes ao clássico de PS1, Castlevania: Symphony of the Night, e títulos da franquia Metroid. Dito isso, a cada novo título almejando essa experiência, surge a dúvida se estaremos diante de algo inovador ou inédito para o subgênero, dado que experiências com essa abordagem estão cada vez mais frequentes.
Ultros é a mais nova produção que busca seu lugar dentro desse subgênero tão diversificado. Com lançamento no dia 13 de fevereiro de 2024 no PS5/ PS4 e PC, o jogo é uma experiência autoral que traz elementos inéditos e uma abordagem sci-fi, porém não chega a ser inovador.
Seja pela sua fauna e flora exóticas, seja pela sua repetição, Ultros, em alguns momentos, cativa pela sua criatividade, ao mesmo tempo em que se torna entediante com sua progressão.
Um sci-fi intrigante
Tudo começa quando nosso personagem acorda sem saída após aparentemente ter colidido sua nave no Sarcófago, um gigante útero cósmico à deriva no espaço, que abriga um ser ancestral e demoníaco chamado ULTROS. Ao longo de sua jornada neste ambiente bastante peculiar, descobrimos que estamos presos em um loop eterno de um buraco negro e precisamos explorar o Sarcófago para descobrir nosso papel nesse local estranho.
Como todo bom sci-fi, o jogo apresenta uma progressão narrativa complexa que não se preocupa em entregar todas as respostas de imediato. Muito da narrativa é revelado por meio de memórias desbloqueadas ao final de cada ciclo ou em diálogos desconexos, mas que contam a origem do Sarcófago.
Além disso, parte da história pode ser desvendada através de NPCs espalhados pelos cenários, que não apenas nos guiam, mas também fornecem detalhes adicionais sobre a flora e a fauna do ambiente.
O mistério por trás de Ultros é um dos seus pontos fortes, uma alegoria que mantém o jogador imerso na experiência metroidvania que o título oferece. No entanto, o fato de os ciclos fazerem o jogador voltar sempre ao ponto de partida pode causar exaustão. Isso se deve ao retorno ao mesmo cenário em todos os ciclos, tornando o início de cada novo ciclo tedioso e repetitivo, passando pelos mesmos cenários e NPCs até encontrar uma pequena diferença no mapa que não estava presente no ciclo anterior.
O Metroidvania mais autoral que já joguei
Tudo em Ultros possui um toque autoral persistente, desde sua narrativa confusa e intrigante até sua direção de arte. Um dos aspectos que mais me atrai, além do gameplay, em um metroidvania, é sua direção de arte, pois é ela que dá vida ao gameplay. Um gameplay sem um plano de fundo atraente não traz profundidade à experiência.
Neste caso, Ultros se destaca dos demais principalmente por sua aparência psicodélica e totalmente autoral, mas também por suas mecânicas criativas que se encaixam perfeitamente na natureza de sua narrativa.
Adotando uma abordagem com elementos de roguelike, a cada novo ciclo tudo é resetado (exceto o mapa e os locais já explorados), incluindo suas habilidades, tratadas como memórias, por exemplo.
Memórias, nutrição e mais…
Ao longo da jornada de nosso personagem, somos apresentados às memórias, que são desbloqueadas de acordo com o nível de nutrição que nossa protagonista alcança após ingerir nutrientes ou partes dos inimigos deixadas durante o combate. Para não perder essas memórias já desbloqueadas a cada novo ciclo, é possível fixá-las, garantindo que você esteja mais evoluído no ciclo seguinte.
Além da nutrição, você pode cultivar certos alimentos através de mecânicas de cultivo. Aproveitando esse estilo de mecânicas de jogos de fazendinha, Ultros torna ainda mais dinâmica e orgânica a presença dos elementos de nutrição em sua experiência, que também está repleta de ação.
Como todo bom metroidvania, há um forte senso de exploração em Ultros. A cada novo ciclo, as mecânicas ganham vida para revelar mistérios em locais anteriormente não explorados. No entanto, o que é apresentado não incentiva a exploração, já que você pode encontrar apenas um local para salvar ou um item que evita o reset das memórias durante a passagem para um novo ciclo.
Assim, não há uma grande recompensa em explorar no jogo, o que pode ser considerado uma falha em um metroidvania. No entanto, isso não estraga a experiência como um todo. Ultros é autêntico e fascinante por sua singularidade.
Saiba dilacerar os inimigos
Não basta somente golpear seus inimigos, é preciso saber golpeá-los. Em Ultros, eliminar as criaturas que vivem no Sarcofago lhe rendará nutrientes através das partes deixadas pelos os inimigos.
Deste modo, a forma que você os derrota resultará na qualidade desses alimentos. Descrito como “Variedade Prefeita”, eliminar inimigos com a maior variação de golpes possível lhe renderá melhores espólios, o que lhe fornecerá uma maior taxa de nutrientes ao quando ingeridos.
Embora desafiador obter execuções perfeitas – que exige um bom aproveitamento nos golpes com execuções variadas -, o game não traz um variado moveset. Assim, com inimigos que possuem uma maior resistência, é impossível conseguir uma execução perfeita pelo pouco portfólio de ataques.
Além disso, essa falta de variedade nos golpes é algo que fica em falta durante os combates. Essa escassez de variedade faz dos combates um aspecto simplório, mas que poderia ter mais destaque.
Cativante por sua estranheza
Um dos pontos marcantes de Ultros é, sem dúvidas, seu visual. Sua temática autêntica que exala este conceito de sci-fi vibra de formas exageradas com uma identidade autoral e marcante. Cada canto no Sarcofago traz uma arte distinta com cenários que oferecem uma flora distinta e inimigos, embora com um número bem seleto de inimigos. É impossível não ficar impressionado com o que está sendo apresentado no plano de fundo muitas vezes pela bizarrice que se estende para os designs de seus inimigos e chefes.
Por fim, toda esta exposição autêntica e atrativa com tons vibrantes é acompanhada de uma trilha sonora do visionário El Huervo, conhecido pelo trabalho em Hotline Miami. Em resumo, toda a ambientação – juntamente com trilha sonora – veneram ao apelo bizarro e enigmático da experiência narrativa complexa de Ultros. Não tenho dúvidas que o título é um dos metroidvanias mais autorias já feitos e que já joguei.
Mas Afinal, Ultros é tudo isso mesmo?
Ultros me proporcionou uma dualidade de sentimentos, oscilando entre o tédio no início de cada novo ciclo devido a algumas limitações e a admiração por sua autenticidade. No final das contas, Ultros poderia ter oferecido mais em aspectos básicos de um metroidvania, como combate e exploração, por exemplo. No entanto, destaca-se por sua originalidade e recusa em seguir padrões narrativos.
Em um gênero que se tornou o refúgio dos estúdios indies, Ultros se destaca por sua autenticidade e criatividade.
Ultros: Ultros me proporcionou uma dualidade de sentimentos, oscilando entre o tédio no início de cada novo ciclo devido a algumas limitações e a admiração por sua autenticidade. No final das contas, Ultros poderia ter oferecido mais em aspectos básicos de um metroidvania, como combate e exploração, por exemplo. No entanto, destaca-se por sua originalidade e recusa em seguir padrões narrativos. Em um gênero que se tornou o refúgio dos estúdios indies, Ultros se destaca por sua autenticidade e criatividade. – Jão