Watch Dogs Legion: A Legião não deu muito certo | Análise

Watch Dogs Legion vem desde o seu anúncio focando em duas coisas: Londres e agentes. Enquanto Londres é uma baita novidade em jogos do gênero, os agentes eram uma incógnita. Afinal, a Ubisoft poderia evoluir não somente os games deste gênero, onde GTA reina, mas também qualquer outro tipo de jogo ao entregar múltiplos protagonistas em WD Legion?  

Bem, inicialmente era essa a sensação que eu fiquei com Watch Dogs Legion. Nos testes antecipados que fizemos a convite da Ubisoft esta era a minha maior preocupação era: recrutar estes agentes será repetitivo? Ter tantos personagens diferentes ao invés de um protagonista pode perder o carisma? 

Recebemos o jogo antecipadamente das mãos da Ubisoft e este é nosso review de Watch Dogs Legion. Afinal, ele é tudo isso mesmo?

Watch Dogs Legion nos apresenta a Legião do DedSec

Enquanto o primeiro Watch Dogs focava em Aiden Pearce, o segundo nos trouxe Marcus Holloway. Em WD Legion não existe mais a figura do protag*onista. O protagonista agora é o DedSec. Assim, controlamos e recrutamos diversos tipos de personagens. A ideia da Ubisoft é dar a liberdade para que formemos o DedSec que a gente quiser. Assim, podemos recrutar qualquer um que esteja dentro do jogo, desde um médico, soldado, motorista até uma senhorinha, como a que foi mostrada nos trailers do game. Cada um com suas próprias habilidades.

Com o DedSec de volta, devemos procurar entender quem é o novo grupo terrorista que ataca Londres, explode diversas bombas na cidade e toma conta da opinião pública. Além disso, no melhor formato Far Cry 5, devemos derrubar algumas figuras poderosas. Contudo, cada figura tem sua própria tecnologia e razões para as atividades que executam. Voltaremos tanto para a parte dos agentes quanto dos vilões ainda dentro deste review.

Watch Dogs Legion traz uma Londres do futuro, com problemas do passado

Londres é uma cidade com um clima mais pesado, o que diferencia WD Legion de Watch Dogs 2. Ao mesmo tempo, o aproxima do primeiro jogo. Contudo, a ambientação de WD Legion é muito mais futurista, transformando a percepção das coisas, uma vez que você pode hackear praticamente tudo. Os drones agora são muito comuns e até parte da narrativa. A cidade é muito bem construída, mas parece sem vida. Não existem mais tantos locais para entrar, como as lojas de roupas, cafés e restaurantes do segundo game. Tudo parece se repetir demais. Falando de um jogo de mundo aberto com este tema, vejo como um retrocesso. 

Embora seja um jogo de final de geração, uma coisa fica bem clara após algumas horas de Watch Dogs Legion. O jogo não tem uma evolução tão nítida assim em termos de construção do mundo aberto. A dirigibilidade dos veículos não é tão diferente de WD2 e os NPCs se comportam exatamente iguais ao jogo anterior. Eles se jogam no meio da rua quando um carro está mais rápido e de uma forma esquisita. Não sei, me parece ter faltado um esforço neste aspecto.

Como boa parte do trânsito do game é com carros inteligentes, tudo parece muito automático. E o estranho é que quase não se vê pessoas nestes carros inteligentes. Praticamente todo táxi está vazio. 

Fora as missões principais e secundárias, não temos muitas atividades extras no mapa. Apenas um torneio de luta e um desafio de embaixadinhas (viciante inclusive). Então a sensação que fico é que Londres foi mal aproveitada em Watch Dogs Legion.

Muitos agentes, a mesma sensação

Recrutar novos agentes para o DedSec parece divertido no começo. Mas depois vai se tornando algo maçante. Por diversas vezes eu evitei recrutar novos agentes pois sabia que tudo se repetiria novamente. Geralmente a pessoa precisa da ajuda do DedSec para arrumar alguma bobagem que fez na vida, ou salvar alguém querido, pagar uma dívida, apagar dados sigilosos e afins. Você então executa a tarefa, limpa a barra da pessoa e o convida para o DedSec. Após isso, você pode usar o novo agente e suas habilidades.

Embora cada um dos agentes possua habilidades (e limitações) diferentes, nada muda tanto. Assim como em Watch Dogs 2 podemos usar drones e a aranha mecânica (que era o jumper de WD2). Com eles podemos invadir a maioria dos locais sem necessariamente colocar o agente em perigo ou dentro dos locais protegidos. Assim, se você tiver uma aranha no equipamento do agente, fazer uso das suas habilidades se torna algo muito secundário.

Inclusive podemos pegar uma espécie de dinheiro que nos permite evoluir os equipamentos do DedSec. Desta forma, teremos uma aranha mecânica mais habilidosa ainda e a chance de invadir diversos tipos de drones. Então a escolha do agente se torna algo muito secundário na experiência. 

A falta de carisma é enorme em Watch Dogs Legion, mas com uma ressalva

Ainda que possa parecer estranho, é comum termos nos videogames e cinema inteligências artificiais que se tornam carismáticas. Muitas vezes até mais carismáticos que os humanos. No novo Watch Dogs é o que a gente vê acontecer. Mesmo com tantos personagens, Bagley, a IA que nos ajuda o tempo inteiro, é o único que possui algum carisma. Todos os agentes se comportam da mesma maneira, com mudanças apenas na voz. Claro que isso pode ser uma espécie de “padrão DedSec de agir”, mas não ajuda a construir um grupo legal de personagens. E olha que Watch Dogs 2 fazia isso muito bem com poucos personagens.

A escolha de termos muitos personagens também influenciou nos diálogos. Muitas vezes é nítido como a fala dos agentes do DedSec são menores ou menos expressivos para que fosse mais simples fazer com que todos eles pudessem dizer a mesma coisa quando escolhêssemos personagens diferentes. Por exemplo: Podemos executar qualquer missão com qualquer agente. Logo, cada um deles possui uma voz diferente. Assim, todas as falas precisam ser gravadas repetidamente por cada um dos dubladores. Com isso muitas vezes as respostas são curtas e me passou a sensação que foi para economizar no diálogo que seria adaptado para tantas vozes diferentes.

Assim, este é mais um dos aspectos que deixaram o carisma dos personagens do DedSec lá em baixo. A gente não consegue se conectar com eles. Apenas com Bagley. Uma pena que um dos maiores méritos do jogo também seja o seu maior pecado.

Londres dominada por vilões diferentes com ideias insanas 

Legion nos traz um formato Far Cry 5 de ser onde devemos eliminar ou derrubar alguns vilões. Cada um deles possui suas próprias motivações e histórias que se unem a história principal. A narrativa consegue guiar bem o jogador aos vilões, ao mesmo tempo que adiciona novos rostos. Muitos personagens que surgem acabam tendo uma importância pequena, que é explorada em missões paralelas. 

Mas os vilões são bem legais. Suas histórias vão desde o vilão dominador de drones até a insanidade de usar a tecnologia de uma forma muito questionável. Além também do clã Kelley, violento e sem pudor algum. Assim, a história vai mostrando pra gente como a evolução da internet pode mexer com a cabeça dos seres humanos e criar monstros ainda piores do que já vimos. Existem momentos realmente perturbadores no jogo e este é o ponto mais alto da história.

Contudo, no geral, a história é muito fraca e praticamente não emplaca nunca. Quando chegamos nesses momentos legais, parece que jogam um balde de água fria no jogador fazendo-o repetir muitas coisas por várias vezes até ver alguma coisa legal novamente. A reviravolta mais importante da narrativa é muito previsível, embora eu tivesse esperanças de ver rostos clássicos e conhecidos que pudessem nos dar razão para a história de Watch Dogs Legion se tornar memorável. Mas não, isso não acontece, infelizmente. 

Londres é linda quando chove em Watch Dogs Legion

Um dos aspectos mais impressionantes do jogo é o visual. Mas ao mesmo tempo falha nos personagens. Ainda que existam uma variedade bem grande, várias vestimentas e estilos, cores e etc, o modelo dos personagens são meio duros, meio simples. Praticamente iguais Watch Dogs 2. Contudo o cenário está excelente! Jogamos no PC em uma GeForce RTX 3080 com tudo no ultra e as texturas do cenário estão incríveis. Mas é ao ligar o Ray Tracing que a gente percebe a grande diferença que WD Legion tem da geração atual para a nova e PC. Tudo tem reflexo e quando chove, meu amigo, fica lindo pois o chão todo reflete o ambiente.

Imagino até que Watch Dogs Legion passará a ser o novo benchmark de Ray Tracing, no lugar ou junto de Control. Fizemos uso também da tecnologia da Nvidia, o DLSS, na configuração balanceado. Mas WD Legion é pesado no que diz respeito ao uso de CPU, e mesmo em 1080P com tudo ligado, ele não manteve os 60FPS. Assim, joguei em 4K com média de 48-60FPS com tudo ligado no Ultra (CPU Intel i7 9700). Fico curioso pra ver rodando nos consoles bases da atual geração. Mas eu imagino que a grande diferença seja realmente o Ray Tracing e texturas mais simples.

Outro aspecto interessante é a trilha sonora, que sempre é destaque nesse tipo de jogo e é muito boa no novo Watch Dogs. A dublagem brasileira também está muito boa, com algumas vozes que se repetem dada a quantidade insana de personagens.

Infelizmente Watch Dogs parece ter se perdido em sua essência

Eu sou um fã de carteirinha da franquia da Ubisoft e platinei os dois primeiros Watch Dogs. Mas Legion não me traz essa vontade. O jogo é muito repetitivo, sem carisma e com muitos erros repetidos de WD 1 e 2. É esquisito não ver uma evolução mais nítida. A dinâmica de muitos agentes não funciona e não sei se deveria ser repetida no futuro. Outra grande falha é a falta do modo online, uma vez que era muito interessante estar jogando Watch Dogs 1 e 2 e se sentir parte do mundo com as atividades de hackeamento online. Embora o modo online vá chegar em dezembro, me parece que a Ubi tem planos diferentes desta vez para este modo na franquia.

Contudo, o gameplay de Watch Dogs Legion e o visual no PC me faz querer jogar mais e quem sabe, terminar todas as atividades extras. Jogar com a Aranha é muito divertido e hackear os drones de diferentes tipos também. Este é o maior mérito do jogo em meio a tantos erros. Mas nada disso salva WD Legion de ser o mais fraco entre os três games lançados até agora. Talvez isso mude com a chegada do Season Pass e o DLC de Aiden Pearce, quem sabe. 

*Esta análise foi desenvolvida através de um código de review enviado gratuitamente pela Ubisoft para PC. Jogamos na GeForce RTX 3080 emprestada pela Nvidia para fins editoriais.