Steven Spielberg é o diretor que mais filmes tem na lista dos 100 Melhores Filmes Americanos de Todos os Tempos, feita American Film Institute. Com sucessos como “A Lista de Schindler”, “Jurassic Park”, “E.T. – O Extraterrestre”, “Tubarão”, entre outros no currículo, o último filme do cineasta é a sua própria autobiografia, “Os Fabelmans”, indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Direção deste ano.
Por sua vez, George Lucas é produtor cinematográfico, roteirista e diretor de cinema. Ele está, hoje, entre as pessoas mais ricas e influentes do mundo e é conhecido por ter criado as franquias “Star Wars” e “Indiana Jones”.
O que os dois tem em comum – além da bem sucedida carreira no cinema e da relação de amizade e parceria ao longo dos anos? Ambos fizeram uma profecia que parece estar se cumprindo agora.
O que eles disseram?
Há 10 anos atrás, os dois participaram de um debate sobre o futuro da indústria de entretenimento com estudantes de cinema e foram categóricos em suas colocações.
Na época, Spielberg disse: “O que vai haver é uma implosão. Com tantas formas de entretenimento competindo pela atenção do público, será mais fácil gastar US$ 250 milhões num único filme do que produzir vários de orçamento pequeno. Talvez haja apenas meia dúzia de grandes lançamentos por ano. O restante nem irá para os cinemas, mas direto para a televisão via internet, e o público irá comprá-los via serviços on-demand.”
Já segundo Lucas, na mesma ocasião: “Haverá menos salas de cinema, e serão salas grandes. Um ingresso irá custar 100 ou 150 dólares, como acontece hoje no teatro. Os grandes filmes ficarão em cartaz o ano inteiro, como os shows da Broadway.”
O que está acontecendo?
Uma rápida análise nos dados de bilheteria deste ano e concluiremos que filmes com potencial para blockbuster (ou seja, obras muito populares e bem-sucedidas financeiramente), fracassaram. É o caso de “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, “Shazam! 2”, “Dungeons & Dragons: Honra entre Rebeldes”, “The Flash”, “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”, entre outros, incluindo o live-action de “A Pequena Sereia”.
Considerando o custo destes filmes com produção, distribuição e divulgação, os resultados de bilheteria foram abaixo das projeções.
Uma das possíveis razões para este movimento é, justamente, o aumento da distribuição via streamings. As pessoas se acostumaram a assistir filmes em casa e, em grande parte dos casos, preferem esperar até que eles cheguem aos serviços. Isso muda somente quando não querem perder um lançamento – como por exemplo, o recente “Barbie” – que é, até então, a segunda maior bilheteria do ano, ficando atrás apenas de “Super Mario Bros. – O Filme”).
A redução do público nas salas de cinema, faz com que as empresas que administram as salas aumentem o valor dos ingressos. Consequentemente, isso tornou a experiência menos acessível para grande parte do público e diminuindo a chance de mais filmes terem melhor desempenho nas bilheterias.
Uma outra evidência disto, tomando como base as grandes cidades do Brasil, é a quase extinção dos cinemas de rua. Isso traz, como consequência, uma grande perda cultural também.
O cenário é reversível?
É fato que o custo dos filmes está cada vez maior, e sempre há uma expectativa velada de que todo lançamento seja um grande acontecimento. As grandes franquias e filmes pop (os de super-heróis, por exemplo) parecem ter um público cativo – mas nem só de alto orçamento e confiança no público fidelizado se faz uma grande bilheteria. Bob Iger – CEO da Disney, falou há poucos dias sobre a decepção com os resultados recentes e o foco em melhorar a qualidade das produções futuras, para trazer o público de volta aos cinemas.
Felizmente, há esperança. Além da visão sobre o futuro do cinema apresentada por Lucas e Spielberg, eles também declararam que “As pessoas sempre vão querer boas histórias, isso nunca vai mudar.” Mesmo com as greves no maior celeiro de filmes do mundo, Hollywood, o cinema está longe de acabar. A preocupação com a qualidade é o primeiro passo para manter o público interessado nas produções.
O fomento de outras indústrias de cinema (a nacional, por exemplo), a valorização de filmes menores ou de orçamento inferior (“Mario Bros” teve um orçamento relativamente baixo, na comparação com outros), a acessibilidade às salas de exibição e a estratégia de lançamento articulada com os serviços de streaming são outras soluções que devem estar na esteira, para manter a indústria relevante e o público satisfeito.