Publicado pela IndieArk e desenvolvido pelo estúdio Yeo, junto com sua equipe, os mesmos responsáveis por “The Friends of Ringo Ishikawa“, “Fading Afternoon” é um jogo de beat’em up 2D que conta a história de um yakuza chamado Seiji Maruyama, que passou boa parte de sua vida atrás das grades. Ao ser libertado em um mundo diferente do que viveu, ele terá que lutar pelo seu futuro e pelo sustento de sua própria maneira.
Conhecido como “Gozuki” (um dos generais demoníacos da mitologia budista), ele é a força que seu oyabun (chefe) conta. No entanto, há uma coisa que seu aniki (irmão mais velho) não leva em consideração: Maruyama está envelhecendo, está doente, e o mundo que ele conheceu já não é mais o mesmo. Assim, em sua liberdade, ele tem a oportunidade de tentar novamente no mundo do crime, estabelecendo-se em sua família conhecida como Azuma, ou buscar uma vida afastada desse caos.
É nesse contexto que o jogador embarca em uma espécie de “simulador de vida”, acompanhando o protagonista em suas tarefas cotidianas. E, enquanto desempenha suas responsabilidades como membro da Yakuza, Maruyama terá que proteger territórios de outros clãs, estabelecer a supremacia dos Azuma em determinados locais e caçar os chefes (os shatei) de cada família rival.
Um jogo que “não te pega na mão”
O que realmente se destaca em Fading Afternoon é a atmosfera que o jogo consegue criar. Com uma pixel art detalhada e deslumbrante, acompanhada por uma trilha sonora de jazz que se encaixa perfeitamente no clima do jogo, os jogadores têm total liberdade para explorar a cidade e participar de diversas atividades que vão além das rivalidades entre as gangues. Isso inclui jogar beisebol, sinuca, desfrutar de jogos de cassino e até mesmo passar momentos tranquilos pescando sozinho.
No início, os jogadores podem se sentir um tanto perdidos enquanto exploram a cidade. O segredo de Fading Afternoon reside no fato de que tudo está intrinsecamente ligado à sua narrativa. Portanto, prestar atenção aos diálogos e aos personagens é a chave para compreender melhor esse mundo e descobrir como avançar na história de Maruyama. Este é, de fato, um dos aspectos do jogo que se destacam em relação a outros títulos: ele não segura a mão do jogador, não mostra exatamente o que deve ser feito, mas, em vez disso, oferece a liberdade de forjar seu próprio caminho.
No entanto, algumas escolhas de design, como gatilhos da história e mecânicas pouco claras, podem tornar a experiência um pouco frustrante para alguns. Não apenas isso, mas a oportunidade de explorar e desfrutar dessas atividades é relativamente limitada devido a uma mecânica central do jogo. Nela, o personagem do jogador perde gradualmente parte do seu limite máximo de HP a cada dia que passa e ao alcançar determinados pontos na história. Assim, com a saúde de Seiji se deteriorando (por conta de um câncer no pulmão), é necessário aproveitar ao máximo os dias disponíveis para ampliar o controle de sua família. E, como em um típico jogo de “beat’em up”, Seiji faz isso enfrentando outras gangues.
Comandos simples, mas lutas desafiadoras
No geral, o jogo oferece uma lista relativamente curta de combos que podem ser usados, além de incluir uma pistola e a possibilidade de roubar as armas de seus oponentes durante os combates, como katanas e facas. Contudo, é o ritmo das lutas que pode ser extremamente desafiador. O mapeamento dos controles é confuso e, conforme o jogo avança, novos inimigos surgem, exigindo mais atenção e estratégia por parte do jogador. Essas sequências de combate são, de longe, a parte mais divertida de todo o jogo, com animações muito fluidas e efeitos belíssimos.
Assim, a medida que o jogador vai derrotando os inimigos das famílias rivais, é possível ver, no mapa, o controle dos locais mudando. A princípio, é escolhendo o caminho da violência que a história irá seguir, com o jogador recebendo alvos regularmente para assassinar em diferentes regiões da cidade, enquanto ainda precisa gerenciar áreas já controladas e conquistar outras.
Porém, apesar de toda a diversão de ver braços quebrando e voadoras na cara, infelizmente as lutas acabam ficando repetitivas com o tempo, e o relógio não para. A sensação que o jogo transmite é que há sempre pouco tempo para realizar o que precisa ser feito e, caso não seja feito corretamente, o excesso de péssimas escolhas fazem pensar, várias vezes, em reiniciar o jogo.
Um jogo belíssimo e melancólico
Fading Afternoon entrega uma história envolvente sobre a vida na Yakuza e, dentro de suas limitações, consegue desenvolver de forma satisfatória sua temática melancólica focada em Seiji. As lacunas deixadas pelos diálogos relativamente simples acabam preenchidas pela atmosfera da cidade, o cuidado com os detalhes e a excelente trilha sonora. Utilizando pixel art que remete aos jogos de 16 bits, as ruas urbanas japonesas ganham vida com nuvens em movimento, detalhes de cenário e uma boa variedade de ambientes para explorar.
Cada local que Seiji visita possui seu próprio charme, com mudanças climáticas, como chuva, sol e neve. O tempo segue um esquema diferente de outros jogos, onde o dia, equivalente a uma semana no jogo, avança de acordo com as atividades do protagonista. Assim, quando chega a noite, é hora de voltar para casa e esperar pelo próximo “dia”. O dinheiro, por sua vez, acaba sendo obtido derrotando inimigos e realizando tarefas para a família, com os jogadores podendo gastar tanto em momentos de lazer quanto em necessidades.
No meio disso, a vasta trilha sonora desempenha um papel crucial na imersão do jogo. As composições abrangem uma variedade de gêneros, incluindo jazz, rock, blues e outros, proporcionando uma experiência auditiva incrível.
Veredito
Fading Afternoon é um beat’em up 2D que se destaca pela sua atmosfera envolvente e melancólica. O jogo apresenta um pixel art belíssimo e uma trilha sonora excelente que preenche todo o mundo do jogo. O principal desafio reside na administração da saúde de Seiji, que diminui com o tempo, enquanto ele realiza missões para expandir o domínio de sua família. Além disso, a falta de orientação sobre o que fazer e o mapeamento confuso dos controles prejudicam a experiência.
Fading Afternoon estreou para PC via Steam no dia 14 de setembro de 2023 com localização em português brasileiro.
