Redfall está entre nós após alguns adiamentos e chegou a hora de falarmos do game. Agradecemos a Bethesda pelo envio antecipado do jogo para nosso review. Mas antes do jogo, vamos falar do estúdio Arkane. Poucos estúdios conseguem ganhar a confiança do público ao ponto de que, em qualquer lançamento, exista a empolgação à frente do ceticismo. Em 2012, quando joguei Dishonored, eu fiquei apaixonado pelo jeito diferente de lidar com o gameplay de stealth e com o loot que o Arkane Studios entregou com essa belíssima franquia. Em 2017, com a Arkane Austin, recebemos Prey. Não demorou muito tempo para que o jogo se tornasse um grande hit e um clássico imediato.
No ano passado novamente a Arkane Lyon (a mesma de Dishonored) nos trouxe Deathloop. Embora não tenha agradado todo mundo e eu penso que é um jogo incompreendido por trazer uma experiência distinta, mesmo indicado ao GOTY, eu já sentia um cansaço em algumas coisas que a Arkane faz, principalmente a Inteligência artificial dos inimigos. Mas parece que foi apenas comigo, já que o jogo foi muito bem com a crítica.
Pois bem, deu pra entender que o histórico da Arkane, tanto a Lyon quanto a Austin, são muito positivos e vem muito antes do hit que foi Dishonored. Então Redfall tem uma carga enorme de experiência que pode culminar em uma ótima aventura? Não é bem assim…
Redfall, uma cidade dominada por Vampiros que querem ser Vampiros
Redfall se passa em uma cidade fictícia de mesmo nome que após alguns experimentos com uma garota que possuía um sangue “diferente” e que pensava ser a cura para a humanidade, na verdade foi feita de fonte para pessoas maléficas alcançarem a imortalidade e o poder. Assim, não demorou muito para que a cidade de Redfall ficasse dominada pelos Vampiros, que até encontraram uma forma de barrar o poder do sol para andarem de dia na cidade. O jogador precisa escolher entre 4 personagens iniciais (outros chegarão via DLC) para impedir os planos maléficos de uma organização e pessoas ligadas a ela..
Desta forma precisamos reunir os humanos remanescentes que ainda tentam lutar contra as forças vampíricas e enfrentar inimigos formidáveis. O mais interessante é que em todos os momentos parece que os vampiros são pessoas ambiciosas e que gostam do poder e não vítimas de outros vampiros. Quase que como um clube que só entra quem é convidado. Existem também os cultistas, inimigos humanos que protegem e veneram os vampiros.
Ainda que tudo isso não esteja totalmente contido na narrativa do jogo, que inclusive é bastante fraca e usa de cenas estáticas para mostrar ao jogador o que pretende nos contar, fica implícito em conversas e documentos que encontramos nos cenários.
Redfall é um jogo de nova geração com cara de que caberia num Xbox One Fat
Ainda que Redfall seja um jogo focado na nova geração do Xbox e sendo lançado para PC, é construído na Unreal Engine 4, o que não é um problema já que vimos muitos games usando essa engine com gráficos excelentes. Mas o problema de Redfall é que ele possui uma arte simples demais, repetição de cenários e muitos problemas visuais que chegam a irritar. E olha que estou jogando em uma GeForce RTX 4080 e mesmo assim Redfall é pesado, cheio de slowdown, stuttering e muitos efeitos de pop in em quase tudo do cenário. Joguei com tudo no Épico, testei no alto, no médio, com resolução diferente e nada fez melhorar o Frame Rate inconstante que Redfall possui. Fora que nada em seu gráfico faz jus ao poder do Xbox Series X, por exemplo. No PC, ao menos, temos o DLSS pra deixar as coisas mais leves.
A cidade é um mapa aberto que não é tão grande assim ao ponto de gerar tantos problemas e é muito estranho ver tamanho desleixo em quase tudo que Redfall apresenta. Certamente é um jogo que precisava ao menos de mais uns 6 meses de polimento para chegar aos jogadores um pouco melhor em termos de desempenho.
Felizmente e parte sonora é boa, com uma dublagem excelente, ainda que os personagens sejam muito desinteressantes e sem carisma. Inclusive existem personagens que devem ter ganhado carisma por conta da dublagem brasileira. As músicas não são incríveis, mas fazem seu papel com exceção a uma música de suspense que é irritante demais.
Ok, existem problemas de desempenho, mas Redfall segura as pontas com seu Game e Level Design?
Definitivamente o desempenho não é o único problema de Redfall. Logo no começo pude ver o quanto o game da Arkane e Bethesda não estava pronto. Os inimigos não andavam no cenário, eles deslizavam como se tivesses de patins (talvez se realmente estivessem de patins seria incrível). Do nada, os personagens se trombaram e ao invés de se reconhecerem e contornarem uns aos outros, eles se batiam, caiam no chão, levantavam e caiam novamente e isso virou um looping que parecia um episódio dos Trapalhões. Além disso, os inimigos humanos se tornam quase o pior problema de Redfall uma vez que eles são extremamente idiotas, erram tiros fáceis, demoram pra tomar uma ação ou até mesmo para identificar que o jogador está por perto e apenas se tornam desafiantes se atacam em grupo depois de uma 10 horas de jogo.
Já os vampiros possuem mais variedade de inimigos, embora não sejam tantos assim. Os vampiros normais, que dominam as ruas de Redfall, atacam sempre do mesmo jeito e também se tornam um problema apenas quando atacam em grupo. Já os vampiros especiais são bem mais legais e se tornam um grande desafio se o jogador não entender seus padrões, podendo ser mortais!
Um pouco mais pra frente o jogo nos apresenta um inimigo que vimos em um trailer, chamado Trovão. Este formidável inimigo é uma espécie de agente do poder dos deuses vampiros e é enviado para exterminar o jogador quando ele mata muitos vampiros especiais, havendo até um medidor do quanto os deuses estão irritados contigo. saber gerenciar essa barra é algo que tornou o game design melhor do que no começo do jogo. Assim, enfrentar o Trovão é algo bem desafiador e até divertido, exigindo que você saiba exatamente o que está fazendo ou será morte certa.
Missões repetitivas é o pior problema de Redfall
Quando você se propõe a criar um jogo de videogame que conta uma história e que possui uma estrutura de missões, o pior que pode acontecer é que os erros que os videogames criaram e se repetiram por anos, aconteça em seu game. Redfall não se preocupa em nenhum momento em te jogar em missões idênticas, buscar por chaves iguais para portas iguais em locais iguais. Existem missões principais com cara de secundárias e totalmente sem criatividade. Momentos críticos da narrativa, como a morte, são tratados como algo comum e sem importância. Infelizmente contar uma história e fazer o jogador se empolgar com ela não é algo que Redfall consiga fazer. A criatividade na hora de gerar as missões foi totalmente descartada do projeto pelo visto.
Redfall não é um Back 4 Blood por exemplo, ele está mais para um Borderlands, com o mapa possuindo locais de interesse e você sai do esconderijo para entregar alguma coisa, buscar alguma coisa ou matar alguma coisa. A bússola não funciona bem em nenhum momento e isso é grave!
Apenas em alguns momentos a narrativa se torna um pouco interessante, mas conta a história com cenas estáticas e totalmente sem graça. Algumas missões secundárias poderiam brilhar, mas sempre possuem apenas algum vampiro com nome diferente e exatamente igual aos que encontramos durante o jogo.
Uma coisa ao menos é boa no que diz respeito às missões ou como as abordamos e é o Level Design. Isso é algo que a Arkane sempre fez bem, entregando ao jogador diversas formas de entrar em um objetivo ou de finalizar uma missão. Mas não é o suficiente para tornar o jogo divertido, pois não há sinergia com o resto.
Algumas coisas se salvam em Redfall, mas é o suficiente?
Ainda que meu review esteja totalmente negativo ao jogo, eu me diverti bastante com Redfall em vários momentos por conta do gunplay. Eu gostei bastante do efeito que o tiro tem nos inimigos e principalmente da variedade das armas, embora eu tenha me prendido a usar armas mais comuns como pistolas, escopetas, fuzis e snipers. Mas ao entender que a lança estaca por exemplo é praticamente mortal e utilizá-la em momentos chave, me trouxe um elemento de estratégia que eu não esperava pro jogo. Você certamente vai se sentir com vontade de jogar as missões do jogo mesmo com tamanha falta de criatividade e senso de repetição unicamente por conta do feeling que o jogo te traz ao usar as armas.
O loot das armas também é bem legal, fazendo você olhar os stats sempre que possível e experimentar novas formas de jogar. Enfrentar os vampiros lhe concederá experiência para evoluir suas habilidades e a árvore de habilidades é bem legal. Embora existam muitas habilidades que não parecem tão úteis e demore bastante para evoluirmos. Podemos também usar também alguns itens especiais para melhorar nosso combate, encher a vida ao derrotar um vampiro e muito mais.
Outro fator que nos trouxe uma boa dose de diversão, mas também de problemas, foi o cooperativo. É bem legal enfrentar os vampiros em coop, mesmo com o grande aumento de vida que os inimigos ganham nesse modo. O balanceamento até não me pareceu justo quando jogamos cooperativo. No entanto, o grande problema aqui são os bugs que passamos. Desaparecimento da mira nos forçou a desfazer a sala e convidar novamente os jogadores, até quedas de servidor e diversos problemas de lag e mais slowdown no jogo.
Definitivamente Redfall não está a altura da história da Arkane
Redfall infelizmente não é um jogo incrível como poderia ser e está longe da qualidade que esperamos da Arkane, da Bethesda e do Xbox. Nos consoles ele não faz uso total do poder do Xbox Series X |S. Mas visto a vasta quantidade de problemas no PC, podemos determinar que o estúdio não conseguiu fazer um bom trabalho de otimização. Se ao menos o mapa fosse bom e os inimigos mais inteligentes, talvez o desafio pudesse salvar o jogo. No entanto, algo determinante para que a experiência se torne medíocre é a quantidade absurda de missões sem graça. A repetitividade é enorme e tudo é totalmente sem criatividade.
Redfall me passa a sensação de feito às pressas, que teve problema em seu desenvolvimento ou que não conseguiu construir o que as mentes por trás do jogo idealizaram. Um grande tropeço da maravilhosa Arkane. Espero de verdade que não sofra as consequências por este jogo. Que possam, assim como já ocorreu com Sea of Thieves, se beneficiar do Gamepass para se transformar em algo totalmente diferente. Quem sabe mais rico em conteúdo do que é agora em seu lançamento. É Uma pena o que eles oferecem neste momento.
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Nota 6
