Shenmue 3, o milagre dos videogames·.
A trajetória da franquia Shenmue no mundo dos games é inovadora e marcou uma época. Criado pelo o renomado produtor de jogos Yu Suzuki, a franquia chegou com um exclusivo de DreamCast, em 1999, e de cara impressionou por trazer mecânicas além de seu tempo.
Confira nossa nossa análise da versão HD de Shenmue 1 e 2.
Sobretudo, Shenmue 1 apresentou uma narrativa totalmente cinematográfica repleta de mistério, reviravoltas e muitos combates – lembrando os filmes japonese de artes marciais daquela época. No entanto, o que fez de Shenmue algo memorável aos jogadores foi seu cenário totalmente interativo. Todos os locais presentes dentro do game apresentavam pontos de interação com minijogos, compra e venda de itens e diálogos com NPC’s. Tal conceito que anos depois serviu de base para franquias de sucesso como: GTA, Yakuza e entre outras. É fato, que o impacto da franquia de Yu Suzuki dentro da indústria é algo incontestável. E este feito deu a série uma continuação ainda melhor. Shenmue 2 chegou em 2001 para DreamCast e o primeiro Xbox.
Entretanto, nem tudo que inova faz sucesso ou agrada uma totalidade. A inovação da franquia e a mente visionária de Yu Suzuki não foram capazes de trazer resultados satisfatórios para a Sega. Assim, o desfecho da saga de Ryo Hazuki se tornou incerta.
18 longos anos se passaram, e mais precisamente em 2015, 14 anos após o lançamento do segundo game, uma sequencia de Shenmue foi anunciado em parceria com o KickStarter. Durante a E3 2015 na conferencia da Sony, Yu Suzuki subiu ao palco para anunciar que Shenmue 3 iria acontecer, mas dependeria de seu apoio. Horas depois, Shenmue 3 já possuía uma considerável renda para iniciar seu desenvolvimento. Depois de 4 anos de desenvolvimento e adiamentos, finalmente, a terceira parte da jornada de Ryo Hazuki está entre nós. Agora, só nos resta saber se este sonho utópico e está longa espera valeu a pena. Acompanhe-me nesta análise e veja o que achamos.
Será desta vez Ryo Hazuki?
Para quem jogou os games anteriores, é sabido qual a motivação de Ryo na franquia. Mas para quem nunca jogou os games anteriores, o menu principal de Shenmue 3 traz um resumo em forma de vídeo dos acontecimentos dos títulos antecessores. Deste modo, não precisa se preocupar, até porque toda a mitologia criada por Shenmue é de fácil compreensão.
Este terceiro capítulo vai dar continuidade aos eventos do segundo game de forma contínua, como se está sequencia já estivesse pronta. Mas sobre isso falarei depois. Ryo Hazuki ainda está à procura do assassino de seu pai e desta vez, ao que parece, teremos este grande encontro. Muito mistério e reviravoltas, e desencontros nos aguardam nesta nova jornada. Em suma, Shenmue 3 mantém a fórmula com um enredo repleto de mistério e muitos diálogos. Sobretudo, sua trilha sonora faz desta aventura algo gostoso de acompanhar. Embora seu foco seja em um tom mais leve, suas reviravoltas e seu desenvolvimento narrativo nos cativa e nos empolga.
Em paralelo, todo o escopo do enredo é coerente e segue uma linha de raciocínio interligando eventos anteriores e apresentando fatos nunca explorados antes na história. De fato, descobrir isso e ver o que foi revelado somente agora, e que não deixa de fazer sentido, é algo incrível. Consequentemente, novos personagens foram inseridos cada um com sua relevância para o desenvolvimento narrativo. Por outro lado, esta evolução narrativa é lenta e sistemática. Há um processo, existe um contexto e etapas até chegar ao clímax.
Em resumo, Shenmue 3 mantém os “pés no chão” e entrega uma narrativa sucessiva dos títulos anteriores. Embora lenta, como de costume, mas sempre que avançamos nos sentimos mais empolgados e cativados.
Ainda mais vivo e interativo
Essa cultuada franquia é conhecida por trazer aos videogames uma experiência, ao invés de uma simples jogatina. Este conceito que nos impactou em seu primeiro game e que nos acostumou no segundo, agora veio ainda mais forte neste terceiro jogo. De fato, a série simula uma jornada real onde nosso personagem tem uma rotina com deveres e afazeres onde ambas as atribuições compõem toda a estrutura de gameplay. Além, é claro, das missões principais e secundárias – que também fazem parte da rotina do personagem.
Em Shenmue 3 está fórmula foi expandia e aprimorada. O título traz uma maior variedade de atividades interativas, algumas já conhecidas e outras inéditas. Pescas, lutas, treinos, mini games e entre outras compõem a jornada nas horas vagas. Vale ressaltar, que o convívio social é algo que o título faz questão mostrar. A vila, um dos cenários do game, é cheia de vida com pessoas treinando, comercializando produtos, conversando, crianças jogando bola e outras ações que mostram o quão vivo e imersivo o jogo é.
Ademais, há uma grande variedade de lojas, de vários tipos de finalidade como: lojas de troca, de penhores, de pesca, barracas de frutas e etc. Shenmue 3 te oferece vastas opções de interações que influenciam na sua jornada. Outro detalhe a se destacar são as missões secundárias. Estas atividades paralelas apresentam diferentes situações cheias de contexto que não são nada chatas de fazer.
Vale destacar, que algumas atividades tem a função de evoluir os atributos de Ryo como, por exemplo, os treinos de Kung Fu. Quando treinamos nosso nível de poder de ataque, resistência e kung fu – os únicos presentes – aumentam conforme praticamos. Acima de tudo, é algo crucial durante sua progressão do game tornando assim algo rotineiro na lista de tarefas que você tem pela a frente.
Quem é Rei nunca perde a majestade
Yu Suzuki, idealizador da franquia Shenmue, fez de seus games uma referência no quesito direção de arte. Mesmo com as limitações da época, fomos surpreendidos com o que ele nos mostrou usando apenas 128-bits. Todos os cenários, as paisagens, a cultura e os mitos apresentados nos encantaram e até hoje nos lembramos de tal proeza. Em Shenmue 3 não foi diferente, é ainda melhor.
Desta vez, temos consoles mais robustos e engines que facilitam a mente criativa dos desenvolvedores. A direção de arte de S3 é impecável, sejam os detalhes, a forma com o as paisagens e os ambientes são apresentados é de um total esmero de quem ama o que faz. O título apresenta cenários variados desde locais mais vegetativos, livres da influência urbana, até locais totalmente urbanizados. Cada um destes, bem detalhados e orgânicos, onde comerciantes vendem seus produtos, NPC’s vivem suas rotinas e nós compactuamos com este ecossistema.
Os gráficos do título não são condizentes e bem abaixo do que estamos acostumados a ver nesta geração. No entanto, é o suficiente para nos impressionar com detalhes em sua ambientação. Seja no por do sol, ambientes totalmente dominados pela a natureza, enfim são detalhes que agregam em nossa experiência visual.
Em suma, Shenmue é fruto de uma soma de aspectos que no final se completam e tem sua importância. E neste terceiro capitulo este prisma foi mantido.
Se você busca aspectos inovadores, este game feito para os fãs em sua totalidade
Em meio à nostalgia e toda a magia que Shenmue carrega consigo, o título traz um aspecto bem ultrapassado. Certamente, Shenmue 3 foi um projeto feito para o sucessor do DreamCast ou para o PS3, ou Xbox 360. A sensação que temos é que Yu Suzuki já tinha todo o esqueleto da sequência pronta e o acabamento era o que, realmente, faltava.
Shenmue 3 não muda em nada em relação as suas mecânicas de gameplay, se comparado com os títulos antecessores. Tanto a movimentação travada, quanto a estética do level design mantiveram os mesmos padrões – o que prova que Shenmue 3 era uma sequência para geração de consoles anterior. Esta apresentação trivial e tradicionalista, característica franquia, é impressa no visual dos personagens e em suas reações. Sobretudo, o que incomoda nesta decisão de designer é justamente manter aspectos ultrapassados para os dias de hoje.
Outro detalhe importuno é o designer da câmera, que também não trouxe nenhuma evolução. Durante os combates ela fica fixa e não consegue seguir os movimentos do personagem. Tudo isso piora quando há confrontos com dois inimigos no cenário, onde ela não se encontra e acaba nos prejudicando.
Em suma, mercadologicamente falando, optar por uma abordagem mista com aspectos clássicos e uma pitada de mecânicas atuais seria a fórmula perfeita para atrair os dois públicos – os fãs e os que ainda não conhecem a franquia. No entanto, Shenmue 3 foi um jogo feito para os fãs, para compensar estes longos anos de espera e desilusão, e Yu Suzuki estava ciente do que desenvolveu. Em sua totalidade o título é uma carta de amor para seus fieis fãs e pode não despertar interesse ou frustrar a experiência para os jogadores atuais.
O que podemos esperar da franquia Shenmue a partir de agora?
Yu Suzuki já declarou que Shenmue 3 não será o ultimo game da franquia. De acordo com o diretor, a série ainda tem muita lenha para queimar e só temos a agradecer por tal declaração. E a próxima geração de consoles pode ser o caminho ideal para a franquia ganhar destaque novamente, ao invés de ser lembrada pelo o que já fez. No entanto, para isso a franquia deve se moldar aos padrões atuais e buscar inovar em mecânicas que agradem aos fãs e aos jogadores de primeira viagem.
Em suma, Shenmue 3 é nostálgico e traz, novamente, toda a magia característica da franquia. Sobretudo, é uma experiência gostosa e única no universo criado por Yu Suzuki embora simples, porém marcante. Entretanto, este senso nostálgico não se encaixa com os dias atuais. Mesmo sendo feito para os fãs, suas mecânicas e aspectos mantidos dos games anteriores incomodam. Dito isso, o título é a sequência que os fãs tanto esperavam, mas talvez não para os demais jogadores. E que se ele estivesse sido lançado em 2003 teria tido uma melhor recepção. Infelizmente estamos a 18 anos desde o último game lançado e Shenmue 3 fico para trás.
